Papo Cabeça: Nós duas.

Prédio novo. - Cap. 02

𝙲𝚊𝚙. 𝙸𝙸 : 𝖯𝗋𝖾́𝖽𝗂𝗈 𝗇𝗈𝗏𝗈.

📍Lar de Ipanema.
🕰️ 12:30.

Minhas coisas já haviam chegado no apartamento depois de uns dois dias, consegui arrumar tudo do jeitinho que eu queria. A sala com todos os porta-retratos que eu queria, várias das minhas filhas (plantas), quadros, a grande vitrola de meu avô e seus discos, e o meu gatinho Chico! (Sim, vem de Chico Buarque.), meu gatinho preto dos olhos verdes, digo que ele é filho da Lua. Tava tudo tão lindo.. Meu quarto era meu lugar favorito, ele tava no meu jeitinho, eu realmente estava realizada! Tudo que eu sempre sonhei se tornando realidade parece até coisa de novela, eu ando me sentindo muito personagem principal ultimamente, te juro.

Era papo de meio-dia já, e eu ia colocar as caixas da mudança no lixo do prédio. Tive que descer de escada, e olha, nunca mais invento de descer oito andares com três sacolas de caixa nas mãos, dá muito trabalhoso. Assim que desci até o hall prédio, fui em direção ao estacionamento, onde ficava o lixo principal, deixei as caixas lá e assim subi. Voltei de elevador (obviamente), mas o mesmo acabou parando no terceiro andar e com isso acabou entrando uma senhora, aparenta ter uns 82 anos, que carregava uma sacola que tinha uma marmita e junto ao um lovo de crochê com um agulha, oque me lembrou muito a minha avó. A mais velha sorriu pequeno assim que viu o oitavo andar já apertado.

- Você é a nova moradora do 823, minha filha? - Perguntou a senhora me olhando, mas franziu o cenho assim que me viu. - Menina jovem, bonita.. Mora sozinha? - Perguntou claramente curiosa.

- Sim, sou eu. Cheguei ontem. - Respondi com um sorriso, se reencostando no elevador, rindo baixinho assim que ouvi o elogio. - Obrigada, e sim, eu moro sozinha.

- Queria eu ter tido minha independência nessa idade. Sou Déia, moro no 826 com minha neta, pode falar comigo se tiver alguma dúvida sobre o prédio. - Respondeu ela gentilmente.

- Claro, Claro! Não vou deixar passar, sou Carolina, mas pode me chamar de Carol. - Respondi com um sorriso. Meu Deus, eu amo idosos.

- Carolina.. Nome bonito, menina. Adorei o cabelo. - Falou ela enquanto parecia um todo meu rosto, com um olhar gentil e receptivo. - Gosta de bolo de laranja? Vou colocar um no forno daqui a pouco, depois eu peço para minha neta te levar um pedaço.

- Nossa, obrigada! Na verdade eu tava procurando algum lugar pra almoçar hoje, eu não sou do Rio e ando meio perdida, cê consegue me indicar? - Perguntei enquanto a olhava, vendo o elevador se abrir e logo saindo, vendo que a mesma veio atrás.

- Olha, tem a menina do 310, ela ta fazendo marmita pra ajudar a filha a pagar o intercâmbio que ela tá fazendo, a comida é gostosa. É dez reais, e é bem completa. - Respondeu enquanto virava o corredor junto comigo, parando em frente a minha porta. - Mas tem o restaurante que minha neta trabalha, é aqui perto na... Ai, olha eu esquecendo as coisas de novo.. Rua Domingos Garcia, 108!

- Ah, sim, muito obrigada pelas indicações, Dona.. Déia? - Respondi com confusão, logo começando a rir.

- Isso, Déia. Não esquece do bolo de laranja, hein. - Respondeu a mesma que começou a caminhar até sua porta.

- Claro, pode deixar! Tenha uma boa tarde! - Respondi em um sorriso, vendo a mesma logo adentrar e eu entrei também.

Me desculpe tal neta da Dona Déia, mas eu vou roubar sua avó. Ela me lembra muito a minha avó, saudades de Dona Maria. Minha avó tem 87 anos, quase na casa dos 90 e apesar de suas doenças cardíacas e circulatórias, posso te dizer que ela tá melhor que eu. Minha avó sempre foi muito pé no chão, e eu sempre admirei muito isso, e ela sempre me apoiou, mais do que meus próprios pais. Sim, é triste dizer isso, mas é a verdade. As vezes eu sinto que meus pais não queriam que eu vivesse minha vida, eu odiava ficar em casa, final de semana pra mim era um inferno. Enfim... Saudades, da minha avó, e dos meus pais, mas principalmente da minha avó.