Derry, Maine.
Não sei exatamente o que me trouxe de volta a Derry, mas honestamente, isso é masoquismo. A cidade sempre me deixou bem nervoso, como se ela estivesse prestes a me engolir. Tudo aqui parece com menos cor, até mesmo no verão. Faz quatro anos desde que fui embora, e nunca pensei que voltar aqui seria tão estranho. Mas agora estou aqui, jogado na minha antiga cama, na casa que um dia foi da minha família, - não apenas do meu pai - olhando para a janela, como se eu fosse encontrar algum tipo de fantasma.
Eu devia ter uns 12 anos quando deixei tudo isso para trás - o Clube dos Otários, as piadas sem graça (ok, talvez elas ainda estejam comigo) e... O Eddie.
Sempre o Eddie. Eu nunca pensei muito sobre o que eu senti por ele. Quer dizer, eu pensava, mas era mais fácil fingir que era apenas amizade. E assim, acabei passando anos jogando essas memórias para algum lugar em um canto escuro da minha cabeça.Mas agora, com meu velho diário em minhas mãos, é como se eu estivesse prestes a abrir uma máquina do tempo e voltar diretamente a 4 anos atrás. Eu o encontrei no fundo do meu antigo armário, em baixo de diversas tralhas que nem sabia que eu havia deixado aqui. A capa já estava toda desgastada, mas a letra rabiscada de um garoto confuso estava lá, intacta. Minha letra.
É bobo, não é? Nunca assumi para mim mesmo que era um diário. Dizia que era 'uma carta para o futuro', porque, claro, Richie Tozier não escrevia diários, diários eram coisas de crianças (não que eu não fosse uma naquela época). É só uma carta para o futuro eu dizia para mim mesmo, rabiscando as páginas com meus sentimentos e pensamentos confusos que eu preferia fingir que não entendia.
Abro o caderno com cuidado. A letra meio torta de um garoto de 12 anos me encara de volta. As primeira páginas estão cheias de desenhos ridículos e piadas bobas - um típico começo de algo que eu achei que nunca levaria a sério.
Mas ali, no meio de uma página qualquer, uma frase me atinge como um soco"Porque ele faz eu me sentir assim?"
Meu coração dispara. Não é como se eu tivesse esquecido o que eu escrevi, mas tem uma diferença entre lembrar e ver tudo exposto ali, na minha frente, em palavras que eu mesmo escrevi. Palavras que eu nunca disse em voz alta. Nunca teria dito. Principalmente para o Eddie.
- Tozier, você é um covarde - sussurro para mim mesmo, rindo sem qualquer humor.
É claro que eu sou. Eu sabia desde sempre o que sentia, mas me recusava a dar um nome para isso. Admitir seria pior do que derrotar qualquer palhaço demoníaco. Se eu falasse, então se tornaria real. E eu não queria que aquilo fosse real. Fugir dos meus problemas parecia uma solução melhor do que enfrenta-los. Apenas seria complicado demais.
"Seus amigos vão ficar felizes em te ver" - disse minha mãe, quando estava tentando me convencer a passar o verão com meu pai. A verdade? Eu nem sei se eles ainda se lembram de mim. E isso incluí Eddie.
Tento não pensar muito nele, mas Derry não me dá outra opção. Tudo aqui é nostálgico e tem cheiro de infância. - e Eddie estava na na maior parte dela. Me pergunto para onde todos foram. Me pergunto se sequer lembram do verão em que derrotamos a Coisa. Eu não me lembro de tudo, nem se eu quisesse. Mas estar aqui de volta me trouxe memórias que nunca nem pensei nos últimos 4 anos. E aqui estou eu.Agora o diário estava ali, pronto para ser lido. - Respiro fundo, porque acho que agora eu tenho o verão inteiro para lidar com isso.
2.
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Aí, Richie do futuro, como você está? Ainda tem o cabelo bagunçado? Aposto que sim. Se estiver lendo isso, espero que tenha melhorado suas piadas... Mas, quem eu estou enganando, né?

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Páginas de Verão - Reddie
FanficRichie Tozier nunca teve coragem de encarar seus sentimentos - especialmente aqueles que envolviam Eddie Kaspbrak. Aos 12 anos, o garoto que era barulhento e sempre com piadas encontrou uma forma de expressar o que sentia, preenchendo as páginas de...