A estranha sensação de se apaixonar pelo desconhecido. "Estranha" porque em um mundo perverso, como esse em que vivemos, o conhecido se torna mais atrativo aos olhos, mas algo seguro demais não seria também menos divertido? Esse pensamento hipócrita paira pela minha mente justo hoje, que me vejo de frente a essa mesa sem graça do escritório, talvez por isso eu esteja tão cansada e infeliz... Essa maldita paixão infantil por coisas inexistentes!
Caminho em direção à janela com esperança de melhorar minha situação. O relógio, que por algum motivo inexplicável fica acima da "moldura envidraçada", marca 14 horas em ponto. Tenho a impressão de que aquela rotina cansativa se repete mais uma vez, visto que olho para a mesma rua, vejo os mesmos carros indo na mesma direção e na mesma hora, as mesmas árvores que balançam juntas para o mesmo lado que o vento e os mesmos pássaros que assobiam a mesma canção. Tudo está mais uma vez sob meu controle.
Passando o olho pelo meu consultório, percebo o quão monocromático ele é, na época que o decorei fazia sentido as cores amadeiradas, hoje me sinto enjoada só de olhá-lo, como se eu estivesse presa em uma foto qualquer de algum aplicativo de pesquisa. Permaneço observando-o, até me pegar olhando para um ponto específico demais. Meu diploma, colocado milimetricamente centralizado naquele mediano quadro acinzentado, era tristemente cômico o fato de estarmos similarmente iguais, os dois presos dentro de uma janela de vidro mediana, observando a monotonia à nossa volta.
Escuto o barulho irritante do telefone que tocava em cima da minha mesa.
-Sim? - Digo de forma solícita, torcendo para que minha voz não demonstrasse meu desespero iminente à Anna, minha secretária.
-Doutora, Isis. O senhor Felipe Ferreira já está aqui, devo deixá-lo entrar? - Ela pergunta tranquilamente.
Lembro-me, pela milésima vez esse ano, que como psiquiatra eu deveria estar mentalmente equilibrada.
-QUE ABSURDO! - Acabo por deixar escapar meu pensamento em voz alta, atitude que confunde Anna.
-Não devo deixá-lo entrar, então? -Sua voz deixou claro o susto que provavelmente havia levado com meu tom de voz.
-Oh não! Deixe que ele venha! - Envergonhada com a situação acabo por soltar um sorriso sem graça. - Estava apenas pensando alto...
-Ok então, Doutora...- Fala com uma interrogação na voz.
Encerro rapidamente a ligação, me arrependo amargamente, respiro fundo e vou até a escrivaninha, sobre ela a vitrola toca uma amarga música, a qual culpei por todos aqueles pensamentos. Balbucio como uma criança birrenta.
-Lacrimosa...-Reviro meus olhos, desligando a velha cantarolante, desdenho ferozmente da subjugada.
Coloco o jaleco branco e sinto o suave perfume do sabão líquido que me causa a doce sensação do conforto de estar em casa. Por um breve momento encaro meu reflexo no espelho, a roupa nova que havia comprado tem sido um ótimo investimento, o sapato fechado preto com salto relativamente pequeno, traz a intelectualidade que eu quero mostrar, além disso, a calça social preta e a blusa branca me dá um "ar" elegante e sexy, amarro meu cabelo em um coque alto e coloco meus óculos que combinam com minha pele pouco bronzeada, respiro toda aquela sensação me acalmando momentaneamente. Escuto alguns toques na porta.
-Pode entrar!- Sento na cadeira acolchoada, nem tão confortável, atrás da mesa.
-Boa tarde, doutora. - O homem, de voz mansa, altura mediana e fios de cabelos que mesclam o preto da antiga juventude e o branco da velhice que ficava a porta, os mesmos que denunciam a sua idade não muito avançada, agarrado a um guarda-chuva vermelho estridente, carrega nas costas uma mochila enorme, provavelmente com todas as suas paranoias cotidianas. Adentra no consultório, sem muitas apresentações, senta-se de forma dura no divã.
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M.I.D.R.A: The City of Dream
Science Fiction"O sol brilha no telão de forma explícita e mítica, iluminando uma grande junção de mundos inimagináveis, que transpareciam a individualidade de cada jogador, tendo eles total controle sobre o próprio território. Por todos os lados, criaturas desper...