A brisa suave de Florianópolis acariciava o rosto de Helena, trazendo consigo o cheiro fresco do mar e a promessa de um novo começo. Do banco de trás do carro, ela observava pela janela a paisagem que deslizava suavemente, as montanhas ao longe e o brilho do oceano ao lado da estrada, enquanto as lembranças de sua vida na cidade preenchiam sua mente. Como presente de aniversário de dezessete anos, seus avós haviam decidido surpreendê-la com uma viagem para um retiro cristão de jovens em Balneário Camboriú, uma cidade vibrante e cheia de vida, apenas a uma hora e meia de distância.
Helena se perguntava o que o retiro reservava para ela. Depois de tudo o que havia passado nos últimos anos, a ideia de passar alguns dias imersa em espiritualidade e longe da rotina diária parecia ao mesmo tempo reconfortante e desafiadora. Seus avós insistiam que seria bom para ela, uma oportunidade para renovar a fé e talvez encontrar novas amizades. Ela, por outro lado, estava dividida entre a expectativa e uma certa melancolia que sempre parecia acompanhá-la.
Ao chegar a Balneário Camboriú, a tarde já começava a cair, tingindo o céu de tons alaranjados. Helena, ainda absorta em seus pensamentos, quase não percebeu que o carro havia parado. Foi trazida de volta à realidade quando ouviu uma batida suave no vidro da janela.
— Helena? Vai ficar aí o dia todo? — chamou sua avó com um sorriso gentil. — Paramos um pouco para almoçar!
Helena piscou algumas vezes, afastando as lembranças e a melancolia que a envolviam, antes de abrir a porta e sair do carro. A brisa da tarde era um pouco mais fresca ali, misturando o cheiro do mar com o aroma dos restaurantes próximos. O movimento das pessoas na cidade vibrante a fez perceber que essa viagem poderia ser uma pausa bem-vinda da solidão que ela sentia em Florianópolis.
Ela forçou um sorriso e respondeu, tentando parecer mais animada:
— Já estou indo, vovó.
Ao entrarem no restaurante, Helena não pôde deixar de se maravilhar com a sutileza e o charme do local. As paredes eram decoradas com fotos antigas da cidade, e as janelas amplas permitiam que a luz suave da tarde iluminasse o ambiente de maneira acolhedora. O cheiro de comida caseira e café recém-passado pairava no ar, trazendo uma sensação de conforto.
Absorvida por todos os detalhes ao seu redor, Helena não percebeu a figura que se aproximava e, ao se virar, trombou de frente com um garoto. O impacto foi suficiente para fazer o copo que ele segurava escorregar de sua mão, espalhando suco por todo o seu moletom branco.
— Ah, me desculpe! — Helena exclamou, sentindo o rosto esquentar de vergonha. Ela olhou rapidamente para o garoto, que agora estava tentando, inutilmente, limpar o moletom encharcado.
O garoto, que parecia um pouco surpreso, olhou para ela e depois para o moletom, soltando uma risada leve, sem sinal de aborrecimento.
— Sem problemas — ele respondeu, ainda rindo. — Acontece. Acho que eu deveria ter prestado mais atenção também.
Helena sorriu timidamente, aliviada por ele não ter se irritado. Ela notou que ele tinha olhos castanhos calorosos e um sorriso fácil, o tipo de sorriso que colocava as pessoas à vontade.
— Deixa eu te ajudar a limpar isso — ofereceu Helena, pegando alguns guardanapos na mesa ao lado.
— Não precisa se preocupar — disse o garoto, aceitando os guardanapos. — Sou Anthony, aliás.
— Helena — respondeu ela, ainda um pouco envergonhada, mas começando a relaxar. — Desculpa mesmo pelo desastre.
Anthony deu de ombros, ainda sorrindo.
— Se essa for a pior coisa que acontecer hoje, acho que vou considerar um bom dia.
Helena sorriu, um pouco mais relaxada, e observou enquanto Anthony tentava, sem muito sucesso, remover a mancha do suco. Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, a avó de Helena se aproximou, preocupada.
— Está tudo bem por aqui? — perguntou, lançando um olhar curioso para Anthony.
— Tudo bem, vovó. Só um pequeno acidente — respondeu Helena, tentando parecer despreocupada.
— Culpa minha — disse Anthony, levantando as mãos em um gesto de rendição. — Eu não estava prestando atenção e acabei esbarrando nela.
A avó de Helena sorriu, percebendo que não havia razão para se preocupar.
— Bom, pelo menos ninguém se machucou. Que tal se juntar a nós para almoçar? — ofereceu, com a típica hospitalidade que Helena tanto admirava.
Anthony hesitou por um momento, olhando para o moletom ainda úmido, mas depois sorriu e aceitou.
— Eu adoraria.
Eles se sentaram juntos em uma mesa perto da janela, onde podiam ver as ondas do mar quebrando suavemente na praia. A conversa fluiu com facilidade, enquanto Helena e Anthony descobriam interesses em comum, como a paixão pela música. Helena ficou surpresa ao descobrir que Anthony também estava indo para o retiro cristão, e que ele era um multi-instrumentista talentoso, sempre buscando novas formas de expressar sua fé através da música.
Conforme o almoço avançava, Helena começou a sentir que talvez essa viagem fosse mais do que apenas uma pausa na sua rotina. Talvez, ao lado de pessoas como Anthony, ela pudesse encontrar algo que nem sabia que estava procurando.
Quando o almoço terminou e eles estavam prestes a partir, Anthony olhou para Helena e disse, com um sorriso:
— Nos vemos no retiro, então?
— Com certeza — respondeu Helena, sentindo uma inesperada onda de entusiasmo. Talvez aquele retiro fosse o começo de algo novo, afinal.
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Propósitos Inteligados | Romance Cristão
RomanceHelena, uma jovem talentosa e marcada pela dor de perder os pais, usa a música como um refúgio e forma de se conectar com Deus. Mesmo com uma voz poderosa, ela luta contra sentimentos de solidão e se mantém distante das pessoas. Num retiro cristão...