O Vazio Entre Nós

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Era difícil explicar como cheguei até ali, mas a verdade é que já não importava. O barulho das conversas ao meu redor, as risadas soltas pelo ar, e os olhares que se cruzavam nunca me alcançavam. Eu estava presente, mas não fazia parte. Caminhava pelas ruas da cidade como um espectro, sempre à margem, invisível, mesmo quando estava em plena luz.

Havia um tempo em que tentei. Tentava falar, tentava sorrir. Mas as palavras saíam como ecos em um espaço que ninguém escutava, e os sorrisos, se algum dia foram notados, eram devolvidos com indiferença. Logo aprendi que, por mais alto que gritasse, o mundo havia decidido não me ver.

Nos corredores da faculdade, meu nome era uma sombra de algo que ninguém lembrava. As vozes, sempre direcionadas para os outros, nunca me chamavam. Eu era o estranho sentado no canto da sala, com os fones de ouvido que não tocavam música, apenas para fingir que estava ocupado. Observava as vidas ao meu redor se desenrolarem, como um espectador preso no limiar de um mundo que não era o meu.

Havia um grupo perto da saída. Eles sempre riam, como se o peso do mundo fosse algo que se dissipava no ar quando estavam juntos. Eu os observava, me perguntando se eles também já se sentiram como eu me sentia. Mas então alguém dizia algo, e a roda se fechava. Eu ficava do lado de fora, incapaz de romper aquela barreira invisível.

Às vezes, pensava que eu poderia simplesmente desaparecer de verdade e ninguém notaria. Talvez eu já tivesse desaparecido, e só eu não sabia.

Em casa, o silêncio era o mesmo. Minhas palavras se perdiam nas paredes, ecoando de volta para mim. Mesmo nas poucas vezes que conseguia falar, as respostas vinham curtas, sem profundidade. Como se eu fosse apenas mais uma voz perdida em meio ao ruído de fundo da vida. Um som que todos aprenderam a ignorar.

Meus passos pelos corredores estreitos da cidade eram sempre os mesmos. A sensação de não pertencer era um fardo constante, como se eu estivesse preso entre dois mundos — o mundo deles e o meu vazio particular.

Então, mais uma vez, eu me afundava nos meus pensamentos, onde as vozes eram minhas e só minhas, e me perguntava se algum dia isso mudaria.

Ou se eu estava destinado a ser para sempre um fantasma, vivendo à margem do que um dia chamaram de vida.

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⏰ Last updated: Oct 25 ⏰

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