antes de qualquer coisa, já aviso que esse capítulo tem menções de canibalismo e também uma brecha pra age gap. se você não se agrada, por favor, retire-se.
dito isso, boa leitura.
*
O tempo daquela cidade era uma confusão. O céu, outrora limpo e azulado, fora tomado por nuvens cinzentas.
Aphelios respirou fundo, sentindo o cheiro petricor emanar do chão. Se ele ficasse doente, que fosse, pelo menos era mais um motivo para ficar em casa.
Aumentou a música no fone de ouvido, esperando que isso fosse fazer com que, mais cedo ou mais tarde, ficasse surdo, assim não teria que lidar com todo o barulho que as pessoas faziam.
Quando Alune foi embora, Aphelios teve que aprender a se virar sozinho. Não que ele fosse dependente dela para tudo – longe disso, na verdade. Só que haviam muitas coisas que Alune o ajudava por Aphelios julgar-se incapaz ou inapto para realizar.
Ele entrou no metrô e, embora estivesse vazio, preferiu ir em pé, pois sabia que, se sentasse, provavelmente iria querer desabar.
As coisas não fazem sentido e os dias correm cada vez mais rápido, cada vez mais iguais. As pessoas são as mesmas, os acontecimentos são os mesmos, as matérias são as mesmas, as conversas são as mesmas, os problemas são os mesmos e a melancolia é a mesma. Tudo é igual. Dia após dia, nada muda. Aphelios sempre se viu perdido nisso. O mundo é muito preto e branco, sem cores. Nada faz sentido, e Aphelios sentia que todos os dias eram empurrados com a barriga, com pedidos gentis e silenciosos para que tudo acabasse logo, então ele não precisaria lidar com outro dia.
Talvez Aphelios fosse covarde o suficiente para não conseguir acabar com a própria vida. Talvez ele se esforçasse para continuar, porque talvez algo seria diferente amanhã – e nunca era. Nada nunca mudava. Tudo era sempre o mesmo, e ele sempre sentia que havia desperdiçado uma chance de morrer quando o dia acabava.
Seus dedos apertaram a alça da mochila, e ele soltou um suspiro. Tudo era tão igual. Tudo era tão monótono.
Perdido em devaneios, Aphelios demorou a sentir alguém cutucando seu ombro.
— Não quer sentar, moço? — disse a pessoa.
Aphelios pausou a música e se virou lentamente, permitindo-se olhar para o que seria, muito provavelmente, a parte mais diferente de seu dia.
Quem o cutucou era um homem vastaya, a pele bastante bronzeada, os cabelos vermelhos cobrindo levemente os olhos, e músculos fortes que eram ressaltados pela camiseta apertada.
Aphelios estreitou os olhos, e então negou com a cabeça, fazendo um joinha com a mão.
— Tem certeza? Em que estação cê desce? Dependendo, pode ficar meio longe... — indagou o homem.
Por não querer falar, Aphelios resolveu apenas ignorar. Todavia, o homem pareceu ficar irritado com sua decisão, cutucando-o novamente.
— Ei, cara. Eu perguntei em que estação cê desce. — o homem reafirmou, insatisfeito de ter sido ignorado.
Aphelios suspirou fundo, revirando os olhos e apontando para a boca, fazendo um X com os dedos, esperando que aquilo fosse o suficiente.
— Cê é mudo? — ele pergunta, e Aphelios apenas confirma com a cabeça. Era mentira, mas ele não precisava saber disso. — Então por que não falou isso antes?
Aphelios o encarou incrédulo, a boca abrindo em surpresa. O homem pareceu notar o que disse, parando para pensar por alguns segundos, e então rindo.
— Ai, foi mal, — ele diz após gargalhar. — é que eu tô acostumado a falar pras pessoas falarem. Sabe como é, né? Mas eu quis dizer que cê poderia ter feito sinal com as mãos e tals, eu teria entendido.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Você se importa se eu chorar um pouquinho? [SettPhel]
FanficAphelios nunca teve uma vida fácil. Seus ombros sempre pesaram carregando um fardo enorme, algo que ele sempre guardou para si e que nunca foi problema para ninguém além dele. Sozinho, Aphelios tem que aprender a viver com todas as dores que carrega...