Capítulo 3

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POV'S Atlantis

Resolvi cozinhar algo simples para comermos, ela ainda parecia nervosa e seus olhos eram tristes, mas não faço ideia se devo ou não perguntar o motivo da sua tristeza, ainda mais levando em consideração que acabamos de nos conhecer.

- Eu não sei se você gosta de carne, mas eu não tenho nenhuma aqui, então vou fazer uma massa vegana, pode ser? - Perguntei despretensiosamente, enquanto colocava alguns legumes na panela.

- Na verdade eu sou vegana tambem, então qualquer coisa que fizer esta bom pra mim - Respondeu mexendo nos anéis.

- O que veio fazer em Londres?

- Vim fazer o último show da minha turnê, mas como foi o último ficamos uns dias a mais para entrevistas- vi ela mexer ainda mais nos anéis enquanto seu rosto fazia movimentos involuntários e senti que precisava fazer algo então andei em sua direção e peguei em suas mãos.

- Billie, o que está te deixando tão ansiosa assim? - Perguntei calma acariciando suas mãos.

- Eu não sei, essa noite parece toda estranha, primeiro eu tive que fugir do hotel, depois terminei em uma cafeteria e agora estou aqui com alguém que mal conheço e acho que estou cansada de não conhecer quem está ao meu redor enquanto todos me acham me conhecer - disse com os olhos azuis brilhando prontos pra derrubar uma lágrima.

- Acho que o dia hoje foi bem louco mesmo, mas tem coisas que tem que acontecer. Eu acredito que sempre estamos no lugar certo e na hora certa. Mas se te tranquiliza, eu não acho que te conheço, mas estou doida pra conhecer

Abri os braços pra ela como quem pede um abraço e ela se aconchegou em meu peito como se aquilo fosse tudo que ela precisava.

Meu pai sempre diz que um abraço poderia acabar com uma guerra e sinto que esse abraço apaziguou a nossa guerra interna por um momento, afinal ambas parecemos meio quebradas demais pra lidar com mais isso.

Soltamos o abraço e ela parecia mais tranquila, então fui até a sala e coloquei um vinil da Lana Dep Rey pra tocar e voltei a cozinhar em silêncio.

Quando começou a tocar Born To Die ela deu uma risada e começou a cantarolar a música junto com Lana Del Rey e posso jurar já ter ouvido seu Timbre antes, mas de qualquer forma, nesse momento parece ainda mais bonito.

- Você gosta da Lana? - perguntei curiosa

- É uma das minhas referências, eu amo as músicas, a técnica. Amo tudo nela - ela disse empolgada

- De técnica eu não conheço nada, mas as músicas dela já me salvaram mais vezes do que imagina - Disse cortando cenouras

- E você? Falou que estava a pouco tempo no café. Como chegou até ali?

Ela fez a maior pergunta de todas, o que deveria falar? Que meu pai está morrendo? Que desisti da minha vida? Que abandonei a mulher com quem ia casar? Que não consigo pintar a meses? Ou que estou tão machucada quando ela?

- Eu cresci em Londres, mas fui estudar na França há 4 anos atrás. Fui pra maior academia de arte da Europa, acho que nunca fui tão feliz quanto nesse período até que fiz minha primeira exposição e achei que finalmente minha carreira na arte iria deslanchar, mas nem tudo é como queremos então tive que abandonar tudo e voltar. O café é do meu pai, é tudo que ele tem e preciso mantê-lo na ausência dele.

- Esses quadros na parede, são todos pintados por você? - ela perguntou curiosa.

- Sim, eu costumava ser uma máquina de pinturas. Mas infelizmente as coisas mudam né - respondi com dor no meu coração.

- Você não está conseguindo pintar mais?

- Não, desde que meu pai foi diagnosticado com câncer. Vamos comer? - Respondi finalizando nossa comida

- Eu espero que ele fique bem - disse antes de começar a comer enquanto me olhava com uma carinha curiosa.

- Te deixo fazer a pergunta que quiser e prometo que responderei a verdade, se eu puder fazer o mesmo com você - Propus, já que ambas estavam curiosas

- Proposta Aceita. Eu começo, por que parou de pintar?

- É uma pergunta bem complexa na verdade. Se você fosse visitar meus pais hoje, veria um acervo inteiro de pinturas minhas, eu sempre fui uma pessoa de muita criatividade e a pintura pra mim sempre foi uma forma de transcrever meus sentimentos e quando cheguei em Paris fiquei ainda mais empolgada e pintava sem parar, até entender que, " viver da Arte" tira um pouco do brilho dela. Não me leve a mal, mas quando eu era uma garotinha pintava porque amava e somente por isso, então cheguei em Paris e me deparei com a obrigação de fazer aquilo, ficou mais difícil. Mas tudo piorou mesmo com a notícia do câncer do meu pai, logo depois descobri uma traição da Stella, minha noiva, ou melhor ex noiva e então eu só fui parando cada dia mais. Porém como eu tinha muitas obras prontas, foi o suficiente pra fazermos minha primeira exposição. - disse me auto consolando

- Ok, realmente foi muita coisa. Agora sua vez.

- Por que você precisou fugir do hotel no meio da madrugada? - Finalmente pude fazer a pergunta que rondava a minha cabeça a noite inteira e vi seu corpo inteiro tensionar.

- É complicado, mas vou tentar resumir. Hoje é meu aniversário e na correria da turnê eu havia esquecido completamente dele. Aniversários sempre foram importantes na minha família, com festas e toda típica comemoração americana e nesses tempos eu sempre fiz questão de manter meu aniversário como um compromisso com minha família e amigos.
Eu comecei a fazer sucesso com 15 anos, era apenas uma adolescente vivendo a vida e fazendo o que amava com meu irmão, mas acho que ninguém tão jovem pode imaginar o peso da fama. Talvez até hoje eu não entenda por completo, mas enfim, com o tempo eu fui crescendo ainda mais neste meio e era impossivel sair na rua, ir a praia com meus amigos, ou apenas sair pra um café sem milhares de fotógrafos nos seguindo e se pensar bem vai entender o quão desconfortável é conviver assim, por isso minhas amizades acabaram esfriando como se não conseguissem acompanhar o andar das coisas, mas eu sempre tive meu irmão comigo e isso me trazia certo conforto. Enfim, ganhar fama me fez perder muitos amigos, me deixou mais distante da minha família e acabou com toda minha autoestima. Mas acho que só percebi isso hoje, quando estava no quarto de hotel durante o parabéns e percebi que as únicas pessoas que estavam ali eram pagas pra isso e por isso senti que precisava sair dali antes mesmo que meu irmão voltasse, se não iria sufocar em todo sentimento guardado. Enfim, foi assim que cheguei até o café - Completou com um sorriso triste.

Levantei da mesa e tirei nossos pratos em silêncio, servi uma taça de vinho pra nós duas e voltei a mesa lhe estendendo a mão para que levantasse e a abracei.

- Feliz aniversário Billie, eu não tenho bolo, mas vamos fazer um brinde a você e ao nosso encontro- disse enquanto brindamos com nossas taças.

Born to Die - Lana Del Rey

Lost, but now I am found
(Perdida, mas agora me encontrei)
I can see that once I was blind
(Eu posso ver que já fui cega uma vez)
I was so confused as a little child
(Eu estava tão confusa quanto uma criancinha)
Tried to take what I could get, scared that I couldn't find
(Tentei pegar o que podia, com medo de não conseguir encontrar)
All the answers I need
(Todas as respostas que preciso).

Fix You - Billie EilishOnde histórias criam vida. Descubra agora