Adam Smitch

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O silêncio da sala de aula onde lecionava contrastava com a brutalidade dos cenários que ele explorava à noite. Adam Smitch, ou "Addy," como era chamado por seu chefe e alguns colegas mais íntimos, era um professor no papel, mas a investigação era o que pulsava em suas veias. O FBI sabia disso, e o chamava sempre que os crimes atingiam um nível que poucos conseguiriam digerir, quanto mais investigar.

Cada cena exigia que Adam colocasse a lógica à frente do instinto; cada detalhe importava. Era o trabalho dele ler as assinaturas dos assassinos, entender os padrões em meio à carnificina. Addy era uma espécie de espelho do pior da humanidade, absorvendo cada traço psicológico como se ele mesmo tivesse vivido a mente dos monstros que caçava. Seu olhar era como uma lâmina que cortava a superfície de cada detalhe, desnudando a brutalidade com uma precisão quase clínica.

Mas Adam não era apenas observador; ele sentia cada fio da teia de sangue e violência tecida no chão e nas paredes das cenas de crime. Era como se ele também tivesse a habilidade de cruzar aquela linha tênue entre o investigador e o assassino - de alguma forma, Adam entendia o desejo que pulsava em cada ato de violência. Isso o assustava, mas também o fazia implacável. Ele não só entendia a mente dos criminosos; ele a vivia, ou pelo menos essa era a sensação que o acompanhava nas madrugadas solitárias, quando o peso do que ele viu ainda o esmagava em silêncios intermináveis.

Seus métodos incomuns não passavam despercebidos. O FBI sabia que Adam não era apenas um mero investigador, mas ele conseguia enxergar oque nois não enxergamos, mas isso não quer dizer que as consequências não o afetam.

Adam estava acostumado a visões. Elas vinham como fantasmas de olhos abertos, despertando na mente dele durante as madrugadas, espreitando cada canto da sua consciência. Ele se pegava revivendo as cenas, sentindo o cheiro metálico e enjoativo de sangue seco, as marcas de luta deixadas no corpo das vítimas e as mensagens ocultas gravadas nas feridas. Era como se ele não pudesse se libertar delas, como se cada crime que investigava se alojasse em seu próprio ser, insistindo em arrastá-lo para um poço cada vez mais fundo. Ele não dormia, não realmente. Apenas existia nas brechas entre os pesadelos e a realidade, um lugar onde sua mente permanecia em um estado de constante vigilância.

Durante o dia, ele deixava essas sombras do lado de fora, com um esforço que só ele sabia o custo. Na faculdade, ele falava com a clareza e a precisão de um cirurgião, detalhando para os alunos os processos que qualquer investigação criminal exige. Em uma aula, seus olhos vagavam pela sala enquanto explicava métodos, analisando rostos em busca daquele olhar de fascínio - o mesmo que ele sabia estar gravado no seu próprio olhar. Ele não mentia sobre as cenas, apenas as vestia com uma linguagem limpa, esvaziada da crueza que só ele conhecia.

Em meio ao trabalho de campo, a presença de alguns colegas do FBI era a única coisa que o conectava com a sanidade. Abby Clarke, uma legista precisa e meticulosa, compartilhava de sua obsessão, mas de uma forma que fazia dela um contraponto calmo e, às vezes, até amigável. Ela era a voz analítica, a precisão em cada exame, em cada autópsia. Abby via a violência através de um microscópio, suas mãos enluvadas traçando a cronologia do sofrimento de cada vítima como se fosse uma sequência lógica, embora ela também se visse às vezes perdida nas mesmas sombras que Adam enfrentava.

O chefe, Walter Briggs, mantinha um olhar afiado sobre Adam. Com uma calma pragmática, Briggs confiava em Adam, mas estava sempre ciente da linha tênue que o separava do colapso. Briggs era o tipo de homem que sabia dos riscos, mas estava disposto a correr qualquer um deles se isso significasse resolver os casos. De certa forma, ele era o responsável por trazer Adam para os casos mais pesados, apostando no talento que beirava o desconfortável. Era ele quem chamava Adam de "Addy," um apelido que soava casual, mas trazia um tom paternal, uma forma de lembrar ao investigador que ele ainda era humano, por mais obscura que fosse a carga que carregava.

As relações entre eles eram distantes, mas fundamentais. Adam podia contar com Abby para a verdade fria e precisa dos exames cadavéricos, e com Briggs para mantê-lo focado e produtivo, embora com um ar de preocupação constante. Ele sabia que era visto como uma ferramenta valiosa, mas também como uma bomba prestes a explodir. E, de certa forma, ele aceitava essa dinâmica, encontrando uma frágil estabilidade no caos cuidadosamente gerido de suas interações com os colegas.

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⏰ Última atualização: 2 days ago ⏰

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