Obsessão Oculta

4. A aliança fragilizada

Após o intenso dia, a escuridão de Eastwood envolve-me como um manto pesado. O céu noturno está carregado de nuvens, e o vento uiva entre os arranha-céus, quase sussurrando segredos que eu não quero ouvir. Cada passo que dou em direção ao meu carro é um esforço consciente; sinto um frio na espinha, como se algo ou alguém estivesse me observando das sombras.

Quando finalmente entro no carro, meu celular vibra de forma insistente. Um frio percorre meu corpo ao ver o número desconhecido na tela. A mensagem é simples, mas carrega um peso devastador: "Boa sorte com a Elysium. Sua mãe tinha muitos segredos. Espero que você esteja preparada para o que encontrará."

Meu estômago revira, e uma onda de ansiedade me atinge. Uma sensação de desamparo se instala; a ideia de que alguém está me observando, esperando que eu falhe, é quase insuportável. Respiro fundo, tentando afastar a inquietação. Não posso demonstrar medo, especialmente quando estou cercada por aqueles que esperam que eu fracasse.

Chego ao meu apartamento e encontro Alexander esperando por mim. Ele está no sofá, a expressão tensa, as mãos cruzadas. Não posso deixar de notar a gravidade de sua postura, como se ele carregasse o peso do mundo nos ombros.

"Elowen," ele diz, levantando-se assim que entro. "Precisamos conversar sobre a verdade... A verdade é que você precisa saber que havia mais entre sua mãe e eu do que você imagina."

Suas palavras me atingem como um soco no estômago. Eu o encaro, o rosto quente de raiva e confusão. "Do que você está falando?" A incredulidade em minha voz é palpável.

Ele suspira, parecendo lutar contra suas próprias emoções. "Vivian e eu... nós éramos próximos. Tínhamos um relacionamento. Mas era complicado, e decidimos manter isso em segredo."

Meu coração se acelera, e uma mistura de dor e traição me invade. "Você... vocês estavam apaixonados?" A raiva se transforma em um turbilhão de emoções. Como ele pôde me esconder isso por tanto tempo?

Alexander hesita, e isso só aumenta minha fúria. "Era um amor proibido. Ela se preocupava muito com você e com a sua vida. Decidimos que era melhor que você não soubesse."

A dor da traição se transforma em raiva. A imagem de minha mãe, que sempre vi como uma figura forte e protetora, agora parece distante, quase estranha. Como ela pôde me deixar no escuro sobre algo tão importante? A perda de meu pai, que faleceu quando eu tinha apenas sete anos, já era um fardo pesado. A lembrança de seu sorriso e dos abraços confortantes é ofuscada pela nova revelação. Eu ainda lutava com aquela dor, e agora isso? Sinto como se o chão estivesse se abrindo sob meus pés.

"Como você pôde fazer isso?" exalo, a voz trêmula. "Você também deveria ter me contado! Minha vida toda foi construída sobre mentiras, e você sabia!"

"Nós nunca quisemos te magoar," Alexander responde, sua voz suave, mas firme. "Eu amava sua mãe, e ela amava você. Essa era a única coisa que importava."

As lágrimas começam a escorregar pelo meu rosto, e eu me sinto perdida. "A única coisa que importa? Eu perdi meu pai, e agora descubro que não conhecia nem mesmo minha mãe de verdade. O que mais você esconde de mim?"

Ele parece querer responder, mas a expressão em seu rosto mostra que não há palavras que possam consertar isso. A sala está pesada com o silêncio, e a raiva arde dentro de mim, uma chama inextinguível.

"Elowen, por favor," ele insiste, aproximando-se. "Eu sei que isso é difícil, mas estávamos lidando com algo muito mais profundo. Não podemos ignorar isso."

As palavras dele não ressoam em mim. A sensação de traição é intensa, como um veneno correndo em minhas veias. "Você me traiu, mentiu pra mim, Alexander. Se você realmente se importasse, teria me contado."

"Era um tempo complicado," ele diz, a frustração aparecendo em sua voz. "Eu pensei que você estaria mais segura sem saber."

Segura? A palavra ecoa na minha mente, como um paradoxo cruel. "Segura? Minha mãe morreu, e você quer que eu acredite que isso é proteção? Proteção contra o que?"

O olhar dele se suaviza, e eu percebo que ele está tão ferido quanto eu. "Eu não posso mudar o passado, não posso mudar a relação que tive com ela, mas posso ajudar você a descobrir a verdade sobre sua mãe. Juntos, podemos desvendar o que ela encontrou."

A ideia de trabalhar com ele é repelente, mas há uma parte de mim que anseia por respostas. Não posso deixar que as sombras do passado continuem a me assombrar. A raiva ainda arde, mas o desejo de justiça pela memória de minha mãe me impulsiona.

"Então vamos descobrir isso," respondo, a voz mais firme. "Mas saiba que não confio em você."

Alexander assente, e uma tensão palpável paira entre nós. O silêncio é quebrado apenas pelo som da chuva começando a cair lá fora, como se o céu estivesse lamentando as verdades que acabamos de revelar.

Nos dias seguintes, minha vida se transforma em um labirinto de emoções conflituosas. Investigo os documentos que encontrei, me aprofundando nas transações suspeitas que minha mãe investigou. Cada novo dado traz à tona memórias felizes de minha infância, antes da morte do meu pai, quando minha vida era simples e inocente. Eu costumava correr pelo parque com meu pai, seus braços sempre prontos para me proteger. Agora, as sombras do passado me cercam, e sinto como se estivesse lutando contra fantasmas invisíveis.

Enquanto reviso os papéis, uma nova mensagem do número desconhecido chega: "Cuidado, Elowen. Algumas verdades podem ser mortais."

O coração dispara. A sensação de estar sendo observada retorna, mais intensa do que nunca. Com cada passo que dou, percebo que a verdade pode estar mais próxima, mas também mais perigosa. Não posso parar. A morte de minha mãe, a dor da perda dos meus pais, e a traição de Alexander se entrelaçam em uma teia complexa. Determinada a descobrir o que realmente aconteceu, faço uma promessa silenciosa: eu não vou desistir, não importa o que eu tenha que enfrentar.