vinte e um

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Ryu

Acordo de manhã sentindo uma tranquilidade preenchendo meu corpo inteiro, uma sensação que não tenho há muito tempo. Levo alguns segundos para me lembrar do motivo, mas então ouço a respiração suave de Eduarda preenchendo o quarto silencioso e a noite de ontem me invade a memória. Fico alguns minutos apenas observando-a, incapaz de conter um sorriso. Depois de tanto tempo, vê-la ao meu lado pela manhã, tão vulnerável, aquece o meu coração de uma maneira única.

Levanto com cautela, tentando não acordá-la, e visto a bermuda que está jogada no chão. Vou até a minha mala, tiro uma camiseta e a deixo ao lado de Eduarda para que ela possa vestir quando acordar.

Em seguida, ligo para a recepção e peço para que eles preparem um café da manhã para nós. Sorrio ao lembrar que Eduarda adora leite com achocolatado e peço para a atendente incluir isso também.

Uns vinte minutos depois, o café da manhã chega e eu decido levar tudo para a varanda. Assim que abro a porta de vidro, o ar fresco da manhã baiana toca o meu rosto, e o cheiro do mar me envolve. Uma parte de mim está em paz, como se a noite passada tivesse sido o caminho certo, uma escolha que finalmente trouxe alívio. Arrumo a mesa com os itens do café e me sirvo de uma xícara de café enquanto penso.

Enquanto bebo, minha mente começa a vagar sobre o que vem a seguir. Sei que, apesar da noite juntos, estamos longe de resolver tudo. É claro que, da minha parte, os sentimentos positivos superam os negativos, mas sei que não posso confessar a vontade de um recomeço sem antes enfrentarmos o passado que ainda nos pesa. Há muito entre nós que precisa ser dito, uma bagagem que ainda carregamos, e ter cedido ao desejo na noite anterior não apaga isso. Sei que não vai demorar até termos aquela conversa inevitável sobre o que realmente aconteceu entre nós.

Depois de um tempo, ela aparece na varanda, usando a camiseta que deixei ao seu lado. Ela passa os dedos entre os fios desarrumados do cabelo, tentando ajeitá-los, mas para mim, ela está linda. Por um instante, imagino a cena de Eduarda vindo até mim, sentando-se no meu colo e passando a manhã apenas conversando sobre a vida, como era antes de eu ir para São Paulo. Mas, em vez disso, o que recebo é um sorriso meio tímido, carregado de um misto de afeto e incerteza sobre o que virá a seguir.

— Bom dia — ela diz, com a voz ainda rouca de sono.

— Bom dia — respondo, tentando manter o clima leve.

Ela se senta ao meu lado, e, por alguns minutos, tudo o que ouvimos é o som das ondas à distância. O silêncio é confortável, mas carrega um peso invisível. Observo Eduarda com cautela, aproveitando o momento de vê-la usando minha camiseta, aqui, na nossa cidade, depois de tudo o que passamos. Eu sei que a conversa sobre o que nos afastou é inevitável, mas quero prolongar esse instante o máximo possível — e, pelo olhar dela, percebo que ela também está disposta a prolongar esse momento de paz.

— Sabe, a noite de ontem... — ela começa, mas hesita.

— Foi boa. Muito boa — respondo de imediato, sorrindo. Ela solta um riso meio tímido, mas logo olha para o horizonte novamente. — Mas você não pensa o mesmo, né? Tá arrependida.

— Não — diz, voltando os olhos para mim. — Foi bom pra mim também.

— Claro. Sou muito bom no que faço — digo com um tom brincalhão, fingindo convencimento. Ela ri e entra na onda.

— Eu sou melhor — retruca, dando um sorriso convencido. — Mas você não é nada mal.

— Tive algum tempo pra aprimorar minhas habilidades.

Ela ri, se serve de leite com achocolatado, e eu deixo escapar uma risada.

— O que foi? — pergunta, sem entender.

frequências distantes |  ryu, the runnerOnde histórias criam vida. Descubra agora