o sangue de minha alma

Me destruir 34

Quero me destruir. Quero me destruir de dentro para fora. Seja o que for que está me incomodando, vem de dentro. É interno. Quero renascer de forma dolorosa, rasgando o meu peito de dentro para fora, saindo violentamente dessa cadeia, dessa casca. Eu renasceria de dentro de mim mesma, rasgando minha barriga e torcendo todo o meu corpo antigo. Após nascer de novo, eu olharia para ele e, com muita raiva e tristeza, o chutaria, o agrediria. Agrediria a mim mesma. Agrediria minha prisão, o meu desespero. Finalmente, eu estaria livre. Finalmente, estaria respirando melhor. Estaria suave como uma pena, com pensamentos leves.

Mesmo carregando muita raiva da minha antiga casca, eu estaria feliz. Meus sentimentos de felicidade seriam tão explosivos que eu choraria. Choraria e gritaria até meus pulmões estourarem, de forma ardida, porém com um ardor bom.

Finalmente livre, eu poderia fazer o que sentia. E, em uma forma de libertação total, eu destruiria minha casca passada. Colocaria minhas mãos em sua boca, rasgando-a, desfigurando seu rosto, socando-o e arrancando seus cabelos. Eu arranharia suas costas e mutilaria sua barriga, que já estava aberta após o meu renascimento. Mesmo livre, eu ainda carregaria o rancor daquilo que me fez sofrer. Assim que acabasse com tudo, eu finalmente estaria bem. Ou não. Mesmo que renascesse, sentiria que algo ainda falta em mim.

Eu estaria em pé, nua, olhando para frente em uma sala toda escura, com apenas um espelho à minha frente. Olho para o chão e vejo meu corpo desfigurado, jogado aos meus pés. Porém, não consigo olhar para mim mesma no reflexo. Não vejo meu rosto, a minha identidade. Como isso é possível? Me pergunto mentalmente, vendo o espelho. Eu conseguia ver meu novo corpo e meus cabelos, mas não o meu rosto.

Mesmo acabado, eu conseguia ver minha casca pelo espelho, como se ela tivesse identidade e eu não. Em desespero, ajoelho-me diante disso e choro, sentindo um amargo crescer no meu peito. Rastejo-me até minha casca, amargamente, vendo que ela já não estava mais desfigurada. Ao perceber isso, solto um grito de raiva que estoura o espelho.

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