The Secret of Us [NewJeans]

1. On Melancholy Hill

Era mais uma quinta-feira, monótona e cinzenta em Winterfell. O tempo estava nublado,  enquanto o vento gelado batia contra as bochechas de Haerin, que tentava — inutilmente — se proteger contra o frio, abraçando o próprio corpo. 

Kang Haerin, talvez fosse porque seu quarto era o sótão escuro da casa, sempre fora menor e mais magra que as outras meninas da sua idade. Parecia ainda menor e mais magras do que realmente era porque usava as roupas antigas de sua mãe, quatro vezes maior que o seu tamanho. Haerin tinha um rosto magro, joelhos ossudos, cabelos castanhos e olhos semelhantes de um gato. Sua principal característica e a única coisa que Haerin gostava em sua aparência. 

Para os habitantes do pequeno vilarejo de Winterfell, Haerin era uma garota bastante fora do comum em muitas coisas. Na verdade, Haerin também sentia-se incomum. Não por causa de tudo que diziam sobre ela pelas suas costas, mas sim pelas coisas que conseguia fazer sem explicação. 

— Onde estava? Está atrasada! 

—  Eu sei, me desculpe mamãe —  Haerin pediu, retirando o gorro verde em sua cabeça. Ela odiava essa cor, mas eles eram pobres demais para ter o luxo de escolher as cores de suas peças de roupas reutilizadas. 

— Tome —  Disse, lhe entregando a frigideira absurdamente limpa — Seu pai está quase chegando. Comece a fazer o jantar, não queremos deixá-lo irritado. 

— Sim senhora.

Haerin odiava a sua vida. Não por isso necessariamente, quer dizer, ela amava a sua mãe. O problema era o seu pai, ela o odiava. Kang Soejun era um homem violento que, — quase todas as noites — agredia a sua esposa, Kang Mirae. Diferente do seu marido, a senhora Kang era gentil e amorosa. Haerin não conseguia compreender como uma mulher como ela casou-se com um homem como ele. 

Às vezes, em silêncio, Haerin desejava ser maior e mais forte, assim conseguiria proteger sua mãe das mãos asquerosas de seu genitor. Ela até tentou uma vez, porém sua mãe sofreu as consequências de suas ações, então a garota preferia apenas fugir pela janela do seu quarto-sótão durante a noite para não ouvir os gemidos de dor de sua mãe, enquanto era espancada pelo homem covarde de quase 2 metros de altura. 

— Rápido, meu amor, arrume a mesa... —  A senhora Kang pediu olhando para o relógio na parede — Seu pai está quase chegando e não queremos fazê-lo esperar, não é? — Tentou soar descontraída, oferecendo a filha um sorriso que não havia nada de feliz nele. Haerin não respondeu, apenas deu um aceno de cabeça em concordância, realizando a sua função de todos os dias. 

Às 10 horas da noite em ponto, a porta da frente da casa foi aberta pelo homem. O ar parecia se tornar mais denso, como se uma nuvem de tensão tivesse se instalado. Diferente dos olhos de Haerin, o senhor Kang possuía olhos frios e calculistas. Um silêncio desconfortável tomou conta de todos, era como se a própria presença do homem drenasse a energia do lugar.

— Boa noite — O homem deu, retirando o seu chapéu de palha — Sirva a minha janta — Ordenou, sentando-se a mesa. 

— Boa noite, querido — Como um movimento automatizado a senhora Kang serviu o prato de seu marido, antes de servir-se a si mesma — O dia hoje foi produtivo?

— O mesmo de sempre — Respondeu ríspido e amargurado — O rio congelou, não tem peixes, e como era esperado, a plantação não cresce no inverno. Serão tempos difíceis. 

— Ainda bem que fizemos um estoque reforçado esse ano — A mulher tentou suavizar o clima no lugar, mas era impossível. Segundos depois, o silêncio era quase ensurdecedor. A família Kang não tinha assuntos descontraídos para conversarem como todas as outras famílias normais da Coreia do Sul.