Capítulo 1: As Cinzas de uma Aldeia

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A névoa da manhã serpenteava entre as árvores da densa floresta que cercava a aldeia de Varanthar, um pequeno e pacífico assentamento, lar do clã Grannor. As casas de pedra e madeira se espalhavam ao longo de um vale estreito, onde riachos cristalinos alimentavam os campos férteis. Ao longe, as montanhas dominavam o horizonte, seus picos cobertos de neve eram o único lembrete das durezas que o inverno sempre trazia.

Era um dia como outro qualquer, exceto pelo som abafado de pés descalços correndo pela floresta. Althair, ainda com a inocência de sua juventude, estava agachado perto de uma clareira, observando atentamente uma armadilha rudimentar que havia montado. Seus cabelos escuros caiam sobre o rosto concentrado, e seus olhos faiscavam com uma determinação incomum para um garoto da sua idade.

"Se ela funcionar desta vez, Caleb vai finalmente parar de me chamar de distraído", murmurou para si mesmo.

Althair não era um caçador nato como seu amigo. Sua família, composta por artesãos, ensinou-lhe a forjar e reparar, mas sempre faltou-lhe o instinto da floresta. Caleb, no entanto, era diferente. Criado pela própria natureza, ele entendia o mundo ao seu redor como ninguém mais. Seus passos eram silenciosos, e sua habilidade em caçar e sobreviver na floresta era algo que Althair admirava profundamente.

Foi então que ele ouviu um farfalhar nas folhas atrás de si, seguido de um leve sorriso que conhecia bem. Ele sabia que Caleb estava próximo, mesmo sem se virar.
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Caleb, observando Althair de longe, pegou um pequeno galho do chão e o lançou com precisão na armadilha. O mecanismo, em vez de disparar como deveria, simplesmente caiu de lado, desmontado. Um sorriso travesso se formou nos lábios de Caleb enquanto ele saía das sombras das árvores, caminhando em direção ao amigo.

"Distraído de novo, Althair. Se isso fosse um coelho, ele teria te dado tchauzinho enquanto corria!" Caleb riu, cruzando os braços e balançando a cabeça. "Você sempre esquece de prender as cordas direito. E sério... se quiser pegar alguma coisa além de folhas, talvez seja uma boa ideia não colocar a armadilha no caminho de formigas."

Althair bufou, mas não pôde evitar rir também. "Bom, pelo menos não estou deitado em cima de um galho para espiar as armadilhas dos outros, não é?"

Caleb deu de ombros, rindo. "Ei, eu sou parte da floresta. Os galhos me chamam, o vento me guia... e você, bem, você só precisa de mais prática." Ele se aproximou, batendo de leve no ombro de Althair. "Mas, falando nisso, preciso caçar cinco coelhos hoje. A velha Marinda está com fome e não gosta de esperar."

Marinda, a dona da aldeia, era uma senhora rígida e durona, que cuidava dos órfãos e organizava os festivais. Mesmo com sua idade avançada, tinha olhos afiados e um temperamento afiado como uma lâmina. Ela não deixava ninguém da aldeia escapar de suas responsabilidades, e Caleb era um dos seus caçadores preferidos.

"Cinco coelhos, é? Aposto que eu consigo pegar os meus mais rápido que você!" Althair se levantou, a competição reluzindo em seus olhos.

Caleb riu novamente. "Certo, mas não me venha chorando depois quando eu estiver com todos os coelhos na mão e você ainda estiver tentando descobrir como amarrar uma corda!" Ele lançou um olhar desafiador. "O primeiro a pegar cinco coelhos... o perdedor limpa o estábulo dos cavalos de Marinda por uma semana."

Althair fingiu pensar por um segundo. "Negócio fechado. Mas quando você perder, quero ver se vai continuar com essas piadinhas enquanto limpa a sujeira de Hargon." Hargon era o cavalo mais teimoso e mal-humorado da aldeia.

Com a aposta lançada, os dois amigos se entreolharam e, com um aceno rápido, partiram em direções opostas, prontos para provar quem era o melhor caçador.
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Os dois correram floresta adentro, cada um determinado a vencer a aposta, mas sem nunca deixar de lado o bom humor que sempre acompanhava suas disputas. Caleb movia-se como um fantasma entre as árvores, os olhos atentos a cada detalhe do ambiente, enquanto Althair, apesar da determinação, era um pouco mais barulhento em seus movimentos.

The Eternal HuntWhere stories live. Discover now