Sophy

1 - Crise

Era 3035 pelo calendário humano. As ruas de Nova York eram preenchidas pela tecnologia conquistada ao longo dos milênios de exploração científica. Um breve passeio pela cidade revelava que o mundo já não era o mesmo; robôs agora andavam lado a lado com humanos, ocupando até mesmo postos de comando, como as inteligências artificiais que gerenciavam o fluxo de trânsito, as finanças públicas e até os hospitais. No entanto, o progresso cobrava um alto preço, desafiando a população com o acúmulo de lixo eletrônico tanto na superfície quanto na órbita da Terra e, principalmente, com a perda gradual da habitabilidade dos continentes. A humanidade estava sacrificando a natureza em nome de seu sonho futurista.Do outro lado da galáxia, no entanto, havia uma população vivenciando a mesma atmosfera progressista e discutia estratégias para resolver a crise alimentar que estava prestes a vivenciar. A medicina daquele planeta chegou ao ponto que o problema já não era mais prolongar a vida das pessoas, pois a expectativa de sobrevida chegava aos 400 anos. Com isso, o pequeno planeta, embora gerido da melhor forma, já não estava sendo suficiente para atender as demandas alimentares de um público que a cada ano crescia exponencialmente.
-Já não aguento toda essa pressão do Comitê de Asgrad. Todos eles sabem que tenho feito o possível para conseguir triplicar a produção de comida. Mas nunca é suficiente. É um buraco sem fundo - disse Agenor enquanto andava pelo corredor do Palácio da Central de Sophy.

-Sei de seu esforço, mestre, e o acompanho todos os dias nesses desafio. Já conversou com a Millene? Aposto que ela pode ajudar - sugeriu, Hiapo, o aprendiz.

-Não sei não, ela costuma ter umas ideias muito radicais. É possivel até que ela proponha a morte dos indesejados. Algo que não estou disposto a fazer.

-Tudo bem. Agende uma audiência com a Millene para o mais breve possível. Faça os preparativos e me avise.

O temido comitê era formado pelos 10 líderes das geocentrais de Sophy. Todos eram definidos por critérios hereditários, o posto era herdado dos pais e uma central não se relacionava com a outra. Mas toda e qualquer decisão era lei entre eles, e sempre cumprida.

Em cada uma delas, havia um espaço destinado exclusivamente a produção de alimentos. Não havia conflitos pelas áreas pois todas haviam firmado um pacto de não violência. Contudo, a crise alimentar iminente colocava em cheque o clima de paz, e forçava a cupula gorvenista a encontrar uma solução rápida, senão a união estaria em perigo.

No dia seguinte, Hiapo chega ao gabinete e anuncia:
-Mestre a Millene está aqui. Eu disse a ela que precisaria agendar a visita, mas ela não quis me ouvir e exigiu falar com o senhor agora.

Millene possuía uns olhos vorazes, seus cabelos cor de rosa  eram cacheados e se estendiam até a altura de seus joelhos. Ela dizia que quanto maior fossem seus cabelos, maior sua determinação.
Após Hiapo abrir a porta, Millene finalmente chega e cumprimenta Agenor.

-É um prazer encontrá-lo Ministro Agenor. Nossa história de cooperação na área 01 me fez vir correndo encontrá-lo, pois imagino que precise de algo com urgência - disse ela, com um tom sarcástico.

-Doutora, de fato, a situação estava complicada e todos estamos em risco. A paz que vivemos hoje custou um alto preço dos fundadores e a crise alimentar pôe em risco tudo isso. As inovações de plantio, manejo de animais, e todo o aparato compartilhado pelo geocentral 09 não foram suficientes para remediar essa crise. E agora é a nossa vez de propor algo senão corremos o risco de sermos atacados e perdemos tudo para manter a sobrevivência das outras geocentrais. Você conhece bem o que diz o pacto. Então você também está em risco.

-Sim, eu sei bem disso. Acompanho tudo que acontece por aqui. Inclusive estou trabalhando em projeto para resolver a falta de território. Isso nos permitirá sobreviver por pelo menos mais 100 anos. Alias vi que sua area recebeu um carregamento exagerado de sostônios, isso tem algo a ver com seu projeto?