𝓽𝓮𝓻𝓶𝓸𝓭𝓲𝓷𝓪̂𝓶𝓲𝓬𝓪

9 1 42
                                    


𝓷𝓪𝓸𝓴𝓲

𝓺𝓾𝓮 𝓭𝓲𝓪 𝓮́ 𝓱𝓸𝓳𝓮, 𝓹𝓸𝓻𝓻𝓪?


já dizia pixies: onde está minha mente? se alguém tiver alguma dica, me envie por sedex, por favor

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

já dizia pixies: onde está minha mente? se alguém tiver alguma dica, me envie por sedex, por favor. minha vida não era comum. ao menos os últimos acontecimentos me diziam o oposto. quando comecei a estudar na faz, que é basicamente o suprassumo do suprassumo da elite de onde eu morava, eu também me perguntava todos os dias como eu conseguia estar lá. e pode acreditar que até hoje eu não desvendei esse mistério. okay, nos primeiros dias, eu não tinha ninguém com quem contar ou até mesmo dividir o café da manhã, e isso fritou meus neurônios por muito tempo. eu ficava que nem o akon canta: lonely, i'm mr. lonely.
você pode me olhar e pensar: "uau, que porra de ser humano é esse?" provavelmente porque não tenho tantas qualidades ou meus traços no the sims estão incompletos. eu diria que você é um gênio. se eu criasse um tema para a minha vida conforme as minhas experiências, eu já estaria tão fudida quanto bukowski naquele livro de bolso que todo esquerdomacho insiste em chamar de poesia. está tudo bem, estamos em 2024. coloque as armas no chão. você pode discordar de mim; as nossas vidas continuarão as mesmas, e a nossa existência ainda será 0,00000000000001% no cosmos. profundo? sim! fútil? também.
para falar a verdade, eu tenho um grande apreço pelo álbum "stars dance" da selena gomez, e é bem provável que você me visse em um dos corredores da faculdade dançando loucamente, quando eu ainda tinha um motivo para acreditar que poderia mudar o mundo, sendo apenas um sapo que quer ser cientista. mas aqui estou, pronta para mais um ano em uma faculdade onde não conheço uma alma viva, nem mesmo os mortos gostam da minha companhia.
a faculdade que eu frequentava era uma das mais concorridas do país, então havia estudantes de inúmeras nacionalidades. inclusive, uma das pessoas que estavam na minha sala de álgebra ii era uma menina da tailândia. eu admito que sempre quis me aproximar dela, mas como ela andava com os populares, a elite da elite da elite existente nesse nicho de popularidade, ela não me deu tanto espaço. lá na elite da elite da elite há alguém que chamo de "futuro pai dos meus gatos", e ele se chama harry. até o nome dele é lindo, né? pois é, ele é absurdamente incrível de todas as formas possíveis e impossíveis. esse era o meu segundo ano na faculdade, mas eu já o seguia nas redes sociais há mais tempo que isso. ele não tem namorada, ele se assumiu bissexual há alguns meses e, desde então, ele é visto como a picanha em promoção da faculdade. você já pesquisou os preços da picanha? então, se você acha acessível, você é um burguês safado!

alguém começou a gritar que o almoço estava servido. as tias da cantina são tão gentis que, por vezes, almoço com elas lá na cozinha. costumo filmar elas e depois editar em casa em formato de documentário. uma curiosidade? o futuro pai dos meus gatos me seguia na conta onde posto esses documentários e, às vezes, só às vezes mesmo, ele comenta palavras de encorajamento. sabe o clipe da somi "fast forward"? pois é, ele resume a minha vida, principalmente por razões românticas. eu sei que é um pouco solitário, mas eu ficava envolvida em atividades extracurriculares, tantas que meu professor de física nuclear já me expulsou de três palestras porque eu já tinha visto as três palestras mais de seis vezes. nesse dia, ele me olhou e falou: "você precisa se ocupar com coisas fora da faculdade, florzinha. que tal criar uma horta? que tal participar do soletrando? ou melhor ainda, que tal ajudar em alguns asilos? você não tem essa urgência em ajudar o próximo? faça isso, voa, garota!" e logo em seguida, eu tive uma crise existencial. fiquei pensando se todos os meus outros professores também tinham esse mesmo pensamento; por um momento, eu me senti para baixo, mais para baixo do que o euro atualmente. já tentei participar de outras atividades fora do meu curso, mas todas passavam pela aprovação da crush do meu crush, que é nada menos, ou pouca bosta, que a filha do diretor. esse mesmo diretor era dono de quatro escolas, e duas delas eram a faculdade onde estudamos. ele tem dinheiro para um caralho! o cara deve nadar no dinheiro e ainda dá uns mortais. quando essa bênção cairá sobre mim? eu sei que jamais! mas o que custa sonhar? sonhar ainda não é capitalizado. se fosse, eu estaria muito fudida. bem biruta das ideias.

o futuro pai dos meus gatos, por exemplo, adorava frequentar a lanchonete onde eu trabalhava. essa lanchonete era tão antiga quanto o sr. george, o manda-chuva da lanchonete. ele era um velhinho muito de boa! quer sair cedo? ele topa! quer criar um sabor de hambúrguer? é com ele! quer ouvir k-pop no alto-falante da lanchonete? ele dança com você. aliás, ele é a própria liberdade criativa. precisamos de mais patrões assim. faz alguma coisa, marx.
eu não ganhava nem um salário-mínimo na lanchonete do sr. george, e eu não reclamava porque tinha muitas regalias. como, por exemplo, quando o sr. george permitiu que eu criasse alguns hambúrgueres temáticos para o dia internacional da ciência. muito louco, né? eu sei. o sr. george diz que sou única, singular. ele gosta muito de elogiar as pessoas, no geral. independente do que você seja, ele vai te elogiar ou dar bom dia e as demais saudações diárias que perdemos o costume. hoje, como tudo é instantâneo, as interações sociais também são. bauman explica em "modernidade líquida". agora você me vê com olhos intelectuais? tudo bem, eu deixo você passar, passo, enxarcar o chão, para mim.

o sr. george mora com sua esposa, que também é um amor de criatura. eu simplesmente adoro ouvir eles contando sobre a história deles, de como se conheceram, onde deram o primeiro beijo, onde se apaixonaram, onde se casaram e como construíram não apenas a lanchonete, mas também a vida a dois. eu sempre me emociono, choro demais quando eles me contam, apesar de repetirem as versões muitas vezes. durante os dez meses que trabalho com eles, eles já me contaram essa mesma versão muitas vezes, mas eu continuo com a mesma expressão que tive quando ouvi pela primeira vez.
o futuro pai dos meus gatos adorava frequentar a lanchonete. eu sabia exatamente qual seria o pedido. ele apenas mudava o cardápio quando estava ao lado do seu grupinho, porque muitos deles eram atletas e adoravam pregar a palavra da creatina. era um saco ouvir as conversas deles. era tipo: "ai, você viu que fulano começou a usar a creatina daquela marca barata?" e logo em seguida outro deles já vinha com outro papo: "gente, eu comecei uma dieta low carb hoje... tô me sentindo uma nova mulher!". pois é, era uma grande porcaria. e o futuro pai dos meus gatos sempre boiava nessas conversas que nem bosta no vaso sanitário quando não vai na primeira descarga. o sr. george vivia dizendo que o futuro pai dos meus gatos sempre me olhava enquanto eu trabalhava. não acreditava em seu sr. george, porque cá entre nós, a possibilidade de ser presbiopia era quase 100% de certeza. mas eu fingia que acreditava e até dava alguns pulhinhos de falsa felicidade. ele achava que sabia vender seu peixe.

— ei, queridinha, você consegue fazer dois hambúrgueres veganos, por favor? — a namorada do meu futuro namorado me olhou de cima a baixo, com seu mesmo olhar de náusea. parecia que ela estava com constipação e com certeza pensava que estava dando um olhar 43, que nem aquela música que esqueci o nome. tudo o que sabia sobre ela era que ela era rica. não é como se a bio do instagram dela também não tivesse essa informação. ela amava ser discreta.
o futuro pai dos meus gatos continuou conversando sobre arte com seus amigos. e discutiam se imagens geradas por ia devem ser consideradas arte. ele falava de uma forma tão bonita sobre os interesses que encantava a todos da mesa.
— meu amor, você quer uma gorjeta? eu fiz o pedido há dez minutos e você continua me olhando como uma ameba! —
eu queria jogar todas as carnes que havia no frigorífico exatamente na cara dela e estragar a maquiagem full chanel. ela continuava me olhando com nojo, mas o futuro pai dos meus gatos tentou acalmar a insuportável. ele ainda disse: "ela só está fazendo o trabalho dela. não precisa ser tão rude!". oh glória, a voz da consciência veio aí. esse homem acaba de se tornar ainda mais proibido para mim. ele tinha consciência de classe, mesmo que fosse um burguês.
— querida, qual é o pedido daquela mesa? e por que aquela mocinha está olhando para você com um olhar de peixe morto? —

o sapo que queria ser cientista | h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora