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POV RORA. 7 ANOS DEPOIS.

Eu ainda não consigo acreditar que já se passaram dez anos. Dez anos de amor, aventuras, desafios... e agora, uma nova jornada como mãe ao lado de Asa. Nossa filha, Ayla, é a nossa pequena faísca, cheia de energia e... poderes. Quem diria, não é? Ela tem um espírito inigualável, um coração imenso, e uma curiosidade que parece crescer a cada dia.

Hoje, enquanto eu tento organizar um pouco a sala, ouço um barulho característico vindo do corredor. Não demora para Ayla aparecer, os cabelos despenteados e os olhos brilhando de malícia. Ela está segurando o meu vaso favorito, que flutua uns bons trinta centímetros acima das mãos. Ela olha para mim, um sorriso arteiro se formando nos lábios.

— Ayla... — começo com a voz de mãe que tenta soar firme, mas não adianta. Eu e Asa sabíamos que isso viria junto dos poderes dela, mas é impressionante ver como, aos cinco anos, ela já faz tudo parecer fácil demais.

Ela dá um risinho e faz o vaso flutuar de um lado para o outro, como se fosse um brinquedo. Tento não rir da situação, mas, ao mesmo tempo, não posso deixar passar a travessura.

— Você sabe que esses truques são só pra brincadeiras seguras, Ayla — digo, enquanto me aproximo devagar para que ela não saia correndo.

Ela faz uma expressão inocente, como quem não tem ideia do que estou falando, e então o vaso para de flutuar. Com cuidado, ela o coloca no chão, mas antes que eu possa elogiá-la, já está correndo pelo corredor novamente, com uma gargalhada que ecoa pela casa.

E então Asa aparece na sala, provavelmente atraída pela correria. Seus olhos ainda têm aquele brilho determinado, mas também um toque de cansaço feliz — sinal dos últimos dias agitados e das muitas noites de sono interrompidas por Ayla querendo mostrar um novo truque de poderes.

— Mais uma travessura? — Asa pergunta com um sorriso de canto, enquanto se aproxima de mim e coloca uma das mãos nas minhas costas.

— Ela nunca para! Acho que herdou um pouco da sua teimosia. — Rio, apoiando-me em Asa.

É nesses momentos, nos pequenos toques e risos compartilhados, que percebo como construímos uma vida juntos, uma vida que sempre quisemos.

POV ASA.

Na tranquilidade da noite, a casa estava em paz, ou o mais próximo disso, considerando que Ayla tinha decidido tornar o dia uma série de aventuras pela casa. Eu estava no escritório, terminando alguns últimos detalhes do trabalho, quando olhei para o relógio e percebi que já estava na hora de colocar nossa pequena exploradora para dormir.

“Rora?” chamei, sabendo que ela estava na sala de estar, provavelmente lidando com alguma das “obras de arte” que Ayla tinha feito mais cedo.

Assim que entrei, Rora estava de costas, segurando uma boneca de pelúcia com um sorriso calmo, mas também cansado. Ela virou-se para mim e sorriu, com aquele olhar que me fazia sentir em casa toda vez.

“Vamos colocar a nossa pequena aventureira para dormir?” perguntei, estendendo a mão para ela.

Rora riu suavemente, pegando minha mão e assentindo. “Vamos, se é que conseguimos convencê-la de que o dia terminou.”

Andamos até o quarto de Ayla, e lá estava ela, sentada no meio das cobertas, rodeada pelos brinquedos e, claro, uma capa de “super-heroína” que ela mesma havia improvisado.
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Após colocarmos Ayla para dormir, saímos do quarto dela em silêncio, fechando a porta com todo o cuidado para não fazer barulho. Ela estava tão serena, respirando profundamente enquanto segurava a bonequinha favorita. Por mais que o dia tivesse sido cheio de travessuras e aventuras, aquele momento de calmaria parecia mágico.

Segurei a mão de Rora enquanto caminhávamos pelo corredor até o nosso quarto, cada passo envolto na sensação de paz que preenchia a casa. O cansaço do dia começava a pesar em nós duas, mas a presença dela ao meu lado tornava tudo mais leve.

Entramos no quarto e fechamos a porta. A luz suave do abajur banhava o ambiente, criando um clima aconchegante e íntimo. Soltei um suspiro de alívio ao finalmente tirar o casaco e deixar o corpo relaxar por completo. Rora também parecia aliviada, soltando os cabelos e se espreguiçando. Ela se virou para mim com aquele sorriso terno, o tipo de sorriso que aquecia o coração de qualquer um.

“Hoje foi intenso, não foi?” ela comentou, dando uma risada suave.

“Intenso é pouco,” respondi, aproximando-me dela e passando os braços ao redor de sua cintura. “Nossa filha é uma tempestadezinha em pessoa. Mas... eu não trocaria isso por nada.”

Rora acariciou meu rosto, seus dedos desenhando círculos lentos e suaves na minha pele. Havia tanto carinho no toque dela que, por um instante, todas as preocupações desapareceram. Era só ela, eu, e aquele amor que crescera e se fortalecia a cada dia.

Nos ajeitamos para dormir, vestindo roupas mais confortáveis e nos acomodando sob as cobertas. Ficamos lado a lado, deitadas de frente uma para a outra, nossos rostos próximos o suficiente para sentir a respiração uma da outra. O calor que emanava do corpo dela era um consolo em meio ao cansaço, e nossos dedos se entrelaçaram automaticamente.

“Eu queria te dizer uma coisa,” Rora sussurrou, os olhos brilhando na penumbra. “Depois de todos esses anos... eu ainda sinto o mesmo. Todo dia, quando olho para você, sinto que fiz a escolha certa. E agora, com Ayla, eu sei que estamos exatamente onde deveríamos estar.”

Meu coração apertou com as palavras dela, e um sorriso surgiu no meu rosto, iluminando meu próprio olhar. “Sabe, eu acho que nunca imaginei que pudesse ser tão feliz, que pudesse me sentir tão... completa. Vocês duas são meu mundo.”

Rora sorriu e, sem hesitar, se inclinou para me beijar. O beijo começou suave, quase como uma carícia, mas logo se tornou mais profundo e cheio de sentimento. Seus lábios eram tão macios e cálidos contra os meus que eu senti todo o cansaço do dia se dissipar. O beijo era uma troca de promessas silenciosas, de amor e de apoio que transcenderia qualquer obstáculo.

Quando nos separamos, ainda com os rostos próximos, acariciei seu rosto, passando os dedos por seus cabelos e admirando cada detalhe da expressão tranquila que ela tinha. “Eu te amo,” murmurei, com uma sinceridade que parecia reverberar em todo o quarto.

Rora entrelaçou nossas mãos novamente, pressionando-a contra o peito dela, bem em cima do coração. “E eu te amo, Asa. Amo cada pedaço do que nós construímos, de quem você é... e, se eu pudesse escolher tudo de novo, eu escolheria exatamente isso. Cada dia. Cada momento.”

Ficamos em silêncio depois disso, apenas olhando uma para a outra. A conexão que sentíamos era algo que palavras não podiam descrever. Eram esses momentos simples e sinceros que nos lembravam o quanto éramos sortudas de termos uma à outra.

Depois de um tempo, a exaustão finalmente começou a pesar em nossos olhos, e nós nos aconchegamos uma contra a outra, nossos corpos se ajustando naturalmente, como se feitos para estarem assim. Rora apoiou a cabeça no meu ombro e eu a envolvi em um abraço apertado, sentindo o perfume dela misturado ao calor de nossos corpos sob as cobertas.

Antes de fechar os olhos, dei um último beijo em sua testa, um gesto pequeno, mas cheio de amor. “Boa noite, minha querida,” sussurrei, sabendo que ela já estava prestes a adormecer.

“Boa noite, Meu amor,” ela respondeu, a voz suave e carregada de ternura. E, com um último suspiro, ela se acomodou, se entregando ao sono.

Assim, adormecemos nos braços uma da outra, imersas no sentimento de segurança e amor que construímos juntas, com a certeza de que, não importa o que o futuro trouxesse, estaríamos ali, uma para a outra.

fim.

Whispers of Reality │RORASA.Onde histórias criam vida. Descubra agora