Capítulo 3: Primeiro dia

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Ora em fúria, ora em paz,
há marés que rugem alto,
mas encontram águas mansas,
onde o peso enfim descansa.

Nas correntes que carrego,
sou cais e sou tempestade;
sou revolto e sou abrigo,
porto em meio à imensidade.   

⏝꒷۰꒷⏝꒷۰꒷⏝꒷۰꒷⏝⏝꒷۰꒷⏝꒷۰꒷⏝꒷۰꒷⏝

Uma tempestade se aproximava. Eu corria pela rua deserta. Apenas eu e minha sombra. Enquanto corria, podia sentir a chuva gélida caindo sobre minha pele quente. Continuava sem parar, em busca de alguém que pudesse me ajudar a escapar daquela tempestade. Parecia que ela tinha acabado de chegar, mas, na verdade, veio bem antes do que eu poderia imaginar. À medida que avançava, os trovões rugiam, e eu estremecia cada vez mais. Até que, mais à frente, avistei um carro capotado no meio da estrada. Paralisei, imóvel, e um raio caiu sobre o carro.

Acordo ofegante desse pesadelo, meu corpo tremendo e suando frio. Coloco a mão sobre o peito, tentando me acalmar.

      Já eram 6h30 da manhã, e eu estava atrasada para a escola. Era o primeiro dia de aula. Eu tinha mudado de escola depois do que aconteceu. Mamãe achava que seria melhor tentarmos um novo começo, mas, sem o papai, era como se nada fizesse diferença. Começo minha rotina matinal, tomo um banho gelado, me arrumo e desço para comer algo. Mamãe e Sara, minha irmã, estavam sentadas à mesa.

— Dormiu bem, JuJu? — Sara pergunta, com um sorriso no rosto.

— Sim, e você? — minto e dou um sorriso para as duas. Não é de hoje que tenho esses pesadelos horríveis. Tudo começou depois da morte do papai...

— Simmm! — a menina responde com um gritinho alegre, acompanhando o sorriso largo. — Eu e a mamãe terminamos de fazer a maquete que a professora pediu. Quer ver? — Ela faz um biquinho, juntando as mãos, praticamente implorando.

— Bom... — começo, mas logo vejo mamãe me olhar com uma expressão séria. — Estou atrasada para a escola, mas, se for bem rápido, acho que não vou me encrencar. Né, mãe? — continuo, com um sorriso, esperando a aprovação dela. Depois de pensar um instante, mamãe assente. Eu e Sara corremos para o quarto dela, para ver a maquete que elas fizeram.

— Caramba, ficou bom mesmo! — digo, impressionada com o trabalho delas. Era uma maquete com vários animais marinhos.

— Que bom que gostou. — Ela sorri e me abraça.

— Agora tenho que ir. Até depois, Sara. — Digo, separando-me do abraço e descendo as escadas.

— Tchau, mamãe! — Digo, passando por ela, dando um beijo rápido e pegando algumas uvas do prato dela antes de sair.

— Tchau! Tome cuidado, e me liga se precisar. Boa aula, filha! — escuto mamãe dizer, gritando para que eu ouça, pois já estava fora de casa.

(autora falando)

July havia prometido para si mesma que agora ia focar nos estudos, para não ser reprovada. “Escola nova, pessoa nova, o que pode dar errado?” Ela repetia para si, ainda que odiasse mudanças; era como deixar memórias e tudo o que amava para trás. E sempre pensava nele.

— Merda — murmurou, ao perceber que estava se perdendo nos próprios pensamentos.

Ela já estava no 3º ano do ensino médio. Não podia se distrair agora, não podia desperdiçar tudo. Seu pai jamais desejaria isso para ela — ela pensava — e sabia que estava certa.

     Ao chegar na escola, percebeu que estava vazia; era porque todos já estavam nas salas. Ainda havia algumas pessoas andando pelo pátio, e, vendo uma garota no bebedouro, July foi pedir informação.

— Com licença — disse educadamente, com um sorriso simpático, e viu a garota se virar.

— Oi? Posso ajudar? — Ela retribuiu o sorriso, mas com um olhar confuso.

— Na verdade, estou meio perdida. A escola é grande, e eu sou aluna nova, entãooo... — começo, e logo rimos juntas.

— Entendi — a garota disse, dando uma pequena risada. — Bom, vem comigo. Vamos falar com a diretora.

— Aliás, eu sou Mia. — Ela sorri para mim, esperando uma resposta.

— Eu sou a July. — Retribuo o sorriso.

      Por coincidência, descobrimos que estávamos na mesma sala. Acabamos perdendo a primeira aula porque demoraram um pouco para encontrar meus dados, já que o sistema não estava funcionando. Já era a última aula, e eu e Mia não tínhamos nos separado desde o início. Passamos o intervalo e todas as aulas juntas. Ela me apresentou a algumas amigas, que eram bem simpáticas.

— Quer ir embora comigo? — pergunto para Mia, que estava ao meu lado, mexendo no celular.

— Ah, desculpa, mas um amigo vai me buscar hoje. Mas amanhã podemos ir juntas, se quiser. — Mia sugere.

— Ei, sem problema — sorrio para ela, que retribui o sorriso. — Então está marcado para amanhã — digo e pisco para ela.

— A propósito, o que vai fazer no Halloween? — Mia pergunta, com um sorriso diabólico.

— Eu? Vou desfazer caixas e ajudar a mamãe com as coisas. E você? — respondo, e vejo-a fingir indignação.

— Nem pensar! A melhor data do ano, e você vai desempacotar caixas? Vou falar com sua mãe — reclama e volta a mexer no celular.

— Vai ter uma festinha. E você vai comigo! — Mia afirma, mostrando o convite no celular.

— Não — respondo, começando a guardar meu material, enquanto ela faz o mesmo e continua falando.

— Como assim “não”? E se alguém tentar me matar lá? Quem vai me salvar? — diz ela, guardando o material, e eu olho com uma expressão nada amigável.

— Se eu for, você para de me encher? — pergunto, séria, e ela percebe.

— Não sei, agora somos amigas — ela diz e sorri, fazendo-me rir também.

— Tá bom, vou ver com a mamãe, e te mando uma mensagem — explico, e ela concorda.

O sinal toca, e descemos juntas. Nos despedimos no portão, e vejo-a ir em direção a uma moto, onde um rapaz a esperava. Continuo meu caminho e, mais à frente, vejo mamãe com o carro. Entro, e vamos para casa.

Enquanto ajudava mamãe a preparar o almoço, lembrei-me da conversa com Mia mais cedo.

— Mãe? Fiz uma amiga hoje — digo, com um sorriso leve, olhando para ela.

— É mesmo? Podia convidá-la para vir aqui — ela sugere, sorrindo para mim.

— É... pode ser — digo, hesitante. — Na verdade, ela me chamou para uma festinha que vai ter no Halloween — explico, olhando-a nos olhos.

— Se for perto e tomar cuidado, não vejo problema — mamãe diz, sorrindo. Abraço-a, feliz.

— Prometo que vou ter cuidado — digo, ainda nos braços dela.

    Sempre amei seus abraços. Quando algo estava errado, eu corria para ela. Não gostava de desabafar, sentia-me como um fardo, mas ela sempre deixava claro que isso não era verdade. Seu abraço era como um mar calmo e paciente. Mesmo eu, que mal sabia boiar, sentia-me segura para não entrar em desespero e afundar.

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⏰ Última atualização: Oct 27 ⏰

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