Os Esfarrapados

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A frota de guerreiros esfarrapados avançava sobre as Montanhas de Cal. Rápidos, de árvore em árvore, sobre as matas, dos rios e também do ar com suas geringonças luminosas.

Pegadas estrondosas soavam sob a terra.

— Ataquem! Ele está ali. Ali! — disse o selvagem à frente conduzindo um waver. O selvagem ajustava os propulsores do veículo, sentindo a prancha flutuante vibrar sob seus pés.

Era um homem magro por detrás de uma máscara óssea asquerosa.

O homem fazia sinal de libras para todos os robôs de caça, mesmo os mais distantes.

Os pequenos robôs de I.A, os Caricaturas, rodeavam o bando, os enviando informações enquanto patrulhavam a floresta. Pequenos e finos, com rostos irados, sorridentes ou demonizados por pessoas que com certeza queriam impor medo.

Jam os abominava, eram tão assustadores quanto os monstros das florestas.

Cores de sangue e pinturas nas cabeças, alguns com chifres, outros com formas animalescas, dentes falsos e até auréolas.

Jam se impressionava, atravessavam uma garoa fria da manhã, e mesmo assim o homem selvagem avançava sedento, sem o manto da patrulha. Jam sempre observava e com severidade, seria vergonha demonstrar nervosismo, afinal, os outros estavam mais expostos à deriva da floresta.

Um vulto colossal atravessou a mata, derrubando árvores como se fossem palitos. Era um zebu monstruoso, com pelos acinzentados e chifres retorcidos que brilhavam sob a garoa. Suas patas deixavam marcas grotescas no solo encharcado.

A fera investiu e se deparou contra o maior dos veículos, um trem de ferro e madeira. Os robôs inúteis nem se colocaram a frente.

A pancada fez o trem balançar, mas não tombou, era resistente como esperado.

— Ah, socorro! — O piloto magricela se desesperava, por sorte os veículos eram praticamente autônomos. Jam odiava amadores em missões de risco.

Os olhos da besta avermelhados faiscando de fúria.

Os propulsores dos veículos zuniam enquanto a patrulha se dispersava. O monstro tinha pelo menos três metros de altura até os ombros, e sua massa muscular distorcida fazia dele uma aberração da natureza.

O zebu urrou, um som gutural que fez as folhas das árvores estremecerem. Seu couro era marcado por cicatrizes antigas e placas ósseas que pareciam uma armadura natural. A cauda chicoteava o ar com força suficiente para partir galhos, enquanto suas narinas expeliam vapor como uma locomotiva enfurecida.

O selvagem a frente levantou a lança de batalha, a ponta brilhou à luz da manhã, e com um salto espetacular com o propulsor do waver, tentou cravar a lâmina entre os olhos da besta. Mas o zebu, com reflexos mais parecidos a de um gato, moveu a cabeça e desviou do golpe, atingindo apenas o couro deteriorado espesso.

A patrulha se reorganizava, mas o monstro já havia sumido entre as árvores, deixando apenas destruição em seu rastro. O chão tremia com aquelas passadas, o eco de seus bramidos ainda reverberava pelas poças de água da floresta, como um aviso sombrio do que estava por vir se fossem atrás.

Jam podia sentir o olhar faminto do homem selvagem seguindo a trilha da fera.

— Oh, céus! Vocês viram o tamanho do monstro? Passou bem atrás de mim! Oh, céus! — disse a mirim sem a máscara, Diana.

Jam poderia jurar, aquela garota treinava para ser irritante. Os cacheados loiros travavam uma batalha contra o vento, enquanto uma franja rebelde escapava por baixo de um gorro de crochê sobre as sobrancelhas franzidas.

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⏰ Última atualização: Nov 20 ⏰

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