CAPÍTULO 2: A SINCRONIA DE CORAÇÕES🎇

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O que havia de errado comigo? Meus olhos começaram a arder, como que pode um pesadelo estar condizendo com a realidade? Não dá, sério não era possível isso.  Fiquei escorado na parede do Hangar até que o instrutor retornou, e nisso todos aparentemente já haviam chegado;

--Vamos entrar no avião gente, já vamos nos preparar para partir. (Ronaldo)
--Com licença, disseram que esse avião era particular. Só vai agente nele mesmo? (Nádia)
--Sim mocinha, somente nós. (Ronaldo)
--Ela não sabe o significado de particular instrutor. (Thiago) –Ele disse isso em um tom bem irônico, fazendo cada um dos presentes colocar um sorrisinho no canto da boca, até mesmo eu.
--Até onde eu sei você não é instrutor, então fique na sua se não quiser levar um fecho tá ok? (Nádia)
--Parem com isso jovens, sem brigas aqui ou esse avião não vai sair. (Ronaldo)
--Desculpe instrutor. (Nádia)
--Foi mal ai. (Thiago)
--Ótimo, vamos subindo vamos. (Ronaldo)

Cada um foi subindo no avião com toda orientação. Eu fui o penúltimo a entrar, pois uma garota ficou falando a sós com o Instrutor do lado de fora, andei até o segundo par de acentos da frente e coloquei meus fones, torcendo muito por dentro para que aquela tortura acabasse logo. Me concentrei tanto na música que nem vi quando se sentaram na cadeira ao meu lado, era a mesma garota que ficara falando com o instrutor, por educação tirei meus fones, mas o silêncio permaneceu  até que decolássemos. Enquanto passávamos por uma sequência de nuvens escuras que indicavam chuva, notei pelo reflexo da janela que ela me observava;

--Algum problema?
--Como é?
--Perguntei se tem algum problema.
--Porque haveria de ter?
--Não sei, você não para de me olhar desde que decolamos.
--Como sabe que eu... Claro, a janela.
--Pois é. Quem é você daquela lista?
--Victoria, a sexta premiada e você?
--Aislan, o primeiro premiado.
--Ah sim, nome diferente o seu.
--Impactante o seu.
--Não mais que o seu.
--Vamos ficar falando sobre nomes ou você vai falar o que tá querendo?
--Você é bem perspicaz né? Impressionante.
--Eu tento, mas agora fala o que foi?
--Não fui com a cara de alguns por aqui, mas você é mais tolerável. 
--Também não queria estar aqui?
--Não mesmo, só fim porque não tive muita opção. Era isso ou ir para a casa de uns tios meus que são insuportáveis lá no Alabama.
--Interessante, de onde você é Victoria ?
--Seattle. E você Aislan?
--São Paulo, Brasil.
--Ah, por isso o domínio perfeito do português, você já é natural de lá.
--Sim, mas para quem fala outro idioma você tá indo bem. 
--Você é humorado, raridade ver alguém assim nos dias atuais. Principalmente aqui.
--O que foi? Teve algum problema com alguém daqui?
--Não mesmo, mas aparentemente uma das meninas não foi com a minha cara eu acho.
--Qual delas?
--Aquela ali do canto. –Disse ela olhando em direção da Nádia, que eu só sabia o nome porque discutiu com Thiago.
--Entendi, mas vai que vocês acabam amigas e tal.
--Sei não em, mas e você? Alguém que você não tenha gostado?
--Não, só que um garoto pareceu não ter gostado muito de mim ou sei lá.
--Quem?
--Yuri.
--O moreno alto? Ele parece meio play boy, mas não tem cara de encrenqueiro.
--Também acho, mas gostar de mim creio que ele não gosta.
--São duas semanas, alguém tem que nos suportar além de nós mesmos. (Risada)
--Concordo.

Eu estava estranhando ter assunto com aquela garota que eu nunca vira antes, o mais estranho ainda é o fato de estarmos só nós conversando, pois os outros ou dormiam ou estavam se ignorando mutuamente.  Dentro de uma meia hora de conversa, Victoria dormiu no acento, daí eu me pus a encarar a janela e ver o que se passava lá embaixo das nuvens, estava tudo aceitável mesmo até aquele instante, mas ai que novamente o azar se voltou pro meu lado. Estava num lugar cheio de plantas, um sonho novamente como os outros, mas então gritos soavam da mata, eu corria até me livrar dos gritos, parei de frente a uma cachoeira que ao seu redor estava cheia de ossos, e quando pensei que não podia piorar, a água da cachoeira se transformou em sangue, jorrava sangue do topo da cachoeira ao invés de uma água pura.
Quando retomei minha consciência, eu me levantei gritando do acento. Todo mundo se assustou no avião, e eu fiquei morrendo de vergonha obviamente;

--Aislan você está bem? (Ronaldo)
--Está sim, eu só... Bom eu... Desculpe pelo transtorno. –Eu disse me sentando de volta e morrendo de vergonha, pois agora todos estavam cochichando e rindo baixo de mim.
--Esse garoto tem problema só pode. (Thiago)
--Você não pode falar muita coisa não né queridinho. (Nádia)
--Fica na sua ai metida. (Thiago)
--Parem agora os dois, já basta a discussão de vocês no Hangar. (Ronaldo)
--Tentem se acalmar minha gente, vamos ter que passar duas semanas juntos, tentemos ao menos nos dar bem. (Susan)
--Se acalmar até vai, agora aguentar esse doido da frente vai ser dose. (Estéfano)
--Verdade, deviam checar se não tínhamos problemas mentais antes de irmos. (Nádia)
--Se tivéssemos feito, ele nem sequer tinha subido no avião. (Yuri rindo)
--Já chega, parem com esses comentários com o colega de vocês, se não voltamos agora mesmo. (Ronaldo)

Era mesmo um belo começo de viagem, eu estava mesmo estranhando ser tudo tão quieto. Minha cabeça estava doendo de tanto nervosismo por saber que viraria a piada pro grupo todo;

--Está tudo bem mesmo Aislan?
--Não mesmo, agora vou ser motivo de risada as duas semanas inteiras Victoria.
--Até parece, se eles falarem algo, é só você dar uma bela resposta neles, pelo pouco que conversamos você não dá muita bobeira em diálogo.
--E você acha que eu vou suportar esses 10 seres? Nem ferrando.

Tentei me manter calmo o restante do voo ?mas obviamente não consegui. Pousamos quarenta minutos depois, descendo enfileirados para uma revista obrigatória, em seguida fomos encaminhados ao barco que iria nos levar, um barco bem espaçoso e lindo.  Fiquei debruçado na parte lateral direita vendo o mar, mas a cada segundo que eu olhava para algum dos outros, sentia o olhar deles queimando nas minhas costas. Na minha cabeça só se passava que eu tinha feito a burrada de aceitar ir naquela ilha, aquelas pessoas já me achavam um mico.
Isso continuaria me consumindo ao máximo se eu não tivesse sentido uma presença  do meu lado;

--Oi, tudo bem?
--Não muito, e você?
--Indo. Porque não está bem?
--Porque? Por que eu sou uma piada pra todos e nem sequer chegamos lá ainda.
--Uma hora eles esquecem, não vão falar disso por 14 dias. (Risada)
--Quem é você?
--Eu sou o Sebastian, prazer em conhecer você. Aislan né?
--Até meu nome já ficou mais fácil por ter virado piada.
--Para com isso, e outra eu tô aqui sem rir não tô?
--O que é bem estranho. –Eu ri.
--Nada, quero fazer alguma amizade pelo menos, mas os que tentei só me trataram com ironia ou meio que te encaravam, então vim aqui ver se você era de boa ou se merecia ser alvo de olhares.
--Ai tá vendo? Eu sabia.
--Mas você é tranquilo, opinião minha. –Ele riu.
--E quem te tratou com ironia apesar de eu já imaginar quem é?
--Chuta então pra ver se acerta.
--Estéfano.
--Caramba, é ele mesmo. Já conversou com ele?
--Não e nem quero. Pelo pouco que vi já foi o suficiente pra saber.
--Tá bom né... E aquela sua amiga do acento do avião?
--A Victoria? O que tem ela?
--Parece ter se enturmado, olha ali.

Me virei e vi ela conversando com a Susan, a garota que parecia proclamar a paz entre todos. Quando nos viu olhando, vieram como duas lebres de tão ligeiras;

--Aislan essa é a Susan, fiz amizade com ela. (Victoria)
--Que legal, prazer Susan.
--Se tá bem Aislan? Aquilo no avião... (Susan)
--Eu sei, que humilhante né? Mas agora já foi. 
--Verdade, mas era algo sério? (Sebastian)
--Não, só um pesadelo mesmo.
--Os outros estavam comentando de você ser meio doido. (Susan)
--Nem me surpreendo, dei o motivo pra eles falarem então não tenho muito o que dizer.
--Mas nem por isso vai aceitar humilhação de alguém, e se precisar pode contar com a minha ajuda. (Victoria)
--A minha também, detesto brincadeiras sem graça. (Susan)
--E você quem é? (Victoria)
--Sou o Sebastian, prazer. (Sebastian)
--Ah sim, sou a Victoria. (Victoria)
--Gente, vejam.

Olhamos todos para frente e vimos, a ilha estava visível, chegamos lá bem rápido. Na hora em que descemos, já estava noite e havia uma bela recepção pra gente lá, várias luzes, música animada. Fomos acompanhados pelo Instrutor até a recepção enfileirados;

--Bom gente, vai ser o seguinte. Vocês vão subir, guardar suas coisas, tomar um banho e descer para jantarmos na praia beleza? (Arnaldo)
--Mas e como vai funcionar os quartos? (Rebeca)
--Boa pergunta Rebeca. Vou lhes entregar agora a chave dos quartos de vocês e os nomes das duplas. (Arnaldo)
--DUPLAS? (Todos)
--Sim, vão dividir quarto com um colega. (Arnaldo)
--Nós que escolhemos? (Nádia)
--Não, foi um sorteio. As duplas ficaram montadas da seguinte forma. (Arnaldo)
    Rebeca e Irina.
     Estéfano, Sebastian e Marcelo.
     Vladimir e Thiago.
     Susan, Victoria e Fabíola.
    Nádia e Laila.
    Aislan e Yuri.

--O senhor não disse que seriam duplas? Porque tem dois trios? (Thiago)
--Porque os colegas são um menino e uma menina que sobraram, meninos e meninas não podem dividir o mesmo quarto. (Arnaldo)
--Bom, vamos logo com isso então, estou faminta. (Nádia)
--Peguem suas chaves, e com seus parceiros subam para os quartos que tem a numeração indicada na chave. (Arnaldo)
--Está ótimo instrutor. (Vladimir)

Eu estava ainda assimilando que meu parceiro de quarto era um dos que mais estavam me zoando. Subi com Victoria e Susan mesmo sabendo o que me aguardava em meu quarto;

--Calma Aislan, não é o fim do mundo você dividir quarto com ele. (Victoria)
--Oi? Ele me chamou de estranho Victoria, estranho!
--É, não foi uma boa fala mesmo não. (Susan)
--Viu só?
--Agora já foi, só tenta ignorar  o que ele disser e tá tudo certo. (Victoria)

O elevador abriu e saímos. Marcamos de nos ver no jantar e fui pro fim do corredor onde indicava o número do meu quarto. Andei até a última porta a direita e usei a chave, era até que legal para me fazer me sentir mais a vontade. Tinha tudo de bom no quarto, as camas ambas eram de casal, o quarto bem mobiliado e com uma varanda de dar inveja por ter uma vista linda pro mar, o banheiro tão organizado que dava gosto de ver.
Enquanto eu desfazia minha mala, ouvi um barulho na porta, daí ela se abriu. Yuri passou e deu uma olhada direta pra mim sem falar nada. Ele andou e parou no meio entre as duas camas e ficou olhando pros dois lados;

--Eu vi que eram iguais, daí peguei qualquer uma, mas se quiser trocar eu...
--Não, tá de boa.
--Ok então.

Ficamos calado enquanto ambos desfazíamos nossas bagagens. Notei que ele me observava de canto, mas nem liguei afinal eu já sabia o motivo. Separei minha roupa e entrei pro banho, não demorei quase nada para evitar confusão ou algum desentendimento com ele. Assim que eu saí, ele entrou e também não demorou muito, tanto que quando saiu eu já estava praticamente pronto, só faltava colocar um colar muito especial que eu tinha e gostava de usar em ocasiões especiais.
Eu estava totalmente concentrado em admirar o colar, mas quando ele saiu do banheiro se secando minha concentração acabou. Ele não demorou nada para se vestir, ele colocou uma blusa social preta de botões e uma calça também preta, tênis Air Force branco e seu perfume Kaiak.  Vi ele se banhando de perfume pelo espelho enquanto estava na tentativa inútil de colocar meu colar, já estava desistindo, até ele aparecer atrás de mim como um vulto;

--Que susto.
--Tem um espelho na sua frente, como é que não me viu?
--Estava pensando longe.
--Por isso não consegue prender o colar?
--Esse e outra coisa, não consigo por porque geralmente é minha mãe que coloca pra mim.
--Entendi, quer que eu coloque?
--Não precis...

Antes mesmo que eu terminasse ele pegou as pontas e prendeu atrás do meu pescoço, depois ele parecia pensativo, ergueu as vistas e ficou observando a mim e a ele pelo espelho;

--É, até que não ficou ruim. Pra um louco se sabe se arrumar.
--Eu não sou louco.
--Não, só gritou na frente de todos por nada.
--Eu tive um pesadelo tá legal? Isso me assustou e impulsivamente me lancei pra frente do acento.
--Pesadelo? Nessa idade?
--E tem idade pra ter pesadelo agora?
--Ai tá bom então senhor desastre, acho que começamos com o pé esquerdo. Prazer de verdade agora, eu sou o Yuri.

Estendi minha mão e apertei a dele como gesto de cumprimento;

--Prazer, eu sou o Aislan

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