Capítulo 1

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Eu morava no Brasil, que foi onde nasci, mas me mudei, e nunca passou pela minha cabeça mudar de um país que eu amava para outro, e ainda ir para uma cidade um pouco pequena e nem muito movimentada, com pessoas que não recebem muitas pessoas de fora. Mas eu tinha um propósito: era morar com a minha tia por parte de pai, porque é a única família que me resta. Meus pais morreram quando eu tinha 17 anos, e agora, depois desse tempo, eu já tenho 25. Depois da perda, acabei me fechando um pouco. Eu estava na casa em que me mudei, na pequena cidade que mal conhecia, onde minha tia morava, e parecia que a casa havia parado no tempo. Cada vez que eu entrava, via terços e imagens de santos, e também, principalmente, a Ave Maria. Aquilo era sem sentido, mas não iria falar nada, até porque eram muito religiosas, como minha tia me havia dito um pouco ao telefone.

Eu vou para a sala e a encontro. Ela não é velha, mas me parece nova ainda, em seus 35, presumo. Dou um sorriso e a vejo sorrir e vir me abraçar. Eu a abraço igualmente.

- Oi, Lilian, você está bem? Não é por nada, mas que tipo de casa é essa? - digo, confusa e sem entender. Não que eu não goste, mas já era demais até para mim. Ela dá uma leve risada e me olha.

- Não se preocupe, eu comprei a casa de uma senhora, e ela havia me falado que ia tirar, mas eu nem consegui tirar tudo, foi só a metade. Por quê? Eu te falei que todos aqui são fiéis, até demais.

Dou de ombros e reviro os olhos.

- Pelo menos estamos protegidas, né? Mas eu te ajudo a tirar e devolver tudo àquela senhora. Aliás, vai fazer alguma coisa? Eu acho que vou dar uma volta pela cidade para conhecer e comprar umas coisas, ok? - digo, enquanto cruzo os braços e a olho. Ela concorda com a cabeça.

- Pode ir, eu vou arrumar só amanhã. É engraçado como você virou uma mulher linda e totalmente tatuada! Seus pais deixaram? Aposto que meu irmão Rick iria amar! - Ela dá uma leve risada, e eu lembro do meu pai; ele iria amar, mas minha mãe nem tanto.

- Meu pai que me levou para fazer a primeira tatuagem, e ele iria amar mesmo. Minha mãe nem tanto, porque eu era a princesinha dela... Bom, vou lá, não vou demorar a voltar. - Dou um meio sorriso e vou saindo da casa. Fecho a porta, pego as chaves do meu carro e logo o ligo. Entro, fecho a porta e dou partida, dirigindo pela cidade.

Depois de um tempo, as pessoas me olham, e eu não estou ligando muito. Paro meu carro em um estacionamento em frente a uma igreja, desligo, tiro as chaves e saio do carro. Fecho e travo as portas, colocando as chaves no bolso. Olho ao redor; as pessoas me olham esquisito, acho que nunca viram alguém tatuado, só pode, penso comigo. Logo vou para a porta da igreja e vejo todo o local enquanto estava rolando uma missa. Entro devagar, para não interromper, e nem reparo muito. Vou para uma escada ao lado, subindo, e dá para ver tudo de lá de cima. Me escoro na parte de madeira que fica na minha cintura e, quando olho para a frente, a primeira coisa em que meus olhos param é ele: aqueles olhos que pareciam queimando nos meus, que, se pudesse, me dilaceravam ali como um lobo e sua presa. Mas isso não me assustava, e sim me deixava curiosa.

Sua voz grossa, seus cabelos castanhos e olhos escuros; eu não podia e não conseguia decifrá-lo. Como um padre poderia ser novo assim e ser o pecado, não só pela beleza, mas pelo sombrio dos olhos que tinham algo como um ímã? Eu não posso ficar para descobrir! - falo, tirando meus olhos dos dele e voltando à realidade. Me afasto e volto descendo as escadas, sem alarde. Vou para fora e ando em direção ao meu carro, sem saber o que foi aquilo. Pego as chaves do meu carro no bolso, logo o destravando e entro, fechando a porta. Coloco as chaves e dou partida, saindo de lá e fazendo o mesmo caminho de volta. Estaciono o carro em frente à casa e tiro a chave. Mas, antes de sair, acabo tendo um flashback do rosto e da voz daquele padre, que eu sequer sabia o nome.

Amor ou IlusãoOnde histórias criam vida. Descubra agora