Só para vocês saberem que estou viva.

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Sabe, no momento estou ansiosa, uma ansiedade daquelas que a gente sente como um sufoco no peito, como se algo tivesse caído em cima de mim e estivesse me esmagando até a morte. Mas a parte mais cruel disso é que eu não morro, ao menos não de verdade, mas existem momentos em que sinto como se estivesse morta, ou quase isso. Minha mãe tem essa habilidade, meu progenitor masculino tem essa habilidade, mas acima de tudo eu tenho essa habilidade.

Vou compartilhar algo sobre mim: comecei um tratamento psiquiátrico. Ou melhor dizendo, fui a uma médica, e isso é algo que acho que nunca compartilhei em uma das minhas histórias, ou pelo menos não em uma que vocês tenham lido ainda. Eu deixei essa parte de mim para a Cordélia. Eu tenho transtorno alimentar, mas não do tipo que as pessoas sentem compaixão, e sim do tipo que até a própria família te chama de gorda, baleia, saco de areia, sabe? Daquele jeito que o Cebolinha diz, só que de uma maneira mais cruel.

E bem, meu peso sempre foi um problema para a minha família. Desde pequena, eu era levada a médicos. Imaginem a pequena L. Princess de 6 anos, após ser... começar a engordar de repente. Uma criança magra começa a engordar de uma forma não natural e, então, começa a saga dos médicos, das agulhas, dos dias na sala de espera ouvindo o adulto que a levou explicar para estranhos o porquê de ela estar ali. Essa sou eu, ou melhor dizendo, essa era a pequena eu que só se sentia bem quando fazia uma das três coisas: escrever, ler e desenhar. Mas há uma quarta coisa que me fazia não me sentir tão terrível: comer. Eu me escondia para comer, pois se me vissem comendo qualquer coisa fora da dieta eu ficava de castigo.

Acho que foi nessa época que comecei a me odiar, odiar minhas pernas, braços e, principalmente, minha barriga. Sabe, poucas pessoas sabem, mas a primeira vez que entrei em uma academia eu tinha oito anos. Minha família fez de tudo, desde remédios a exercícios extremos.

Então imaginem agora a L. Princess de 22 anos, uma adulta que, para conseguir fazer coisas de adulto, tem que repetir mil vezes em sua mente que agora ela tem que ser uma menina grande. Mas eu não consigo ser uma menina grande, não totalmente. A todo momento que estou no consultório da médica, só queria chorar e abraçar meu coelho de pelúcia.

A doutora que me atendeu é muito boa. Acho que ela já sacou qual é a minha, pois pediu um monte de exames, até um que nunca fiz antes, para poder ver meu crânio. Eu olhei as imagens na internet e é oficial: vou ter que usar aparelho. Por meus dentes serem grandes, não dá para perceber muito, mas nas imagens dá para ver o estrago que minha chupeta fez. Mas ela ajuda a eu não comer para desestressar.

Ela também pediu uma avaliação neuropsicológica para saber se sou autista. Se eu for, muita coisa na minha vida vai fazer mais sentido. Isso explicaria o porquê de eu ser tão sensível, de sentir tanto as coisas e não entender direito o sarcasmo ou quando uma pessoa está falando sério ou brincando. Nesse último, eu tinha muita dificuldade na adolescência, mas achei que tinha melhorado nisso. No entanto, pelo jeito, não melhorei, pois esses dias me disseram que eu digo coisas que magoam as pessoas. E eu odeio magoar as pessoas!

Sinto uma angústia enorme só de imaginar que fiz algo que machucou alguém. Diferente das outras pessoas, quando eu machuco alguém, mesmo que sem querer, eu nunca esqueço. Isso fica comigo para sempre. Me lembro da primeira vez que fiz alguém chorar, e até hoje me sinto culpada. Eu não sei como as pessoas que me machucaram e sabem que me machucaram conseguem viver sem remorso. Um exemplo: no ano passado, eu esqueci de dar parabéns para a minha prima. Era o fim do primeiro semestre da faculdade e eu estava exausta. Minha prima veio até aqui em casa buscar algo que ela ia pegar emprestado com a minha mãe. Eu a vi, mas estava tão cansada e deprimida por causa da nota terrível que tirei na prova final que só peguei o que ela queria e voltei a dormir. Quando acordei de madrugada, percebi o erro que cometi. No dia seguinte, pedi perdão para ela e me expliquei. Ela me tratou com tanto desprezo e continuou com esse tratamento até o meu aniversário. Eu aceitei, talvez eu não merecesse o seu perdão. E nesse ano a gente estava bem: eu dei um presente pra ela e fui à sua festa, mas no meu aniversário não teve nenhuma mensagem dela, nada. Acho que só eu me importo com essas coisas.

A Nova Filha dos DuquesOnde histórias criam vida. Descubra agora