Capítulo 1

1 0 0
                                    

        Acho que foi bem assim...

    Era bem cedinho, o vento dançava pelo rosto dando uma comichão gostosa, está em pé olhando pra o além. Se você pensou que estava refletindo ou fazendo yôga, lamento decepcionar, mas eu estava tentando me matar. Pois é!

    — UM BREVE RESUMO —
   
Tudo aconteceu muito rápido, digamos que... Numa certa noite, eu estava com os meus pais, apreciando um delicioso jantar. Era caldeirada de cabrito com arroz de cenoura.
   
"Havia risos, risos muito alto, todos estavam felizes da vida, pelo menos antes do acaso"
   
Quando no nada. Minha mãe começou a enrijecer os membros, ouvimos o talher tilintar no chão, olhos esbugalhados, seu rosto empalideceu. Caio que nem uma trouxa de batatas, pelo menos, essa era minha visão quando tinha os meus seis anos.
   
    "Na verdade ela está tendo um   infarto, isso mesmo, mas eu era   muito pequena pra perceber Isso"
   
Meu pai segurou-a com toda delicadeza do mundo, chamou pelo seu nome umas mil vezes, antes da ambulância chegar, mas ela não respondeu, nem se quer moveu os lábios.
   
        — MINUTOS DEPOIS —
   
O médico batia um papo profundo com meu pai, ele estava suado e raspando as mãos com frequência. Seus olhos focados no chão, não conseguia devolver o olhar para o médico, aposto que ele não sabia a cor da gravata dele.
   
Eu sabia! E sei. Preto retinto com listras verdes.
   
— O que ela tem? — falou andando de um lado para o outro.
   
O médico olhou pra ele, hesitou um pouquinho e depois usou a frase classica dos médicos.
   
— Lamento informar que sua mulher está em um estado grave — soletrou cada palavrinha, que para o meu pai, eram como fagulhos pontiagudos atravessando seu peito — Ela está com...
   
Essa parte não me lembro. É bem provável que você chegue a concluir:
  
                
                    "Tinha câncer "
                      "Diabetes "
                      "HIV sida"
   

Mas não foi nada disso!
   
Eu acho que era algo relacionado a: "Gorduras ao redor do coração" ou "lesões nos ventrículos" O médico disse que minha mãe tinha um estilo de vida sedentária, consumia alimentos gordurosos  e por ai vai— De qualquer modo, tudo acabou sobrando para o meu pai, que teve que trabalhar duro para poder sustentar a casa.
    Sei que no geral, esse seria o trabalho de minha mãe, mas em minha casa era completamente o contrário disso.
   
Era muito doloroso pra ele, mas ele pegava o jeito!
    Tempos depois, infelizmente minha mãe faleceu, teve um infarto e não havia ninguém para dar-lhe os remédios. Na verdade eu estava presente, só que estava ocupada, ou melhor, distraída vendo TV.
   
— O que iria fazer? Eu era tinha apenas doze anos...
    Sei que isso soa muito irresponsável. E acredite em mim,  me culpei por um bom tempo. Estava disposta a melhorar, Juro! Cheguei até a fazer terapia, mas não demorei muito por lá, pelo simples facto de não ir muito com a cara da psicóloga.
   
    — DESCRIÇÃO RÁPIDA —
   
        "Ela era muito mole"
      "Detesto pessoas moles"
   
E se você pensa que minha história é horrível, convido-te a sentar beber um copo com água. Porquê daqui pra frente, as coisas só pioraram.
   
Meu pai perdeu o emprego e por conta disso, acumulou dívidas até ao pescoço. Do tipo... Pessoas querendo a cabeça dele e assim por diante. Entre o caminho de aceitar seus problemas e enfrentar, meu pai escolheu sobreviver, essa decisão lhe custou sua liberdade. Deixou um bilhete:
   
"Minha querida, eu prometo que volto em breve, consegui um trabalho bom por aqui, estou economizar pra poder pagar as dívidas. Não se preocupe já paguei toda sua mensalidade da escola. Se cuida!"
   
Por mais lindo que esse recado possa ser, mas creio que você já percebeu quais são as mentiras.
   
1— Ele não voltaria tão breve assim
    2— Ele não vai pagar as dívidas, ainda que consiga dinheiro. E...
    3 — Ele não pagou a mensalidade da escola, nem do apartamento.
   
Uma carta acompanhado de um envelope com setenta e cinco mil, aposto que esse dinheiro era uma das razões da sua fuga pela sobrevivência. Eu já estava com os meus dezesseis anos.
   
             — TUDO MUDOU —
  
Agora estou com os meus dezoito anos, isso mesmo, você acertou! Já se passaram dois anos, foram dois longos anos. De lá pra cá, muitas merdas aconteceram, deixei a escola, comecei a trabalhar em uma cafeteria próximo do apartamento. Tudo só pra poder pagar o apartamento e sobreviver. E sobre o começo, lá quando queria se matar, comecei a focar com fome, então, mudei de ideia.
   
Cheguei em casa exausta, coloquei uma música bem alta, nos fones é claro! Meus vinhos não eram meus fãs, até que gostava disso, desse jeito ninguém podia incomodar ninguém!
   
Se joguei na cama, quando fechei os olhos meu telefone cantou bem alto — Quem está ligando logo agora! — Resmunguei ainda deitada, estiquei os pés até pegar o telefone, mas acabou caindo — Merda! Você não viu outra pessoa pra chatear?
   
Dei uma verificada e pra minha surpresa, era um número estranho — Alô! Quem é? — retruquei com os cotovelos afastados do corpo, peito para fora— Você é surdo por acaso?
    Silêncio, não importa o quanto gritasse, ele ou ela, sempre estava calado(a) — Se você voltar a ligar eu juro...
   
Desligou.
  
— Ele desligou o telefone bem na minha cara! — murmurei numa expressão tensa — Neste mundo, ninguém mais me respeita! Merda.
  
Voltei a enterrar meu rosto na almofada, tudo estava indo como planeado, meus pensamentos torpes estavam se esvaindo pela nuca, minha postura estava no ponto e meu músculos estavam se relaxando. Quando um som desarmónicos, se infiltrou em meu paraíso e acabou toda paz. Esse intruso tem um nome e um rosto que me tirava do sério.
   
— UMA EXPLICAÇÃO BEM CLARA —
   
"Essa não é uma história de amor"
      "Eu não estava afim desse..."
   

Todas as tardinha dos meus dias de folga, quarta feira, ele segurava no seu violão e assassinava meu plano sem misericórdia, com aquela voz horrível, sério! Alguém precisava blindar-se de coragem a calar boca dele com uma boa porrada. Quem sabe ouviria, ele não era bom mesmo em cantar, pra que precisaria da boca.
   
"Ele nem sabia que eu existia"
    "Eu não gosto dele"
    "Geralmente evito as pessoas que não gosto "
    "Já evitei muitos problemas"
   
Seu apartamento ficava um pouco abaixo do meu, em um outro prédio, bem na frente do meu. Não sei como ele fazia isso, mas seu insultos saiam voando até meu apartamento. Ele é péssimo no que faz, pelo que me lembro, só lhe vi umas três vezes, como disse:
   
"O amor não paga minhas contas"
    Nem as músicas (ruídos) daquele idiota.

O que restou de mimOnde histórias criam vida. Descubra agora