Capítulo 2

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                     Bêbado....

                   

Cafeteria Benson
07:36 AM

Mal consegui escovar os dentes em Condições e já estava servindo café, e sorrindo pra todo mundo — eu juro que odeio meu trabalho! — lamentei baixinho, enquanto servia café pra um homem alto, grande, não tão grande como o The rock.

"Ele olhava frequentemente pra mim, sorria e fazia gestos safados"

Essa era uma outra razão pra detestar meu trabalho. Além do chefe cretino e aproveitador, era obrigada aturar insultos, assédios dentre outras merdas. Eles assobiavam, faziam gestos constrangedores no final das contas todos eles queriam comer a gente.

O vestido justo do uniforme também não ajudava — O que iríamos fazer? Todos nós temos conta pra pagar ou era aquilo, ou ser prostituta. Que pra mim a diferença não era tão abismal.

— Oi! Como está sendo o dia de hoje? — disse Catarina, enquanto colocava o uniforme. Abanei a cabeça em resposta— Já sabem das novidades?
— Como assim? — indagou Laura com os olhos esbugalhados — Vá conte pra nós!

       — OUTRO DETALHE   IMPORTANTE —

"A história não é apenas sobre mim"
"Tem algumas loucas que fazem o recheio"

Catarina: Cabelos crespos, olhos pretos como café, de altura média e um sorriso glorioso.

Idade: 24 anos

Obs: Tinha um filho, mas que por conta de suas loucuras, o menino teve que morar na avó. Não sei sobre o paradeiro do pai, nem me atrevo a perguntar, afinal já tenho muita experiência com pais do género.

Já a outra, era a queridíssima Laura, engraçada baixinha e bem preguiçosa. Ela só tinha apenas seus vinte anos, mas os caminhos que percorriam diziam o contrário. Não era tão cabeluda, mas também não era como eu.

                 "Continuando"

— Qual é a novidade desta vez? — falei com desdém, enquanto preparava os ovos — Não me digas que voltaste para aquele lugar?

— Não interrompas! — retrucou Laura sentada numa das mesas próximo do balcão — Ela pode ter achado nosso plano de fuga!

— Não parece...

— Você é boa em estragar as coisas, sabia? —  Seus olhos semicerrados, apertando a mandíbula — Parece até que já nasceu pra isso!

— Será que posso falar? — declarou com Gestos amplos com os braços. Calamos no mesmo instante...

—  Prontos! Assim está bem melhor — deu uma leve pausa — continuando. Eu conheci um rapaz...

— Só podes estar de brincadeira! Murmurou Laura com os lábios pressionando um corte branco —  Vê se acorda, por favor...

— Deixa ela terminar — aceitei meu corpo, mostrando interesse, sem perder o foco dos meus ovos — Se não quiser ouvir, podes ir limpar as mesas — dei um curto muxoxu.

Jogou um olhar pontiagudo, mas não dei bola. Ela saiu com os passos fortes, balançando a cabeça e ombros — Ela é muito infantil— pensei.

Fiz um sinal com as mãos pra que ela continuasse — Pois bem! — confirmou ela — Esse mesmo rapaz é dono de uma boate, conversei com ele sobre nós...

— Nós? — Exclamei com indignação aparente — Como assim nós? Não se referes a eu e você, pois não?

— Claro que sim!

— E quem foi que te disse que quer trabalhar em uma boate? — falei segurando o fôlego. Ela deu um olhar obvio — Eu nunca disse isso! Estou fora!

— Mas foi você que vive dizendo "eu odeio este trabalho!"

— Sim e não!

— Agora não entendi!

— Ela está pirando outra vez! — Disse Laura lá longe — não importa quantas oportunidades consigas, ela vai amarelar em todas!

— Laura! — bufei — Você está bem disposta em entrar na lista dos meus inimigos!
Ela ergueu as palmas abertas, em declaração de paz — Só dei uma opinião! — Concluiu.

Retirei os ovos e coloquei as salsichas, que fizeram o óleo salpicar rispidamente — Cuidado! — Catarina alertou — Você ainda pode queimar seu rosto!

Parei bem na frente da frigideira, olhei bem pra o óleo que fervilhava, me passou pela cabeça jorrar tudo aquilo na cabeça daqueles clientes pervertidos — Lisa! Lisa! — era Catarina que me chamava a um bom tempo — Você não está aqui?

— Sim! Claro.

— E então? — Sugeriu ela, se aproximando do balcão — Topas ou não?

— Não!

— O salário é bem gordo! — Ergueu uma das sobrancelhas.

— Quanto é? — Laura veio correndo — vá lá! Diga, quanto é? Noventa?

— Não! — Catarina deu um salto de espanto — você é doida mesmo! Que tipo de droga voce usa?

— O que foi? — Justificou — É a melhor boate de Luanda, eu esperei que...

— Prontos! Por mim já chega!

— Então tá! — cruzou os braços em aparente decepção — Depois não diz que não avisei, pelo menos eu tentei salvá-la, estive disposta a lançar o bote salva vidas, mas você...

Revirei os olhos e sai de sua presença tóxica — Sinceramente não sei o que se passa na cabeça delas, será que eles ainda nao perceberam que, numa boate seriam alvos de assédios dez vezes maiores? Só podem ser mesmo cabeças ocas.

Em fim...

"É como se tem dito, cada carneiro escolhe seu matador, eu escolhi uma cafeteria"

19:56 PM

Estava com um pano em mãos, limpando as mesas e terminando o serviço, minha ronda havia terminado, então, pendurei o uniforme, peguei minhas coisas e sai voando.
      — Isso foi ordem do acaso —
"Você está livre de tirar suas conclusões"
"Mas para mim, foi ordem do acaso"
"E ponto final"

Como havia dito, meu apartamento ficava bem pertinho de onde trabalho, por essa razão, preferia caminhar, dessa forma podia economizar uns trocados.

E lá estava eu, Caminhando pela noite escura, não tão escura ao brilho das lâmpadas gigantescas penduradas ao redor das ruas, o som dos carros e pessoas passando por lá, davam um certa segurança.

Naquele instante, eu era um menininha comparado ao nível de perigo que enfrentava, com meus passos fracos e instáveis, meu celular novinho e meu corpo minúsculo, com certeza me tornavam alvos de assaltos, de uma doce porrada ou estupro.
             
               "Mas Deus é por nós"
               "Pelo menos comigo"

Meu coração já estava mais calmo, quando avistei meu prédio, cinquenta passos á frente. Dei a última curva e pra minha surpresa, um grupo de homens todos eles entrelaçados em uma briga, meu coração deu um salto pra fora do peito, minha mente imaginou o pior. Dei dois passos pra trás, que no momento eram tarde de mais. Eles olharam pra mim e saíram correndo assustados, era como se vissem algo por trás de mim.

O que restou de mimOnde histórias criam vida. Descubra agora