8 de julho de 2023
Giro ao redor de mim mesma, observando o grande espelho na sala da minha casa. Uma sensação de tontura me invade; havia tanto oxigênio no ambiente que me sufocava, fazendo com que eu expirasse muito mais ar do que meus pulmões podiam suportar de uma só vez. Minha respiração estava extremamente descompassada, e, de repente, percebi que não conseguia puxar o ar para dentro, por mais que tentasse. Era como se uma força invisível estivesse me segurando, impedindo-me de respirar plenamente. Meus joelhos falharam, e eu me senti extremamente fraca, incapaz de me sustentar em pé. Caí no chão frio da sala de ensaio, cujas paredes azul bebê pareciam girar e se mover, mesmo paradas. A sensação de claustrofobia aumentava a cada segundo.
De joelhos, com as mãos apoiadas no chão, sentia-me totalmente desolada, mergulhada em um pânico inexplicável. Não havia uma ameaça real à vista, mas a ansiedade tomava conta de mim como uma sombra. A visão começou a embaçar, e uma vontade incontrolável de deitar e dormir tomou conta de mim, enquanto meu peito saltava, batendo tão alto que eu podia ouvir.
Então, as lágrimas começaram a escorrer; chorei como se fosse o último dia da minha vida, sem emitir nenhum som, apenas permitindo que as lágrimas rolassem pelo meu rosto. Era como se um ente querido tivesse morrido, mas, ao mesmo tempo, não havia motivo algum; nenhuma tristeza, nenhuma dor, nenhum perigo. Era uma dor que se manifestava sem causa, uma tempestade interna que eu não conseguia compreender. Chorei, mas não sabia por quê.
— Clara, comprei sorvete... você está aí? Clara? — escutei uma voz distante, próxima, mas ao mesmo tempo tão distante. A voz de Kate parecia ecoar, mas não conseguia responder.
Continuava a chorar no linóleo sujo, as sapatilhas me deixando sem forças para levantar ou responder. Soluçando histericamente, vi fios dos meus cabelos loiros se desprenderem do coque, que eu, em algum momento, começara a puxar pelo nervosismo. Os pensamentos se embaralhavam na minha mente, e eu mal conseguia me concentrar em qualquer coisa além da avalanche emocional que me sobrecarregava.
— Clara! Por que está chorando? Machucou a perna de novo? — Kate Miller, minha amiga de longa data e meu total oposto, colocou as chaves e o que quer que estivesse em suas mãos sobre a mesinha branca com tampo de vidro, que ficava no canto da sala, e correu ao meu encontro. Sua presença, embora sempre acolhedora, só me deixou mais apavorada. O desespero que eu sentia parecia aumentar com a preocupação dela, e comecei a chorar de um jeito mais alto e escandaloso.
— Oh querida, respire, vamos, respire bem devagar... Se acalme, venha.
— E-eu... Eu n-não sei por que... Eu não... sei — falava entre soluços enquanto ela tentava me levantar do chão e me levar até a cozinha. — Kate...
— Tudo bem... tudo bem, venha, vou te preparar uma água morna com açúcar — disse Kate, passando meu braço pelo seu ombro e me ajudando a chegar à cozinha, praticamente me carregando, pois me sentia tão mole que cairia no chão novamente a qualquer momento. A sensação de apoio dela era um alívio, mas o pânico ainda não me abandonava.
Colocando a água no micro-ondas, Kate me deixou sozinha por um momento e voltou para buscar as coisas que tinha deixado na sala de ensaio. Eu já havia parado de chorar, mas ainda soluçava. Limpei o rosto com as costas das mãos, sentindo-me quente, extremamente quente e grudenta. Tentando me recompor, tentei tomar a água sem muito ânimo. O calor do líquido parecia não ter efeito sobre a tempestade interna.
— Então...? — perguntou Kate ao voltar com uma sacola e guardar as coisas na minha geladeira. Uau, havia muita coisa: sorvete de chocomenta e de creme, três latinhas de chantilly, cereja em calda, cookies, Doritos, Cheetos, Hufles, Fines de todas as cores, tamanhos e sabores. Quando comecei a me perguntar como ela tinha conseguido colocar tudo aquilo em uma só sacola, ela tirou da bolsa uma garrafa de vinho. — Eu arrasei, não arrasei? Trouxe todos os seus antidepressivos.
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Entre sombras e passos
SpiritualNo mundo deslumbrante da dança, Clara é uma bailarina talentosa que brilha no palco, mas por trás das cortinas, enfrenta batalhas sombrias com sua saúde mental. A pressão por perfeição e a busca incessante por aprovação a levam a um estado de angúst...