I Can't

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Valentina P.O.V


- Se ela fosse normal nada disso teria acontecido. - Ouço a voz fria do meu pai e não sinto vontade de abrir os olhos e vero que vejo todos os dias, desprezo, então permaneço imóvel de olhos
fechados. Na verdade eu queria nunca mais abri-los.

Não queria mais estar aqui. Porque o Lucas não bateu mais forte em minha cabeça? Seria melhor assim.

- Alfonso, será que você não está vendo o estado dela? Ela é sua filha. Como pode ser tão invencível assim?

- Só disse a verdade. Se ela não tivesse nascido com esse defeito não apanharia quase todos os dias. Se soubéssemos que nasceria assim seria melhor tể-la
abortado enquanto ainda era tempo.

Ouvir essas palavras do homem que deveria ser meu herói, meu exemplo, meu porto seguro doeu mais do que qualquer surra que já levei. Não consegui conter as lágrimas o soluço que se prendia em um nó em minha garganta. Abri meus olhos ao sentir minha mãe apertando minha mão e olhei para o homem parado no meio do quarto. Olhei em seus olhos buscando
algum indício minimo de carinho, mas nada encontrei. O quarto ficou em completo silêncio, eu não sentia vontade de falar nada, pois tudo o que
sairia da minha boca seriam palavras de dor, de toda dor que sinto por tudo o que já ouvi e senti de todos em minha volta.

Queria dizer que não tenho culpa por nascer assim.

Queria dizer o quanto eu desejo um abraço de conforto deles, de todos eles. Só um abraço, pelo menos uma vez em minha vida. Queria dizer o quanto
dói ser desprezada em todos os lugares inclusive dentro da minha própria casa. Que choro todas as noites até dormir por exaustão por saber que irei
morrer sozinha, por não ser digna de amor. O quanto eu queria ser amada, uma vez, somente uma vez e me sentir amada de verdade. Me sentir normal do jeito que sou. Mas não consigo dizer. As palavras ficam presas em minha boca e eu as guardo junto com todas as mágoas e decepções dentro do meu peito.

Não quero mais viver. Não tenho motivos para continuar aqui, se nem meu pai me quer, quem vai me querer?

- Não chore minha filha, seu pai não quis dizer isso tudo bem? -Ela olha para Alfonso o repreendendo, mas eu não consigo parar de encarar ele com lágrimas caindo cada vez mais silenciosas em meus olhos. Ele não me quer ali. Ela também não me quer ali, não como quer a Clarke. A filha normal. Minha mãe sente por mim apenas pena, não amor de mãe. Ela não olha
para minm da mesma forma que olha para Clarke, com amor e carinho incondicional. - Está sentindo alguma
dor? Clarke vai chamar o médico.

Minha irmä me olha mais uma vez antes de sair do quarto. Clarke e eu continuamos a nos encarar em
silêncio. Anahi tenta chamar minha atenção para ela.

Acho que viu o que as palavras dele causaram em mim. O estrago causado em minha alma, ele também viu o efeito de suas palavras por isso não desvia o olhar. Naquele olhar eu buscoo motivo que precisava para fazer o que já venho pensando a algum tempo e
finalmente o encontro.

A alguns meses venho pensando em formas de morrer e motivos para fazê-lo. Motivos para tivar minha própria vida não faltavam, mas eu buscava desesperadamente um, somente um pequeno motivo para näo me matar. Tinha um pequeno fio de
esperança de achar uma razão para continuar aqui.

Mas essa esperança morria a cada dia e hoje naquele olhar e naquelas palavras eu vi que não existia razão alguma para continuar aqui. E entäo decidi. Não
haverá mais sofrimento para mim nem para eles pois só geram a filha perfeita e normal para cuidar.

Anahi continua a falar, perguntar o que estou sentindo mas eu não respondo. O silêncio é meu novo refugio.

Não adianta falar se ninguém quer realmente me ouvir. Então fico somente reclusa em mim mesma e meus pensamentos.

Se Eu Não Tivesse Você (Valu)Onde histórias criam vida. Descubra agora