Capítulo 01: Amaldiçoados

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"I'm a creep, I'm a weirdo..."

A música ressoava no carro enquanto Will dirigia em direção a Tataperoaba. Os acordes melancólicos de "Creep", da banda Radiohead, acompanhavam seus pensamentos, como se soubessem da dor que ele carregava. Era um retorno a um lugar que uma vez chamou de lar, mas que agora parecia envolto em mistério e sombras. A estrada estreita serpenteava por entre árvores altas, e cada curva trouxe de volta memórias de um passado que ele tentava esquecer.

Quando finalmente avistou a cidade ao longe, uma sensação de desconforto começou a crescer dentro dele. O céu estava nublado, e uma brisa fria soprou pelas janelas do carro, fazendo-o estremecer. As ruas, antes cheias de vida, pareciam desertas, como se Tataperoaba estivesse em um estado de luto silencioso.

Ao chegar à antiga casa da família, Will parou em frente ao portão enferrujado. A casa, embora ainda imponente, estava coberta por um manto de poeira e abandono. Ele respirou fundo e saiu do carro, sentindo o peso das lembranças o envolvem. Cada passo em direção à entrada o fazia lembrar de risadas, brincadeiras e, finalmente, da tragédia que havia mudado tudo.

Ao abrir a porta, um rangido ecoou pelo corredor, e ele se deparou com a sala de estar, onde o tempo parecia ter parado. Os móveis antigos estavam cobertos de lençóis brancos, como fantasmas de uma vida passada. Will caminhou pela casa, sentindo uma mistura de nostalgia e dor. O cheiro de mofo e madeira envelhecida o envolveu, e ele se viu atraído por uma prateleira repleta de objetos que pertenciam à sua infância.

Em meio àquelas relíquias, ele encontrou um álbum de fotos. Suas mãos tremiam enquanto ele folheava as páginas, repletas de imagens de momentos felizes. Lá estava seu irmão, sorrindo, com os braços em volta de Will. A lembrança o atingiu como uma onda de tristeza, e ele se lembrou da última vez que o viu, antes da tragédia que assolou a família.

Will saiu de casa e caminhou em direção à praça da cidade. O sol estava começando a se pôr, e a luz alaranjada iluminava o espaço, trazendo uma sensação de nostalgia. As memórias da infância invadiram sua mente enquanto ele observava as mudanças ao redor. As árvores tinham crescido, e algumas lojas haviam fechado, mas a essência de Tataperoaba ainda estava lá.

Enquanto ele caminhava, avistou uma figura familiar do outro lado da praça. Era Lucas, um dos seus antigos amigos. Ele parecia diferente, mais maduro e confiante, mas ainda carregava aquele sorriso que Will lembrava tão bem.

— Will! — exclamou Lucas, aproximando-se com um brilho nos olhos. — Cara, quanto tempo! Como você está?

— E aí, Lucas! — respondeu Will, forçando um sorriso. — Estou bem, só... voltando para casa. E você? Você está diferente, parece que cresceu uns dez anos!

— É, a vida faz isso com a gente, né? — Lucas riu, passando a mão pelos cabelos. — Mudei bastante desde que você foi embora. As coisas aqui mudaram muito também. Você não vai acreditar no que aconteceu.

— É, eu notei algumas mudanças — disse Will, olhando em volta. — A cidade tá diferente.

— E aí, você viu a Yoh? — Lucas perguntou, olhando fixamente para Will. 

Will hesitou por um momento, a menção do nome dela pesando no ar entre eles. Lembranças boas e ruins se misturaram em sua mente, e ele sentiu seu estômago revirar.

— Ah, eu... não a vi — respondeu, desviando o olhar. — Preciso ir, na verdade. Tenho algumas coisas para resolver.

— Tudo bem, cara. Vamos nos falar depois? — Lucas disse, notando a mudança no tom de Will.

— Claro, com certeza — Will respondeu apressadamente, acenando enquanto se afastava. O coração batia forte em seu peito, e ele precisava de um tempo para si mesmo. A praça e suas lembranças se tornaram pesadas, e ele não queria mais se prender ao passado.

Sombras entre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora