3 CONEXÕES E DESCOBERTAS

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Jasmine

Já se passou um ano desde que entrei na universidade, e estou amando cada nova experiência. Fiz muitos amigos, de várias idades e lugares – alguns da minha cidade e outros de municípios vizinhos. Como há apenas uma universidade na região, as vagas são bem limitadas e muito disputadas; por isso, agradeço a Deus todos os dias por ter conseguido a minha. Nossos encontros, durante a semana, se tornam um pouco mais esporádicos, pois somos de cursos diferentes. Paty, Maria e Igor são meus amigos mais próximos, mas nossos horários nem sempre coincidem. Dentre eles, quem eu mais vejo é o Igor – pego carona com ele pelo menos três vezes por semana.

Meus pais, preocupados, me matricularam em uma autoescola; dizem que já é hora de eu ter meu próprio carro. Mas eu queria que o primeiro fosse comprado com o meu trabalho. Meu pai já carrega tantas responsabilidades... Faz pouco tempo que ele e meu tio Renato, pai de Igor, conseguiram se recuperar financeiramente depois que uma praga devastou a plantação, levando quase tudo. Foi um período difícil.

No caminho para o refeitório, cumprimento algumas pessoas. Há umas patricinhas que fingem simpatia com sorrisos falsos e outras que nem me dão confiança. Você acha que me importo? Claro que não! Sou muito bem resolvida com a minha cor, minhas curvas (mesmo com a bunda grande) e meu peso. Quero dizer, mais ou menos, porque poderia perder uns cinco quilos, mas não largo os doces, então fica difícil. Sou a mistura de um combo desagradável para alguns (corpo fora do padrão, acima do peso e negra) que normalmente é ridicularizado, rejeitado, considerado feio, entre outras coisas. E, ainda sou feliz. Eles devem pensar: "Como uma pessoa assim pode ser feliz?" Entretanto, não me importo com a opinião das pessoas, e aqueles que me rejeitam por causa da minha aparência, não me merecem.

De repente, sou abraçada pelo pescoço. — Só poderia ser você, Yure — ele é da turma da Maria. Como eu disse, fiz várias amizades, não só da minha turma, mas também dos meus amigos. — Eu quero saber a receita do seu bom humor constante, porque estou num péssimo dia. Os filósofos estão me tirando do sério; não aguento mais ouvir o nome de nenhum deles. Sou capaz até de conhecer alguém chamado Sócrates e xingá-lo — ele brinca, e eu caio na risada. — Pense pelo lado positivo: depois da sua avaliação, acaba o problema dos filósofos, se ao menos você ficar na média. Então, coloque o ranço de lado e estude o suficiente para não precisar repetir a matéria. — Boa ideia, senhora felicidade. — Ele beija minha bochecha e pergunta: — Vai ao refeitório? — Assinto, e seguimos juntos.

No caminho, Igor se aproxima e, com um gesto rápido, tira o braço de Yure do meu ombro e segura minha mão. — Quem sou eu para competir, né? O cara é mais alto do que eu e chegou na sua vida antes de mim — Yure brinca, e eu rio discretamente, enquanto Igor segue sério. Em outra época, eu teria brigado com ele, mas agora entendo suas maneiras e apenas sigo em frente.

No refeitório, encontramos Maria sentada com algumas amigas e um amigo que não conheço. Pegamos nossas bandejas e nos juntamos a eles. Logo percebo as meninas lançando olhares e sorrisos para Igor, o que me incomoda. Maria percebe minha expressão e pergunta em voz baixa: — O que foi, Jas? Por que está com essa cara emburrada? — Suas amigas são sem noção. Não vê que elas estão dando em cima do Igor? — E o que tem isso? Ele é solteiro, Jas. Elas também. Qual é o problema? — Acho isso um comportamento desrespeitoso. Não é comportamento de uma mulher decente. — Está falando como uma velha. E desde quando se importa com quem o Igor flerta ou não? — Deixa pra lá, você não entende.

Engulo seco e termino a refeição. Uma das meninas passa dos limites, deslizando a mão pelo braço de Igor, que parece desconfortável. Ele me olha, mas eu apenas dou de ombros. Afinal, ele poderia dar um basta, se quisesse.

Decido ir embora, já deu para mim. Saio em direção à sala de aula, ainda incomodada. — Jas, espera — ouço Igor me chamar e continuo caminhando. Ele me alcança. — Caramba, te pedi para me esperar, acabei de almoçar, quase coloquei a comida para fora. — Diz sem fôlego. — O que você quer, Igor? — Ei! O que eu te fiz para você estar me tratando assim? — ele segura meus braços, fazendo com que eu pare de andar e olhe para ele. — Você não se manca, né, Igor? Precisava ficar de assanhamento com aquelas garotas? — Calma aí, Jas. Eu estava de boa, não tenho culpa se aquelas garotas estavam dando em cima de mim. — Então por que não as dispensou? — Não queria ser grosso. — Ah, entendi. Você só pode ser grosso comigo. — Jas, as raras vezes que fui grosso com você foram porque você me tirou do sério. Na maioria das vezes você briga sozinha. — Agora eu sou a maluca do rolê? Tá bom.

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