1 Pequena Feliz

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Jasmine

O sol da manhã ilumina as ruas da minha pequena e encantadora cidade, Jardim do Vale, onde eu, Jasmine, moro desde que nasci. Hoje, aos dezoito anos, estou realizando um dos meus maiores sonhos: ingressar na faculdade de veterinária. Sorrio enquanto caminho pela praça central, onde todos me conhecem – sabe como é cidade pequena, ainda mais depois de tanto tempo aqui. Amo demais minha cidade e as pessoas daqui.

— Bom dia, dona Helena! — cumprimento a gentil senhora, acenando com alegria enquanto ela rega as plantas em frente à sua loja de flores. — Bom dia, Pequena Feliz! — me chama como a maioria das pessoas daqui. O apelido pegou na infância e, mesmo não sendo tão pequena assim, continua comigo. Dizem que minha alegria é contagiante, que é impossível estar ao meu lado e não sorrir.

Ser chamada de Pequena Feliz é quase como receber um lembrete constante de que a felicidade faz parte da minha essência. Não que minha vida seja perfeita; como todo mundo, tenho meus dias difíceis. Há dois meses, por exemplo, perdi minha avó paterna, que lutou bravamente contra o câncer, mas infelizmente perdeu a batalha. A descoberta tardia e a idade avançada fizeram com que ela nos deixasse apenas quatro meses após o diagnóstico. Mesmo assim, sempre busco enxergar o lado bom das coisas. Essa perspectiva acaba se refletindo nas pessoas ao meu redor.

Gosto de pensar que a felicidade é algo que posso oferecer ao mundo, uma maneira de tornar o dia de alguém um pouco mais leve. No fundo, acho que o apelido não poderia ser mais adequado.

— Ah! Essas flores são tão lindas! — Tão lindas quanto você. — Com esse peso todo? — questiono, com os braços cruzados. Desde a adolescência, travo uma luta infinita com a balança. — O que você tem dentro de você ultrapassa suas medidas. — Fico feliz com seu modo de me ver. Despeço-me, jogando um beijo para ela.

Adoro esse contato com as pessoas. Para mim, a cidade é como uma grande família. Se já sou feliz normalmente, imagine hoje, depois de receber a notícia de que fui aprovada e serei veterinária. Para completar, um lindo elogio.

No meu trajeto, passo pela padaria do seu Tonico, onde o cheirinho de pão fresco invade minhas narinas, me deixando com água na boca. Mas sufoco meu desejo de comer pão porque estou fazendo dieta, quer dizer, comecei hoje. Bem que eu poderia fazer uma exceção, já que hoje é dia de comemoração. Cumprimento os conhecidos que estão tomando café ali e peço um pão na chapa. Só um pão não vai fazer mal, né? Saboreio meu pão quentinho e delicioso, acompanhado de um pingado. — Obrigada, seu Tonico! — digo antes de sair. Ele acena com seu pano de prato sobre o ombro.

Enquanto caminho, converso com mais algumas pessoas e logo vejo a pequena cadelinha vira-lata da loja de ração. Quando me aproximo, ela começa a abanar o rabo. Abaixo-me imediatamente para acariciá-la.

— Ei, Pipoca! Como você está hoje, hein? — falo enquanto coço sua orelha. Amo todos os animais e sinto que eles sabem disso. São sempre atraídos pelo meu carinho e cuidado.

— Ela está bem, foi só um mal-estar por algo que comeu na rua — responde dona Jurema, da porta de sua loja. Pipoca é sua cadela, e ela vem todos os dias à loja com ela. Ontem, não estava se sentindo bem. — Que bom que você melhorou, pequena — digo, acariciando seus pelos brancos e macios. Sorrio para dona Jurema antes de ir embora.

Demoro a chegar à confeitaria da tia Margarida, mãe da Paty, minha amiga, porque, como vocês puderam constatar, não consigo passar pelas pessoas sem trocar uma palavrinha. Parei até na pracinha para falar com meu avô, que está aposentado e todos os dias se encontra com seus amigos, também aposentados, para jogar cartas – a turma dos vovôs. Minha mãe recomendou um bolo para comemorarmos minha aprovação na faculdade. Convidamos a família e alguns amigos.

JasmineOnde histórias criam vida. Descubra agora