O Mediador

Meu quarto

"Então pessoal antes de continuar a história vim falar com vocês, vim pedir licença poética e histórica para história, sei que na Tailândia não existe caubói, mas como essa  história é uma adaptação e essa é uma parte bem importante do personagem não tenho como mudar isso, então peço que relevem a parte histórica e encarem como licença poetica"

-Gulf está tudo bem mesmo?.... digo sei que é uma mudança muito grande, sei pedir para você se separar da vovó e do Mild foi egoísmo meu, sei que as coisas não tem sido fáceis depois da morte do seu pai.

Minha mãe acha que o motivo pelo qual não sou um adolescente normal cheio de amigos e que sai para festas, como ela quando tinha minha idade e pelo fato dá perda do meu pai, ela acha que o motivo de eu ter alguns comportamentos bizarros é esse, admito que para quem não sabe a verdade muitas coisas parecem bizarras.

Muitas vezes já fui pego onde não devia, já fui levado para casa algumas vezes pela polícia, por invasão de propriedade, vandalismo e arrombamento, mas nunca fui condenado por nenhuma delas, minha ficha continua limpa. Porém já passei algumas horas no consultório de terapeutas, ouvindo que minha tendência a "falar comigo mesmo" é super normal, mas o fato de falar com pessoas "que não estão presentes" já é um pouco preocupante. O mesmo se pode dizer sobre minha aversão a lugares antigos, que tenham mais do que 5 anos, ou ainda o fato de eu passar muito tempo em cemitérios, templos, mesquitas, casas ou apartamentos trancados.
Bem pra não dizer que nunca cumpri nenhuma pena na oitava serie as duas semanas de suspensão foram anotadas na minha caderneta. Enfim não é estranho o fato de minha mãe estar agora sentada na minha cama falando sobre "começar de novo" e coisas assim. O é que não deixava de ser estranho é o fato de todo esse discurso ocorrer enquanto a alguns passos de nós, aquele fantasma nos observava com atenção, enquanto ela alheia a tudo falava como as coisas agora seria muito melhores. Era o que ela desejava, e eu estava disposto a tudo ao meu alcance para satisfazê-la, faria tudo o possível para não ser preso, ou internado. -Então Gupy, quer ajuda para desfazer as malas- Não precisa mãe,fica tranquila.
-Então vou ver se Supp precisa de ajuda com o jantar.-Claro vou dar uma ajeitada aqui e já desço. Depois que ela saiu do quarto respirei fundo e me virei- Ok agora somos só nós dois, me diga quem diabos é você?.

Se eu disser que ele ficou surpreso em ser questionado, não daria a vocês a real dimensão da expressão dele. Ele ficou tão chocado que chegou a olhar ao redor para ter certeza que não havia mais ninguém no quarto. Ainda espantado só pude ouvir " Por Buda" com uma voz que provavelmente faria Mild desmaiar.
-Não adianta chamar forças superiores- puxei a cadeira me sentei e o encarei fixamente- acredito que ele não esteja te ouvindo, afinal se ouvisse você não estaria vagando por tanto tempo não é mesmo?.- dei uma olhada de cima a baixo em suas roupas, e juro parece que ele tinha saído de um filme de velho oeste- aliás, quanto tempo faz? ......uns 150 anos? Já faz tanto tempo assim que você bateu as botas?
Ele me olhou profundamente com seus olhos negros , e com a voz meio rouca, acho que por falta de uso perguntou:
-O que é bater as botas?
Foi automático meu revirar de olhos, mas respirei fundo e expliquei:
-Esticar as canelas, ir dessa para melhor, ir de arrasta.
Pela cara dele pude notar que ele continuava sem entender , então tive que dizer:
-Morreu.
-Ah, morri.
Mas ele não me respondeu apenas balançava a cabeça.
-Não entendo como,.... como você me vê, esses anos, todos ninguém nunca .....
-E eu vejo- fui cortando o assunto, afinal vocês devem imaginar nesses anos todos quantas vezes ouvi isso não é- Bem os tempos mudaram, então qual é a sua?
Ele piscava aqueles enormes olhos negros, claramente confuso, confesso que não é sempre que eu dou de cara com um fantasmas que é uma graça, mas aquele cara , puxa vida se morto eu queria adivinhar como era por baixo daquela camisa branca, que aliás estava aberta mostrando um bocado do peito até o abdômen, imaginem esse homem vivo, Será que fantasma faz abdominal? Tá aí algo que nunca tive oportunidade -ou vontade- de explorar pelo menos até agora. Não que eu fosse me deixar abalar por isso a essa altura, afinal eu sou um profissional.