Fifteen • bronseele (hsr); AU

Interlúdio: uma história sobre (quase) quinze anos atrás

A fama é um fenômeno no mínimo curioso sobre os seres humanos.

A existência e a percepção da existência dos seres humanos é quase como uma contradição.

Quando se trata da maioria das pessoas, é certo que mais de 99% dos demais seres humanos sequer sabem da sua existência, mas todos ainda sim são capazes de chorar como se seus problemas e medos fossem a coisa mais relevante do mundo.

Da mesma forma, essas mesmas pessoas muitas vezes menosprezam os problemas alheios.

"Se eu tivesse o que ele tem, eu teria vergonha de sofrer."

"Se eu tivesse a vida dela, eu não sofreria como ela ousa fazer."

Esse tipo de pensamento é muito comum, e o mais engraçado é que ao mesmo tempo em que você pode estar pensando isso de alguém, uma outra pessoa pode estar olhando para você e pensando a mesma coisa.

No fim, somos todos iguais, mas somos incapazes de perceber isso. E nos levamos a sério demais ou de menos.

Mas a fama... a fama é como algo que muda o padrão natural das coisas.

Uma pessoa que se torna mais conhecida que a maioria tende a atrair mais olhares, e esses olhares carregam dos mais primitivos aos mais complexos sentimentos: amor, ódio, inveja, admiração... e quando se trata do enigmático ser humano, as coisas podem vir a sair do controle.

Mas o que exatamente faz as pessoas saírem do controle ao ponto disso se tornar um problema grave? A resposta é simples.

Quando um ser humano passa a não enxergar outra pessoa como um ser humano também.

•••

Mesmo quando as luzes do palco se apagaram naquela noite, os milhares de olhares que a cercavam não saíram da memória da garota.

Seus lábios formavam um sorriso e seus olhos brilhavam. Apesar de estar suando e sem fôlego, ela estava muito feliz. Tão feliz que mal podia responder todas as parabenizações e comemorações ao seu redor.

Todos diziam que aquilo era só o começo, e que tudo havia corrido perfeitamente bem.

Apesar de ser tão jovem, a garota sentiu como se um grande peso estivesse quase sendo retirado de seu coração. A sensação era como se, após meses de tempestade, o sol finalmente estivesse prestes a brilhar novamente.

"Venha aqui, Bronya." Ao se virar para trás, a garota viu sua mãe, e correu em sua direção.

Naquele momento sua mãe a abraçou. Bronya arregalou os olhos, surpresa.

Sua mãe nunca foi uma pessoa que costumava demonstrar afeto físico, apesar dela garantir que sua filha se sentisse amada de outras maneiras. Mas naquele momento, Cocolia havia escolhido abraçá-la.

E foi um abraço tão forte quanto o daquele dia chuvoso, não tanto tempo atrás.

"Mamãe?"

"Você se saiu muito bem, Bronya. Estou orgulhosa."

Bronya sorriu, agarrando-se com força a sua mãe e fechando os olhos ao ter seu cabelo afagado por ela.

Era tudo o que ela gostaria de ouvir.

Aquele foi um dia bom. Ela estava tão feliz. E sua mãe também parecia feliz, pela primeira vez em muito tempo.

Talvez aquela fosse sua resposta. A resposta que faria seus dias voltarem a ser felizes e ensolarados.

Ela se sentia aquecida e cheia de esperança. Isso era tudo o que a jovem garota queria e precisava sentir.

Amor.

Por mais clichê que parecesse, amor parecia ser a resposta para seus problemas.

Os olhares brilhantes e aplausos a fizeram se sentir amada.

O orgulho de sua mãe a fez se sentir amada.

Ela gostava de cantar e se apresentar.

Então, cantar deveria ser a chave para se sentir amada.

Se sentir tão amada, pela primeira vez em tempos foi como mitigar a dor que vinha corroendo seu peito e a fazendo perder as esperanças sobre tudo. Era isso que ela precisava fazer. Talvez, assim, seus dias de sol estivessem por vir.

No entanto, aquele ainda era um dia chuvoso. Tão chuvoso quanto o dia em que a fez pensar pela primeira vez nesse assunto.

Foi nesse dia chuvoso, que Bronya, uma garotinha da cidade de Belobog e que coincidentemente era filha da modelo e empresária Cocolia Rand, completou doze anos de idade.

Foi nesse dia, que essa garotinha subiu em um palco pela primeira vez.

E foi nesse dia que nasceu Bronya Rand, a "Princesa de Belobog".

E para o público, foi nesse dia que aquela garotinha deixou de ser humana.