uno.

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Mais um dia igual aos outros no Limone, o restaurante em que trabalho a quase cinco anos, estou aqui desde que cheguei a Itália com meus dezenove anos. Aquilo somos em seis funcionários, eu Ramiro sou garçom e cozinho quando Sofia nossa chefe estava embolada demais, Giorgia é garçonete também, Nicolo faz a limpeza e o caixa, Vic ajuda com as louças e cortando legumes, Luigi sobrinho do dono gosta de dizer que também é um dos colaboradores mas só aparece para atrapalhar.

Sou completamente apaixonado por este país, e foi o clima, a segurança e a tranquilidade que me trouxeram ao Cinque Terre. A vista de frente ao mar é o que mais atrai turistas que adoram fazer fotos de todos os jeitos imagináveis, mesmo não tendo nenhum luxo o 'Limone' ainda é um dos mais frequentados, aconchegante e bem perto do mar.

— Buon pomeriggio, signora — eu disse à uma velha sentada na parte externa do restaurante — ha deciso?

A mulher parecia ter seus setenta anos, achei até estranho ela ali sozinha, mas provavelmente era puro preconceito meu.

— Un spaghetti al sugo, per favore! — italiano precário, provavelmente foi único prato que aprendeu a pronunciar.

Entreguei o pedido pra Sofia e me sentei com Nicolo a mesa, enquanto Luigi nos olhava desconfiado. Sujeito chato esse Italiano de merda, sempre atrás de mim, me vigiando, tentando ver se estou com alguém e se tiver ele vem tirar satisfação como fosse meu dono, o alvo mais constante de seus ciúmes é justamente Nic com quem me sento neste momento.

Vamos primeiro aos fatos. Sim Luigi é muito bonito e a primeira vez que ficamos, cinco anos atrás, eu até achei que poderia me apaixonar por ele, era muito novo e muito inocente, me deixei levar no inicio mas com o passar do tempo e os conselhos do meu melhor amigo e colega de casa acabei enxergando o quanto ele era possessivo.

"Caras mais velhos são um delicia, amigo, mas só pra transar e se mandar, virar sugar baby é fria viu? cai fora logo, antes que ele sugue toda sua juventude"

Foi a ultima coisa que Thiago disse sobre esse relacionamento, e acabou meio que profetizando o que viria a seguir, meses de sofrimento até eu reunir o que restava de meu orgulho, tomar coragem e terminar.

"Estamos em momentos diferentes da vida, eu gosto de você mas gosto da minha vida também, dos meus amigos, da minha liberdade"

Já tive recaídas sim, confesso, ele é gostoso demais, cheiroso demais e sabe como seduzir um idiota. Sempre deixei bem claro que não significaria nada mas entrou por um ouvido e saiu pelo outro...e por isso não temos mais nada hoje em dia, mal converso com ele, só o necessário.

O ciúmes com Nicolo é infundado, ele é um amigo, sai comigo pra todo canto e somente isso. Tá certo que nos empolgamos uma vez em Monterosso, eu, ele e Thiago começamos uma coisinha durante um luau na praia mas só os dois terminaram. Nesse quesito sou completamente a moda antiga e completamente contra a tal da poligamia, mesmo que na brincadeira.

A parte mais triste da minha história é que Thiago e eu não temos ninguém na vida, além de um ao outro, crescemos em um orfanato e assim que conseguimos grana o suficiente viemos tentar a vida por aqui.

Ele virou guia pra turistas, diariamente passeia entre as comunas, conhece o Cinque Terre de cabo a rabo como a palma da mão. Já eu, terminei a faculdade de administração e pasmem, virei sócio do restaurante, em breve comprarei a outra parte e serei o único dono, coisa que Luigi nem sonha, ele gosta de se sentir chefe...imagina quando souber que sou mais que ele.

Considero vida ganha tanto pra mim quanto pra meu irmão de alma, vivemos bem em um lugar que amamos com muitos amigos que viraram praticamente nossa família.

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