A cidade se estendia abaixo delas, uma tapeçaria de luzes e sombras, os sons distantes da vida urbana se entrelaçando com o sussurro do vento. Orm sentou-se na beira do prédio, as pernas balançando no vazio, enquanto sua mente vagava pelas lembranças que ecoavam nesse espaço familiar. O ar fresco da noite carregava um cheiro de umidade e promessas não cumpridas, quase como se o próprio prédio respirasse com a história delas.
Ling, ao se aproximar, trouxe consigo um aroma de whisky que, misturado ao frescor da noite, a fez parecer um espectro de seu passado. Ela hesitou por um momento, observando Orm com um misto de cautela e carinho. Ao sentar-se ao lado dela, a lembrança das longas conversas e risadas que compartilhavam ali se fez presente, como se as paredes guardassem segredos que ainda ressoavam no ar.
— Você estava bebendo? — Orm perguntou, a voz firme, mas com uma pitada de preocupação. O olhar dela era intenso, buscando na expressão de Ling uma resposta que talvez não quisesse ouvir.
Ling, sem se envergonhar, assentiu lentamente, o sorriso suave iluminando seu rosto. A luz da cidade refletia em seus olhos, que pareciam brilhar com uma mistura de melancolia e força.
— Estava no bar onde costumávamos ir — disse, a voz quase um eco de um tempo que parecia distante. — Sempre vou lá quando preciso pensar.
O silêncio entre elas cresceu, denso e cheio de significados não ditos. Orm desviou o olhar para as luzes piscantes da cidade, como se nelas estivesse escondida uma parte de seu ser que ainda não conseguia acessar. O movimento da vida lá embaixo parecia tão vibrante e livre, enquanto ela se sentia presa em um passado que não conseguia deixar completamente para trás.
— Você ainda vai naquele bar? — perguntou, o tom mais suave agora, quase como um convite para que Ling compartilhasse mais.
Ling sorriu, uma expressão que misturava alegria e dor.
— Vou, sim. Acho que nunca deixei de ir. — Ela deu de ombros, o gesto quase automático, mas Orm percebeu a fraqueza que se escondia por trás. — Sempre volto lá quando sinto falta de... você.
As palavras ressoaram como um sinfonia triste na mente de Orm. O que ela mais queria era que a distância e o tempo não as tivessem separado, mas a realidade era mais dura do que isso. O silêncio entre elas se estendeu, até que Orm finalmente quebrou a tensão, voltando-se para Ling.
— O que você pensa quando vai ao bar? — perguntou, a curiosidade tingindo sua voz.
Ling olhou para a cidade, seu olhar distante e nostálgico.
— Em como éramos diferentes... e em como nada mudou. — O olhar de Ling parecia perdido nas memórias que flutuavam ao redor delas, como fantasmas de dias mais simples. — Lembro de quando a vida era simples... humana — um leve sorriso nos lábios. — A única preocupação que tínhamos era qual música tocaria numa sexta-feira à noite.
Orm não conseguiu evitar um sorriso ao ouvir isso, as lembranças de risadas e danças em um espaço pequeno e acolhedor inundando sua mente.
— Sempre voltamos aos mesmos lugares, mesmo com tudo mudado — comentou, refletindo sobre como a vida delas havia se transformado, mas a conexão com o passado parecia inquebrantável.
Ling a olhou, a curiosidade brilhando em seus olhos.
— E você? Fez isso também?
Orm deu de ombros, um gesto casual que mal ocultava a profundidade de seus pensamentos. Desviou o olhar para o espaço vazio abaixo delas, onde o mundo continuava a girar, indiferente às suas histórias.
— Eu sempre volto a este prédio quando preciso pensar — disse, a voz mais baixa agora. — Foi aqui que tudo começou para mim.
Ling olhou para Orm, sua curiosidade crescendo como um fogo gentil, e a pergunta escapou de seus lábios.
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a Dança do Eclipse- LingOrm (PAUSADA)
FanficEm um universo onde religião e ordem ditam a verdade, até que ponto um amor pode ser considerado impossível, quando nem o céu nem o inferno conseguem conter o desejo ardente entre duas almas? Após um inesperado reencontro, paixões antigas ressurgem...