A tentativa

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Doarda, São Paulo 2023

Eu não sabia o que tinha passado pela minha cabeça para responder a Sofia. Eu acho que estava sensível demais, exatamente como eles me chamaram. Eu precisava desabafar com alguém e deixe-me levar.

Mas eu não pensei nas consequências.

- Toma tua comida. - Meu tio chegou no quarto abrindo a porta com tudo e largando o prato sem cuidado em cima da escrivaninha.

Eu não falei nada, não tinha o que eu falar. Eu não sabia mais qual era a minha voz, eu não falava nem comigo mesma.

Eu tinha medo de me abrir novamente.

Eu olhei para a comida um pouco no prato e um pouco na mesa por conta da força que ele largou o prato. Eu estava sem fome, como sempre.

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Sofia Santino, São Paulo 2023

- Pegaram tudo então?- Falei pegando a chave do carro.

- Sim, mas tu tem certeza que não é alto a casa dela? - Caick falou preocupado.

Sim, é isso mesmo que vocês estão pensando, eu vou tentar subir no quarto da Duda escalando a janela. Vai dar certo? Provavelmente não, e provavelmente ela vai me jogar para fora da janela quando me ver ali.

Mas, não custa tentar.

Chamei só o Caick para ir comigo. Até por que o problema disso tudo é só nosso, e se tiver menos gente talvez ela se sinta melhor do que com nosso grupo inteiro de amigos.

- Tá na hora, se não vai anoitecer muito. - Eu falei me levantando do sofá.

Saímos da casa do Caick e entramos direto no meu carro. O caminho até a casa da Duda foi um completo silêncio. Tenho certeza que o Caick está tão nervoso quanto eu.

Eu ainda não tinha noção de como íamos escalar a casa da Duda.

Eu só precisava falar com ela.

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Doarda, São Paulo 2023

Eu estava quase caindo no sono, já tinha chorado muito esse dia, não tinha mais forças. A comida continuava no mesmo lugar, mas eu não sentia fome.

Eu comecei escutar movimentação do lado de fora da minha casa, algo que não é normal. Fui até a janela me escondendo o máximo das pessoas que poderiam estar lá fora.

Não consegui ver nada, então fui até o banheiro tomar um banho. Pelo menos isso eu ainda tinha ânimo de fazer. Eu não costumo ter banhos muito demorados, mas demorados o suficiente para mim pensar e chorar bastante nele.

Saindo do banheiro já com meu moletom preto e calça larga. Algo que fazia eu me sentir um pouco melhor de não ver os hematomas que todos os dias apareciam mais.

Minha toalha caiu no chão e minha expressão se desfez quando eu vi quem estava do lado de fora da janela. Eu caí no chão, me rastejando para mais perto da cadeira da escrivaninha, com os olhos arregalados.

- Duda, ei. - Sofia tentava me acalmar do lado de fora da minha janela vendo minha expressão nada boa.

- Sô... - Eu soltei com um ar que estava preso, mas foi muito baixo, baixo o suficiente para ela não ouvir.

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