Look at me- AgathaRio

•01

•Rio Vidal

Eu não conseguia acreditar que essa era minha última alternativa. Mudar-me para essa cidade no fim do mundo definitivamente não estava nos meus planos. Mas, após tantos problemas com meu sócio e as diversas dívidas que ele deixou para a nossa empresa, essa foi minha única saída. Eu estava completamente sem rumo, e em um momento de desespero, mandei uma mensagem para Wanda, minha melhor amiga, perguntando se poderia passar uma temporada na casa dela, aqui em Westview. Só não me dei conta de que isso significava conviver com seus filhos gêmeos, que não eram exatamente as crianças mais fáceis de lidar.

Wanda me ajudava a tirar as poucas coisas que trouxe para cá, apenas o necessário para sobreviver.

— Sabe, vai ser bom ter você por perto por um tempo... — a ruiva começa a falar, e eu já sabia exatamente onde essa conversa ia terminar.

— Não tenho planos de ficar aqui permanentemente — respondo rápido, evitando que o assunto se estenda mais do que o necessário. Wanda estava prestes a me responder, mas fomos interrompidas por alguém que chegou praticamente correndo até ela. Era uma mulher. Tinha cabelos castanhos que emolduravam perfeitamente seu rosto, os lábios tingidos de vermelho e usava um terninho lilás que combinava com uma calça de alfaiataria. Acho que fiquei tempo demais encarando, pois, quando voltei à realidade, percebi um olhar um tanto sério vindo de um menino pequeno agarrado às pernas da mulher.

— Eu sei que é super em cima da hora, mas você pode deixar o Nick na escola? Estou com uma emergência no escritório. — Por um instante, quase respondi, mas logo me toquei que a conversa era com Wanda.

— Agatha, claro, não tem problema. O Nick é um amor. — Eu não conseguia tirar os olhos da mulher à minha frente. Agatha. Agora eu sabia seu nome.

— Muito obrigada, estou te devendo essa... — a vejo se abaixar na altura do menino e lhe dar um beijo na testa. — Comporte-se, Nicholas, e, por favor, ouça a Tia Wanda, sim?

— Sim, mama — o menino tinha um sorriso doce nos lábios, mas, no instante em que sua mãe se virou, ele fez uma careta para mim. — Você está olhando muito para a minha mãe...

— O quê? Não... — Eu definitivamente estava olhando para a mãe dele, mas não ia dizer isso para uma criança que aparentava ter, no máximo, uns seis anos.

— Vamos, Nick, os gêmeos estão lá dentro — Wanda guia o menino para dentro da casa, deixando-me com as últimas duas malas, que logo trato de levar para dentro.

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•Agatha Harkness

Eu tinha Nicholas aninhado nos meus braços enquanto acariciava seus cabelos. Esse, sem sombra de dúvida, era um dos meus momentos favoritos. Minha rotina era o que as pessoas chamam de caótica, sem muito tempo sobrando, sempre entre levar Nicholas para a escola, atender diversos clientes no escritório e trazê-lo de volta para casa. Mas esse momento fazia tudo valer a pena.

— Mama... — Nick levanta o rosto e me encara. Seus olhos amendoados eram perfeitos, ou talvez fosse só meu lado mãe falando alto e dizendo que ele era totalmente perfeito.

— Sim, meu amor? — passo os dedos pelo seu rosto, tirando o cabelo que cobria parte dos olhos.

— Sinto falta da mamãe... — Isso me atingiu em cheio. Mordo os lábios, tentando controlar a vontade de chorar. O divórcio ainda era um tópico sensível para mim, mesmo após quase um ano. Ela simplesmente decidiu que não fazíamos mais parte dos sonhos dela e foi embora. Admito que nossa relação sempre foi conturbada, marcada por brigas, mas ver os papéis de divórcio na minha frente foi doloroso. Lembro-me de recebê-los para assinar e ter que contar a Nicholas que ela não moraria mais conosco. Porém, não estava preparada para que ela desaparecesse de nossas vidas.

— Me desculpe... — abraço o corpo de Nick com força contra o meu. Eu precisava ser forte agora, não por mim, mas por ele. — Somos só eu e você agora, sim? — deixo um beijo em sua testa. Levou alguns minutos até que Nicholas dormisse. Coloco-o com cuidado ao meu lado na cama e pego meu celular. Olho longamente para a conversa e até cogito enviar várias mensagens amaldiçoando-a por me fazer lidar com isso sozinha e nem ao menos dar uma explicação ao nosso filho, mas eu não faria isso. Não me rebaixaria a esse nível.

O som irritante do despertador me acorda. Eu queria jogá-lo contra a parede e dormir mais alguns minutos. Assim que me sento na cama, meus olhos vão diretamente a Nick, que dormia profundamente, e um sorriso bobo se forma em meus lábios. Ele realmente era o motivo da minha alegria.

— Vamos lá, coelhinho... — deixo pequenos beijos pelo seu rosto, numa tentativa de acordá-lo. — Vamos, meu amor...

— Cinco minutinhos, mama... — ele se vira para o outro lado, arrancando de mim uma risada fraca. Começo a fazer cócegas até ele soltar uma alta gargalhada. — Mama... não... Para...

— Só paro quando o mocinho levantar — ele pula no meu colo e me abraça pelo pescoço. — Bom dia, meu amor... — ele encosta o nariz no meu.

Levanto-me com certa dificuldade. Ele já não era mais tão pequeno, o que dificultava carregá-lo no colo, e minhas costas me lembravam disso, mas eu preferia ignorar a dor por alguns momentos. Meu celular começa a tocar de maneira insistente, me obrigando a deixá-lo no chão para atender.

— Agatha Harkness falando...

Mais uma emergência. Era impressionante como, mesmo com uma equipe enorme e bem treinada, eles ainda precisavam de mim para resolver algumas coisas. Já sentia que o dia me causaria uma dor de cabeça imensa e me custaria dever mais um favor à Maximoff.

— Certo, estou a caminho... — Deixo o aparelho sobre a pia do banheiro, recebendo um olhar de reprovação de Nick. — Não me olhe assim, eu não tenho escolha.

— A Tia Wanda vai me levar para a escola? O carro dela fede a Cheetos. — Dou uma risada ao ver a expressão de desgosto no rosto do menino.

— Vamos lá, príncipe Nicholas, sua mãe já está mais que atrasada.