LUGAR 2: Onde ela trabalha.

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Daaron partiu naquele mesmo dia em direção à Terra. No caminho, já estava planejando como iria se sustentar, onde iria dormir, onde iria comer, como iria resistir àquele lindo rosto arredondado, aqueles olhos amendoados, o sorriso apaixonante, os cabelos curtos e volumosos, a silhueta perfeita, a voz aveludada, o abraço quente, os lábios gelados, as mãos suadas...

(Daaron se aproxima da portaria do centro de distribuição de cosméticos).

- Então, Sr. Daaron, se eu lhe contratar, seria esse o seu primeiro emprego? - disse o dono do estabelecimento.

- Isso, Sr. Petterson, meu primeiro emprego.

- Com 27 anos? Você fazia faculdade?

- Isso é o que se espera, quando se tem uma família milionária.

(Daaron tosse, desconfiado).

- Ah, sim, com certeza, vindo de família rica, geralmente não precisa trabalhar cedo.

(Petterson olha para o lado, desconsertado).

- Enfim, eu posso fazer qualquer coisa aqui, para poder adquirir experiência em algo.

- Não se preocupe, Daaron, nós da DisonLog não temos problema em treinar alguém. Todos são bem-vindos. E caso você se dê bem, pode ser promovido.

- Muito obrigado, senhor, estou focado em conseguir um emprego para pelo menos alugar um quarto. Sou novo por aqui.

- Ah, então você não é daqui?

- Não, inclusive, minha família disse para eu dar um jeito na minha vida.

- Entendo, Sr. Daaron, mas o senhor é de qual lugar?

(Daaron fica meio receoso de dizer sobre seu lugar de origem, sobre o passado e sobre a sua família de verdade).

- Sou de Saint-Germain-des-Prés, Paris. Lugar movimentado, então não estou acostumado com lugares pacatos.

- Poxa, acostumado com a riqueza mesmo, não é?

(Petterson olha admirado para o rapaz).

- Bom, Daaron, vou lhe dar um emprego agitado. Vai ficar com as entregas. Vi aqui no seu currículo que possui carteira de motorista, certo?

- S-sim, possuo sim...

(Daaron começa a suar diante das mentiras que colocou no currículo).

- Ótimo, e caso não conheça alguns bairros, pode acessar livremente o celular.

- Sr. Petterson, eu não tenho celular...

- Sem problemas, pode usar o corporativo. Só tenha cuidado com ele e com o que vai pesquisar nele.

(Daaron nunca tinha usado um celular sequer na vida).

- Muito obrigado, senhor!

Nesse momento, entra pela porta, ela. Christine. Daaron olha apavorado em sua direção, deixando cair o celular.

- Daaron!

(Petterson segura desesperadamente o celular, impedindo a queda).

- Desculpe, senhor! Mas... essa moça, ela trabalha aqui?

- Ela deve trabalhar em um dos quiosques espalhados pela cidade. Você a conhece?

- Só de vista, senhor.

- Bem, Sr. Daaron, vou deixar o senhor se habituar ao local. Pode começar hoje mesmo. Já havia alinhado o salário na descrição da vaga, então, mais alguma pergunta?

- Não, senhor, fico agradecido pela oportunidade.

- Bem, aqui estão as chaves da moto. E cuidado com ela, e o celular!

- Tudo bem, senhor!

(Daaron se afasta desnorteado, seguindo a moça até o fim da sala).

- Ai, ai, esse menino - diz Petterson, balançando a cabeça.

No fim da tarde daquele dia, Daaron estaciona em um café próximo à empresa. Christine passa ao seu lado e se abaixa para ajeitar o sapato. Ela o avista e anda em sua direção.

(Daaron treme de nervoso, coçando o nariz).

- Ei, você! Boa tarde. Me chamo Christine. Você é novo por aqui?

- Sim, hoje é o meu primeiro dia - disse Daaron, sem conseguir olhar nos olhos dela.

- Que legal, seja bem-vindo!

- E você, trabalha muito tempo aqui?

- Eu trabalho em home office, nunca tinha vindo aqui.

- Ah, sim, entendo.

- Na verdade, eu vim comprar algumas coisas, para meu chefe descontar depois do meu salário.

(Daaron olha fixamente para os olhos de Christine).

- Então, Christine, meu nome é Daaron. Você já vai? Percebi que todos foram embora para suas casas, menos você.

- Na verdade, o aplicativo do meu banco não está abrindo. E, como não tenho dinheiro em espécie, não posso ir de ônibus. Ah, percebi que você usa brinco, e eu tenho um aqui, que a minha filha não se adaptou. Se importa se eu...

- Não! Tudo bem, pode colocar na minha orelha!

(Daaron se inclina bastante, visto que Christine é de baixa estatura).

- Obrigado pelo presente. Você quer uma carona? É só me guiar durante o caminho.

- Minha mãe sempre diz para não aceitar caronas de estranhos...

- Você daria um brinco a um estranho? Então, pronto, não somos estranhos...

(D)earOnde histórias criam vida. Descubra agora