A Desavença Sangrenta.

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Espreitando-se entre a fenda da janela, Pedro passou, sentindo-se aliviado por ter finalmente deixado aquela casa. O homem suspirou, olhando para a figura imponente de Bruno em sua frente, curvado sobre a borda da balaustrada, semelhante a uma gárgula, olhando a viela abaixo como que intrigado.

Pedro aproximou-se do caçador, sentindo um pigarreio em sua garganta, o fazendo ter de conter a tosse que tentava extravasar. Ao alcançar Bruno, notou que ele observava a direção que aquela viela tomava, se seguissem o caminho da direita, iriam se aprofundar nos emaranhados de ruas, becos e estreitos de Yharnam, onde, se Pedro pudesse procurar, acharia a saída daquela cidade demoníaca e retornaria para a sua doce e velha casa em Arkális, lá no norte, onde tentaria reatar sua relação com sua antiga esposa, e se conseguisse, eles teriam uma longa noite de amor.

Já seguindo a outra direção, rumando pela esquerda, eles chegariam ao fim da viela e dariam de frente com Ponte Alta, uma imensa construção de pedra limada, rochas negras e grades de ferro escuro, magnifica, elevando-se tão alta como um colosso do mundo antigo. A Ponte Alta, muitas vezes só chamada de Grande Ponte pelos Yharnamitas, é o único meio direto de deixar o centro populacional de Yharnam e acessar o Distrito da Catedral, a parte central da cidade onde estão localizadas as principais localidades d'A Igreja do Cura, como a Grande Catedral, a Capela Oedon, a Grande Praça, a Oficina da Igreja e as instalações do Coro.

Se Frade queria respostas e ajuda, ele teria de ir para lá.

- Aonde iremos é ali! - Falou Bruno quando percebeu a presença de Pedro ao seu lado. Ele apontou para o noroeste, bem na diagonal da Alta Ponte, onde se podia ver ao longe e muito abaixo, quase em um abismo, uma segunda ponte, menos bela e mais distante, porém igualmente imponente, que parecia levar para alguma região mais baixa do Distrito da Catedral. - É depois daquela ponte que está a Tumba de Oedon, local que marquei de encontrar com o Padre Gascoigne. Ele gosta de caçar por aquelas bandas, sempre guardando o único meio de acessar o Distrito da Catedral em noites de caçada como essa.

Pedro fez uma afirmativa com a cabeça, coçando a barbar por fazer e olhando a distância que teriam de percorrer até chegar no local que iriam. Imaginou que cruzar a cidade naquelas horas, principalmente depois da experiência recente que teve de passar antes de Bruno o sequestrar, deveria ser bastante perigoso. E ainda mais, Frade teve uma dúvida em relação à fala do outro, e quis esclarecer aquilo.

- Ei! - Se pronunciou, fazendo com que o Ratake finalmente o olhasse. - Como assim, aquele é o único local de acesso ao Distrito da Catedral? Se me lembro bem, a Grande Ponte é que nos levaria até lá.

Bruno pareceu sorrir, tornou a olhar para a viela abaixo.

- Às vezes esqueço que você não é daqui...

O caçador mais velho suspirou e então, com um salto perfeito e impressionante, pulou da balaustrada para a rua, nove metros abaixo, surpreendendo Pedro, que o acompanhou com os olhos atentos. Durante a queda, Bruno segurou-se no parapeito de uma varanda mais abaixo, e logo depois a usou de impulso para chegar na calçada da viela, pousando bravamente nos tijolos cinzentos, com a bengala de prata na destra e a pistola em sua outra mão. E, no exato instante em que fez isso, Pedro pode ver que dois homens saíram de escuros pavilhões que tinham entre as casas ao longo daquela estreita rua.

Um deles segurava uma serra grande o suficiente para abrir a cabeça de alguém, enquanto o outro vinha com um facão. Eles grasnaram como cães e partiram para atacar Bruno, que nem sequer hesitou por um instante.

O caçador aproximou-se do que segurava o facão com uma agilidade assombrosa, da qual Pedro mal pode ver, e desviou do primeiro e segundo golpe da arma, abaixando-se e, com um movimento preciso, elevou sua lâmina em forma de bengala de parta com a ponta para cima, e o brilho do polido metal prateado chegou aos olhos de Pedro, que quando pode perceber, só viu o corpo do homem cair aos pés do Ratake com o apoio da bengala fincada na base do seu queixo e o restante da lâmina atravessando o topo de sua cabeça, que derramava uma quantidade grande de sangue no chão pálido.

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⏰ Última atualização: 3 days ago ⏰

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