Quinto

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"Os ameaçados de loucura começam assim: perdendo o sono".- Monteiro Lobato

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Celeste Ferraz
21 de Março de 1986

A lâmpada mal posta no "teto" balançava com o vento quente que saía do ventilador, o qual só havia duas hélices e sacolejava incessantemente. O som de seu vento parecia zombar das minhas pálpebras doloridas, as quais queria fechar e não conseguia.

Então fiquei ali encarando o teto, esperando que o sono pudesse realmente cair do céu. Entretanto, isso nunca funcionou.

Minha mente estava tomada de pensamentos e como resposta, meu corpo se mantinha como uma estatueta virada de barriga para cima. Pensava em tudo, fazendo até com que minha cabeça rodasse, mas, ao mesmo passo, não tinha nada, era tão vazia quanto uma pedra oca.

Quando meu corpo começa a doer por ficar muito tempo na mesma posição, rolo pela milésima vez na esteira, que só faltava pinicar a minha alma, de tão desconfortável. Mas não é por isso que não consigo dormir; Luna é a razão. Estava preocupada com ela, pois havia ficado para trás no dia em que invadiram minha casa.

Lembro-me de quando a encontrei dentro de uma caixa no meio do lixo. Havia outros gatinhos lá dentro, mas Luna foi a única sobrevivente. Parecia que os haviam abandonado ali para morrer, todos ensopados de cola, grudados uns nos outros.

Apesar de ser uma gatinha muito esperta, ainda era só um filhote. Não queria vê-la naquele estado deplorável novamente.

Minha garganta queimava, como se alguém tivesse arranhado por dentro. Então, ouvi minha barriga roncar.

Isso significa que preciso fumar, para que não seja tentada a comer e ter o trabalho de vomitar tudo depois.

É de praxe⁸ que substituo a alimentação pelo cigarro. Principalmente quando minha mente não dá trégua e quero deixar minha cabeça em total silêncio.

Fumo apenas para me aproximar da morte. Pois não posso fazer isso sozinha, não tenho o espírito.

Recordo-me também da primeira vez que coloquei um cigarro na boca, quase morri engasgada no primeiro trago. No início, isso era apenas um ato de rebeldia contra minha mãe, até ela descobrir e fazer um espetáculo anos mais tarde.

Apesar de começar a fumar aos treze anos não fosse uma das melhores escolhas, era a única coisa que fazia porque eu queria. Naquela época, estava entorpecida pela ideia de querer descobrir quem eu era nesse mundo.

Levanto preguiçosa e tateio a parede em busca do interruptor. Ando me esgueirando na parede, tomando cuidado.

- Porra, caralho! - xingo baixinho ao tropeçar no pé da mesa e quase cair.

Depois de mais alguns passos meio manqueta, achei o que tanto procurava. Ao acender a luz, fecho os olhos de imediato devido a claridade.

- Agora, onde acho uma carteira? - maquinava comigo. Se é que ele fuma...

Na realidade, acharia estranho alguém como ele não ter dependência em algo. Uma pessoa com tantas cicatrizes, com certeza teria muitas histórias para contar ou talvez, assim como eu, tivesse vontade de esquecê-las.

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⏰ Última atualização: Jan 26 ⏰

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