Capítulo 3- Bonequinha de Luxo

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  A semana passou rápido demais, e o pior é que Enrico e eu continuamos trabalhando normalmente no StarLuz, servindo drinques até as cinco da manhã. Nenhum de nós sequer mencionou novamente aquela proposta maluca que eu, por algum motivo inexplicável, aceitei. Fingir que somos um casal para a família dele? Que ideia maluca! Mas, enfim, cá estou eu, me preparando mentalmente para esse teatro. Sério, que tipo de gente rica precisa inventar uma namorada?

Tentei me convencer de que tinha sido apenas um momento de fraqueza. Eu estava cansada, exausta de uma noite cheia, e talvez a insistência dele e aquele sorriso bobo tenham me vencido. Mas agora, com a realidade batendo à porta, me pego questionando a sanidade dessa decisão. Uma parte de mim quer acreditar que é só uma brincadeira inocente, mas eu conheço o Enrico. Ele leva essa história a sério, e isso me preocupa. Afinal, o que vou ganhar com isso, além de uma bela dor de cabeça e talvez umas roupas caras para usar no jantar de domingo?

Entre uma bandeja e outra, eu o via do outro lado do balcão. Ele agia como se nada tivesse acontecido, mas eu sabia que aquela proposta pairava no ar. Enrico mantinha o mesmo jeito descontraído, paquerando as clientes, lançando seus olhares irresistíveis, mas sempre que nossos olhos se encontravam, ele me lançava um sorriso de canto, como se dissesse: "Você já aceitou, Lili."

A verdade é que, mesmo relutante, já tinha me comprometido. Enrico havia me convencido de que seria só um fim de semana. Um jantar em família, talvez uma saída, e depois pronto. Fim do show. E lá estava eu, envolvida nesse teatro sem ter ideia do que me aguardava.

Na última sexta-feira, enquanto fechávamos o bar após mais uma noite cheia, o assunto finalmente veio à tona. Eu limpava o balcão, tentando me distrair com a tarefa, quando Enrico, sem nem me olhar, soltou de forma casual:

— Então, está pronta para o grande espetáculo de hoje à noite?

Revirei os olhos, mas não consegui evitar um sorriso. Claro, ele não deixaria essa passar em branco.

— Ah, claro. Não vejo a hora de impressionar sua família rica e fingir que estou perdidamente apaixonada por você — respondi com sarcasmo, enquanto jogava o pano de lado.

Ele finalmente me encarou, encostando-se ao balcão com aquele sorriso convencido.

— Vai ser divertido, você vai ver. É só um fim de semana. O que pode dar errado?

Eu cruzei os braços e o encarei.

— Ah, não sei... talvez eu tropece em uma obra cara e cair de cara no chão na frente dos seus pais. Ou quem sabe eu diga alguma coisa estúpida sobre a falta de sentido em comprar iates. Isso seria interessante.

Ele riu, balançando a cabeça.

— Relaxa, Lili. Tudo o que você precisa fazer é sorrir e ser você mesma.

— O que quer dizer que eu devo agir como se estivesse desesperada por comida grátis e drinks caros? — eu retruquei, soltando uma risada irônica.

Ele deu de ombros, ainda sorrindo.

— Algo assim. Só tenta não me envergonhar, ok?

Eu rolei os olhos, pegando minha bolsa enquanto nos preparávamos para sair.

— Não prometo nada. Agora, me conta mais uma vez, por que não pode simplesmente aparecer sozinho?

Enrico suspirou, o sorriso diminuindo um pouco.

— Porque meus pais acham que eu sou um caso perdido. Se eu aparecer sem ninguém, eles vão começar com aquele discurso sobre "assumir responsabilidades" e "parar de brincar com a vida". Então... eu inventei você. E agora você é a única que pode salvar minha pele.

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