Dia 58:
Na cidade, contratei uma carruagem para nos levar até os arredores da Floresta de Savage. Durante o trajeto, aproveitei para conhecer melhor o mercenário que minha mãe havia contratado para me acompanhar. Ele era um florian, uma raça composta por seres totalmente feitos de matéria vegetal. Suas peles e músculos se assemelhavam a fibras de árvores e plantas, com folhas e raízes entrelaçadas formando seus membros. Os florianos têm olhos de um verde profundo, que parecem captar a luz como folhas ao sol, e exalam um leve aroma de resina e terra úmida.
Por mais intrigante que fosse essa composição, o que mais me surpreendeu foi seu apetite carnívoro. Aparentemente, os florianos consomem carne para obter energia rapidamente, pois as plantas que formam seu corpo absorvem nutrientes de forma mais lenta, o que os torna caçadores habilidosos e ágeis. Esse detalhe era algo que eu nunca teria imaginado, mas que agora parecia dar sentido à sua reputação de rastreadores formidáveis.
Intrigada, comecei uma conversa:
— Nunca trabalhei com um florian antes — confessei, observando seus traços vegetais e as folhas que se moviam suavemente conforme ele falava. — Como é depender da carne sendo... bem, um ser feito de plantas?
Ele soltou uma risada grave, mas não desagradável.
— Não somos tão diferentes de vocês — respondeu, com um sorriso sutil. — Só buscamos energia de onde podemos obtê-la. Nosso metabolismo é mais rápido do que parece.
Observei-o por um momento, fascinada.
— E como se chama? — perguntei.
— Sou Vazz, da Floresta do Norte — respondeu ele, os olhos verdes brilhando intensamente. — E você deve ser Yana. Sua mãe me contou sobre o que você está tentando fazer.
Assenti, sentindo a seriedade em sua voz.
— Meu marido... ele está preso. Eu preciso de toda a ajuda possível para trazê-lo de volta.
Vazz assentiu, mantendo o olhar firme.
— Já cacei criaturas e forças de todos os tipos, sou um especialista em armadilhas. Se precisar, estarei ao seu lado até o fim.
Aquelas palavras simples, mas firmes, trouxeram um pouco de alívio ao meu coração. Com um rastreador florian ao meu lado, minhas chances de enfrentar a Floresta de Savage se tornavam mais reais.
Dia 60:
A carruagem nos deixou ao amanhecer, às margens da Floresta de Savage. A vegetação era densa e a névoa rasteira encobria o solo, tornando difícil ver o que se escondia entre as árvores. vazz se movia à frente, com passos leves e o olhar atento de um caçador nato. Floriano ou não, ele estava em casa naquele ambiente selvagem.
Depois de uma hora de caminhada silenciosa, Vazz parou subitamente. Ele ergueu a mão para me alertar, os olhos fixos em um ponto à frente.
— Sinto o cheiro de algo... algo fedorento, — murmurou ele, franzindo o rosto. — Deve ser um ogro. Eles são conhecidos por fazer desses arredores seu território. E pelo cheiro, está perto.
Continuei quieta, observando enquanto Vazz se agachava, examinando o solo com os dedos. Logo, ele se ergueu com um leve sorriso e fez um sinal para que eu o seguisse em silêncio.
— Vamos atraí-lo para cá — sussurrou ele, indicando uma área com várias árvores retorcidas e uma pilha de pedras soltas. — Vou montar uma armadilha.
Vazz se moveu com uma agilidade quase sobrenatural, usando galhos caídos, trepadeiras e folhas para criar uma rede bem disfarçada sobre um fosso profundo escondido pela folhagem. Ele também preparou algumas pedras afiadas nas bordas do fosso, disfarçando-as com folhas secas. Quando tudo estava pronto, ele assentiu para mim, e ambos nos afastamos ligeiramente.
Logo, o som de passos pesados se aproximou. O ogro apareceu entre as árvores segurando um corpo de um cavalo selvagem morto em uma de suas mãos, o ogro era uma criatura massiva e musculosa com a pele cinza e cicatrizes que cortavam seu rosto grotesco. Ele farejava o ar com impaciência, atraído pelo barulho que Vazz havia feito de propósito para chamar sua atenção.
O florian começou a se mover de um lado para o outro, chamando a atenção da criatura e a atraindo para o local da armadilha.
— Ei, seu grande e fedorento saco de carne! — Vazz gritou, enquanto se esquivava habilmente das investidas do ogro. Com cada movimento, ele o direcionava com precisão para a borda do fosso. — Aqui! Venha me pegar!
O ogro rugiu, levantando o corpo do equino como se fosse uma clava que estava em suas mãos e correndo em direção a Vazz com força descomunal. Vazz deu um salto ágil para o lado no último segundo, e o ogro pisou com todo o peso sobre a rede oculta. A estrutura cedeu sob seus pés, e ele caiu diretamente no fosso. As pedras afiadas que Vazz havia colocado estrategicamente perfuraram sua pele, enquanto o monstro lutava em vão para se erguer.
O ogro soltou um último grunhido de dor, seu corpo agora imobilizado pelas pedras e raízes que Vazz havia preparado. Logo, ele parou de se mover, o ambiente ao nosso redor voltando ao silêncio.
— Impressionante, Vazz— murmurei, ainda surpresa com a precisão e a eficiência da armadilha.
Focado o mesmo foi em direção a criatura morta e com uma pequena faca arrancou um dos seus olhos.
— É o que fazemos. Ninguém conhece essa floresta melhor que os florianos, esse olho é o símbolo da minha vitória.
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Lunático pela ciência
FantasyEssa é uma historia totalmente original do universo RpgRetro a qual eu mesmo criei,talvez ao longo das postagens podem haver termos que só fazem sentido dentro do próprio rpg, se vcs quiserem eu posso criar um glossário de palavras futuramente para...