Red Shark Cosmic (Histórias do RSU)

O Infinito

Otimabraha está indo atender sua porta. Alguém bate apressadamente, sem parar, deixando o Sábio preocupado. Quando ele abre, é Alhazred.

Otimabraha nota que seu amigo parece ter ficado dias sem dormir, e isso o assusta. Ele pergunta – "Abdul... O que houve com você?"

"Eu preciso da sua ajuda, Otimabraha..." – diz Alhazred – "Para decifrar uma palavra."

Seja lá o que seja isso, Otimabraha consegue perceber o quão isso perturba Alhazred, então ele vai ajudar.

(...)

Alhazred já contou os últimos ocorridos para Otimabraha, que está em completo choque. Ele diz – "Pelos Deuses Abdul! Invocar um Demônio?!"

"Eu realmente estava desesperado... Mas agora eu tenho a minha resposta. Essa coisa é um Deus, e quer me mostrar algo." – diz Alhazred.

"É... Eu realmente acreditei que isso fosse algum Deus, no momento que ressuscitou Dullah." – diz Otimabraha – "Mas... Te mostrar o que?"

"Eu acho que só iremos descobrir, quando decifrarmos o que ele disse no nosso último encontro." – diz Alhazred – "Zadzadazrama."

Dessa vez, Alhazred não esqueceu. Ele se lembra. Ele se lembra muito bem.

É hora de começar os estudos.

Os dois Sábios começam a procurar pela resposta. Eles vão até a biblioteca de Otimabraha. Todo livro será útil agora, assim como todo símbolo e hieróglifo, manuscritos e mapas antigos, e qualquer outro instrumento de escrita. Os dois Sábios estão bem concentrados. Otimabraha está mais em condições de procurar o texto, já que Alhazred está quase enlouquecendo de raiva. Até que Otimabraha encontra algo interessante.

Ele vai até Alhazred e põe um livro que encontrou sobre a mesa, dizendo – "Eu achei, achei algo."

"O que é isso?" – pergunta Alhazred.

"É um livro sobre o Enoquiano..." – responde Otimabraha, enquanto começa a mexer nas páginas do livro.

"Acha que essa coisa falou comigo em Enoquiano?" – pergunta Alhazred – "Isso não faz sentido... Deus em Enoquiano é Elohim."

"Isso é porque não foi dessa forma que ele quis dizer..." – diz Otimabraha – "Veja... Elohim é Deus em essência, mas Zadaz, é Deus em Manifestação..."

"Então essa coisa é uma Manifestação de Deus?" – pergunta Alhazred – "Mas qual Manifestação? Como essa coisa vem de Deus?"

"Bom, aqui nós temos a palavra Zad, que pode significar tormento ou... Dor." – explica Otimabraha – "Arama poderia significar, eu estou ou eu sou. Acho que aqui podemos assumir que é, eu sou."

Então Alhazred entende, e diz – "Eu sou a Dor de Deus."

Esse é o significado de Zadzadazrama.

(...)

Está anoitecendo, e Alhazred está caminhando pelas areias do deserto, próximo a cidade. Ele olha para o céu, e já pode ver a Lua, reinando nas altitudes.

Então, Alhazred faz um ritual improvisado de invocação a Deus, recitando as palavras – "Iao Zadzadaz Adni, Zoro Relaq!"

Após isso, Alhazred espera pela chegada do Estranho. Ele está tenso, mas chegou a hora de enfrentar essa situação.

O vento fica mais forte, as areias começam a ser assopradas, o ar treme, e o Estranho aparece, diante de Alhazred.

Novamente o Sábio tem a mesma sensação de antes, um misto de terror e admiração. O Estranho é uma figura sombria, mas ao mesmo tempo radiante, com luz e escuridão infinita.

Alhazred se sente pequeno e insignificante, mas ainda encontra coragem para dizer – "O que você quer me mostrar?! Qual o significado de tudo isso?! Eu estou pronto! Me mostre!"

Então, o Estranho começa a abrir a sua boca de forma descomunal, mesmo para o seu corpo anormal. Alhazred observa tudo com inevitável estranheza e horror.

De dentro da boca do Estranho, começa a surgir uma Luz Branca e Azulada, como se viesse de um túnel escuro e Infinito, e esse túnel é a própria boca do Estranho. A luz começa a invadir os olhos de Alhazred, que vai ficando cada vez mais hipnotizado.

O Sábio tem a mesma visão do sonho e a mesma visão do Templo, mas agora é ainda maior. Ele vê o Infinito. Toda a Criação em sua totalidade. Não só a Criação, mas também a Destruição.

Alhazred viu Árvores brilhantes nascendo e morrendo em uma sucessão fracional menor do que nanosegundos, como bolhas em um oceano de infinidade. Universos colidiam, galáxias explodiam, e a matéria de reorganizava em danças cósmicas, com um ritmo impossível de acompanhar. Dimensões se entrelaçavam como fios de uma tapeçaria. O Tempo se curvava, o Espaço esticava e a Realidade se dissipava. O Infinito abria mais e mais, sem parar. Ele nunca irá parar. Nunca. A Totalidade se revelava. Uma visão que transcende o incompreensível. Este é o Conhecimento Absoluto. Alhazred está presenciando a Verdade. Pois a Verdade é o que ela é, e é o que ela não é. A Verdade existe e não existe. Isso é maravilhoso, e é terrível. Pois em meio a visão que não se acaba, começa a surgir a dor, o sofrimento, a injustiça. Alhazred está chegando na zona abissal da Verdade da Criação. A mortalidade, a fragilidade de tudo o que Existe. Alhazred vê tudo. O colapso chega a mente do Sábio. Ele não consegue processar mais tanta informação.

Alhazred começa a gritar e a chorar, dizendo – "JÁ CHEGA!!! EU NÃO CONSIGO MAIS!!! ISSO É DOLOROSO!!! ESTÁ DOENDO!!! CHEGA!!! CHEGA!!! ISSO É CRUELDADE!!! PARA!!! PARA!!!"

Agora é hora da dor. O Estranho não vai parar. Ele mantém Alhazred preso no mesmo lugar, sem poder fechar os olhos ou desviar o olhar. O Sábio não pode fugir, e não pode fazer nada. Ele não tem controle sobre mais nada.

A mente de Alhazred é forçada a isso, até que se desintegre completamente. A visão termina, e o Sábio cai no chão, gritando e chorando de dor. Ele diz – "Eu não quero mais! Eu não quero mais! Não quero mais saber! Vai embora! Vai embora! Eu imploro!"

O Estranho não está mais lá de qualquer forma. Alhazred está sozinho.

O Sábio fica catatônico, incapaz de falar ou se mover. A visão acabou, mas sua mente ainda está lá. Sua mente ainda está lhe mostrando tudo o que ele viu. E de novo e de novo. A sanidade de Alhazred, se foi. Ele fica em silêncio, olhando para o vazio e para o Infinito, para sempre. Não sobrou nada, apenas dor.

Continua no próximo capítulo...

Obrigado por lerem até aqui ❤️