* Essa história contém assuntos sobre violência doméstica, se você se identificar com qualquer ponto citado ou precisar de ajuda para você ou qualquer pessoa em uma situação parecida disque 180, não se cale.
************
Tempo, a relatividade espacial criada pelo ser humano.
Real ou inventado? Útil ou subjetivo?
Espaço, codinome ou bem, literalidade.
Desconhecido, explosivo, assustador e... irracional.
Quem somos, o que somos, onde estamos, para onde vamos e a quem pertencemos.
Tempo e música estão sempre relacionados, trazendo sentimentos que não conseguimos definir e inventamos nomes.
Sana achava que tempo resolveria todos os seus problemas. Desde a adolescência se forçando a aceitar que ela precisava casar pra fugir daquela sua realidade religiosa e pacata. Então ela se forçou a acreditar que estava apaixonada pelo cara inteligente da sua sala que queria ir pra capital, ela aceitou os toques, os pedidos e a mudança de vida apenas pra fugir e tentar ser... livre.
A mudança aconteceu e Sana pensava que tinha naquele cara um amigo. Mas, o tempo fez Sana entender que naquele momento ela só tinha a si mesma.
- Uma criança?
- Sana, já estamos ficando velhos. – Ela diz deixando o copo de café na mesa. – Precisamos de herdeiros e é algo que todos já estão fazendo na nossa idade.
- Eu não sei se... se quero uma criança. – A voz baixa de Sana ressoou pela cozinha. – Estamos no auge das nossas carreiras e...
- Você não precisa se preocupar com isso, eu vou continuar trabalhando e você pode voltar quando nosso bebê estiver grande. – Sana tensionou o corpo assim que sentiu a mão dela em seu ombro, os dedos passando pelo seu cabelo, subindo pela sua mandíbula e passando pelo curativo em seu olho. – Sinto muito pelo machucado. Deve estar doendo muito, certo? – Ele continuou fazendo Sana suspirar tremula. – Não precisa ter medo Sana, nada vai acontecer se você me ouvir. – Sana concordou com a cabeça, tentando se convencer de que o tempo resolveria aquele problema. – Vamos para o quarto?
Sana odiava aquela criança dentro de si.
Cada vez mais próxima do parto, aquele parasita a forçava a ficar em casa e abandonar seu trabalho na escola. Usando suas férias pra cuidar daquele ser que tinha tudo o que ela queria ter.
Atenção, carinho, palavras doces.
Sana se sentia amarga por ter inveja de algo que nem consciência tinha.
Seu parto foi duro, voltado completamente para o bem-estar do bebê. Ignorando sua dor, o marido não estava nem ao seu lado quando lutava com as contrações, com atenção voltava totalmente ao nascimento do bebê, ele ficou ao lado do médico cada segundo.
Sana se lembrava de ouvir um "boa garota" no fim de tudo. Seus olhos cheios de lágrimas, a boca seca e o suor brilhando na testa pelo esforço. Ela se recordava de sentir sua maca se levantando um pouco e de um embrulho ser colocado em seu colo. O rosto nada parecido com ela, grande e brilhante tomaram a atenção de Sana por alguns segundos. Os olhos fechados, o cabelo preto ralo e as bochechas gigantes.
Sana deixou um suspiro tremulo sair enquanto sentia a fisgada pela saída do leite.
- Querida. – A voz da enfermeira fez Sana desviar o olhar do bebê. – Ela precisa de um nome.
A mente de Sana voltou para os seus 16 anos, ela estava deitada na grama olhando o pôr-do-sol ao lado de uma garota que ela tentava esquecer todos os dias.
- Qual nome você daria pro seu bebê se fosse uma menina? – A voz doce de Tzuyu fez Sana tirar os olhos das nuvens e olhar pra garota deitada ao seu lado.
- Hm, acho que... Minji.
- Minji? É um bom nome. – Tzuyu respondeu sorrindo. – Mas, acho que teríamos uma briga porque eu prefiro Dahyun.
- Dahyun? – Sana perguntou fazendo uma careta.
- É, significa grande e brilhante. – Tzuyu continuou rindo. – Como o que eu sinto por você.
- Dahyun. – Sana respondeu para a enfermeira. – Ela vai se chamar Dahyun.
Sana não entendia a mudança de sentimentos que tinha por sua filha. De uma fascinação absoluta a um desprezo gigantesco.
- O que eu estou fazendo?
A voz de Sana não passava de um sussurro. Ela afastou sua mão do corpo sonolento do bebê e a passou pelo rosto em sinal de frustração. Suspirando cansada, Sana se sentou na cadeira de amamentação do quarto e abraçou um dos ursos de pelúcia do quarto. O cheiro suave de recém-nascido e leite penetraram por suas narinas trazendo um pouco de conforto.
Atenta a cada movimentação do bebê, Sana sentia que estava enlouquecendo. O tempo a colocou em uma ilusão grotesca, a fazendo se apaixonar pela criança doce e animada que tinha, e continuar aceitando cada segundo de sua vida pela nova parte que tinha de si pelo mundo.
O marido de Sana era um bom pai....
Ajudava Dahyun com a escola, sempre presente em todos os momentos mais importantes da menina com presentes, agrados e presença. Infelizmente para Sana, ele sempre esteve ali desde o começo.
.... mas, ele era um péssimo marido.
Esperto e cruel o suficiente para deixar as marcas agressivas em lugares que ninguém daria atenção. Agressor e controlador, fazia questão de diminuir qualquer conquista e a machucar a cada erro ou atraso.
Com o tempo, o desprezo pelo bebê que carregava dentro de si se tornou carinho e desejo por outro. Da gravidez até os 6 anos de Dahyun, momentos de paz que colocaram Sana em um universo de felicidade genuína. Quase 7 anos onde ela passou a acreditar que tinha feito a escolha certa na adolescência e que nada mais a machucaria.
Porém, o primeiro tapa em 7 anos por atrasar o jantar alguns minutos a fizeram acordar para a realidade.
Felizmente, ele nunca a agrediu na frente de Dahyun. Muito pelo contrário, ele fazia questão de se colocar como um anjo perfeito na frente da filha.
Sana não tinha uma família boa, então pra ela Dahyun ter um pai bom era o suficiente para que ela ficasse.
Mas, o tempo fez com as coisas mudassem mais uma vez.
Dahyun não se lembrava de quando começou a perceber coisas estranhas em sua família. Ela achava que tinha 13 anos quando viu pela primeira vez as marcas que Sana tentava esconder. Ela se lembrava vagamente de quase sempre ver sua mãe com algum tampão no olho, algo que era normal aos seus olhos se transformaram em um terror assim que viu o olho roxo por baixo do curativo.
Ela sabia que Sana estava mentindo quando disse que havia caído e aos poucos seus olhos e ouvidos foram se abrindo para a crueldade que seu pai fazia.
Dahyun viu sua mãe morrer aos poucos, cansada demais para resistir e traumatizada pelo tempo, Sana se negava a ir embora mesmo que sua filha implorasse.
- Mamãe... – A voz baixa de Dahyun fez Sana abrir os olhos na banheira.
Sana suspirou cansada vendo sua garota com os olhos marejados e finalmente deixou as lágrimas pesadas caírem. Ela se sentia tão culpada por deixar sua filha saber sobre as coisas que passava.
- Me perdoe por você ter ouvido, meu bem. – A voz falha e chorosa de Sana fizeram Dahyun deixar um soluço sair.
- Mãe, por favor...
- Eu não consigo, meu amor.
Dahyun nunca confrontou o pai, o medo de piorar a situação a assombrava, ela também nunca pediu ajuda já que da primeira vez que tentou sua mãe surtou a deixando assustada.
Dahyun sempre se perguntava como um homem tão doce como seu pai poderia ser tão ruim.
O tempo não explicava isso.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cravo com canela • SAHYO
FanfictionComo prof. de piano, para Jihyo era raro ter algum adulto como aluno, mais raro ainda que ele quisesse aprender para tocar na festa de 15 anos de sua filha. Já para Sana a única coisa estranha era os sentimentos que nutria pela sua professora de pia...