Eu não aguentava mais aquela sensação. O aperto constante no peito, as noites em claro, com medo de que o pior acontecesse.
Eu precisei fugir.
A chuva dificultava minha visão. Não sabia se ficava agradecida ou irritada com a tempestade repentina. Era noite, o que tornava tudo ainda mais difícil de enxergar, mas talvez a chuva estivesse me protegendo. Se não fosse por ela, os lobos que habitam a floresta já teriam sentido o cheiro do sangue escorrendo dos meus ferimentos, e sabe-se lá o que poderia ter acontecido.
Já estou caminhando há horas. Eu deveria ter encontrado a estrada que passa por aqui perto. Estou perdida? Não, não pode ser. Meu coração acelera com a ideia, e minhas pernas estão ficando fracas. Os ferimentos pioram a cada passo, e as quedas frequentes só agravam a situação. Quase sem esperança, meus olhos se fixam no vasto céu chuvoso. Por entre as copas das árvores, consigo vislumbrar o topo de uma construção imponente.
Me aproximo, intrigada. Parece um castelo em ruínas, abandonado no meio da floresta. Uma pena, ele deve ter sido magnífico em seus dias de glória. No entanto, é melhor passar a noite lá do que na chuva. Pela manhã, eu encontraria o caminho de volta para a estrada.
A grande porta da frente range estridentemente ao ser aberta. No entanto, assim que cruzo para dentro, algo parece errado. Todo meu corpo estremece, e uma sensação estranha de estar sendo observada me invade.
— Só o que me faltava... estou ficando louca — murmuro para mim mesma.
Relutante, dou mais alguns passos. O interior é surpreendentemente limpo,comparado com o esterior. Há algumas teias de aranha aqui e ali, mas, ainda assim, a vista é deslumbrante. Um grande salão se estende à minha frente, cercado por portas, com uma imponente escadaria no centro. Ela sobe e se divide em duas direções no topo,e como se fosse algo magnético,meus pés se movem sozinhos em direção a ela.
E então que um trovão ecoa pelo castelo, fazendo o lugar estremecer. A luz do relâmpago ilumina o ambiente por uma fração de segundo, mas o suficiente para eu jurar que vi uma figura no topo da escada. Recuei, com o coração disparado. Era isso? Eu estava realmente enlouquecendo?
— Quem está aí? — As palavras escapam trêmulas dos meus lábios.
— Eu é quem deveria fazer essa pergunta. Afinal, foi você quem invadiu minha casa — uma voz masculina e rouca ecoou pelo ambiente. Por um instante, senti minhas pernas fraquejarem. Foi preciso toda a minha força de vontade para não cair de joelhos.
— Sua... casa? — foi tudo o que consegui dizer.
— Sim, minha casa. E você a invadiu.
— Antes que eu pudesse reagir, um homem surgiu à minha frente. Pele pálida, cabelos longos e negros como a noite, roupas elegantes e escuras. Ele era alto, com olhos de um castanho avermelhado que pareciam brilhar no escuro. Estava perto, perto demais, e eu nem percebi de onde ele veio. — Vou perguntar só uma vez, e é melhor você ser honesta comigo: quem é você e o que está fazendo aqui? — Sua voz era rude, com um tom que soava estranhamente inquietante,quase sedutora.
— Eu... me perdi. Estava caminhando pela floresta e, de repente, começou a chover forte. Acho que me desviei do caminho. Eu não sabia que aqui era sua casa, pensei que estivesse abandonada. Perdão. — Minhas mãos tremiam levemente enquanto eu falava,não revelando toda a verdade,não havia motivos para fazer isso,não pra um completo desconhecido.
Antes que ele pudesse responder, virei-me rapidamente em direção à porta. Minhas mãos encontraram a maçaneta, pronta para sair.
— Mas, nesse caso, já estou de saída. Desculpe pelo inconveniente. — Mal consegui abrir alguns centímetros da porta quando ela bateu com um estrondo. A mão dele, firme na porta sobre o meu ombro, a mantinha fechada. Olhei para ele, encurralada contra a porta.
— Você acha que vai ser tão fácil assim? Invadir minha casa e sair como se nada tivesse acontecido? — Ele riu, e o som ecoou ao redor do salão. — As coisas não funcionam desse jeito. Como posso ter certeza de que você não é uma caçadora? Uma espiã que veio me observar e depois voltará para tentar me matar?
— Caçadora? Do que você está falando? Por que eu iria querer te matar? — Minha voz saiu trêmula, mais doque o esperado.
— Você realmente não sabe quem... ou melhor, o que eu sou? — Ele parecia intrigado, quase curioso,quando perguntava olhando pra mim.
— Não…eu nunca vi você em toda minha vida,como eu deveria saber quem é você?
— Interessante, muito interessante — ele comenta, me olhando de cima a baixo como se eu fosse uma presa. Aquele olhar me assustava e, ao mesmo tempo, despertava em mim um sentimento que eu ainda não conseguia identificar.
— Bem, vejo que você está ferida. Seria muito rude da minha parte deixar você partir assim, sem nenhum tipo de cuidado.
— Não se preocupe, eu vou ficar bem... de verdade.
— Eu insisto. Não precisa ter medo de mim. Algo me diz que teremos muito o que discutir daqui pra frente. — Sem esperar pela minha resposta, ele segura uma das minhas mãos e me conduz para uma das salas internas do castelo. Diferente do salão anterior, essa estava iluminada por tochas e uma lareira crepitante no canto. Ele me pede para me sentar em uma das poltronas no centro da sala, e eu obedeço, incapaz de recusar. Ele se afasta por um momento e, quando retorna, está com alguns curativos e antissépticos nas mãos. — Posso? — ele pergunta.
Eu apenas aceno com a cabeça, e ele começa a limpar os ferimentos nos meus braços. Eu não sabia por que estava permitindo aquilo, nunca deixei ninguém se aproximar de mim... então, por que deixava ele?
— Como é seu nome? E por que está me ajudando? — As palavras escapam dos meus pensamentos antes que eu pudesse contê-las.
— Vlad. Você pode me chamar de Vlad. E o seu? — Ele se afasta um pouco quando termina de limpar os arranhões nos meus braços.
— Aslyn Thorne... mas as pessoas me chamam de Lyn.
— Lyn... é um nome bonito.
— Obrigada... Vlad também é. Mas você ainda não respondeu. Por que está me ajudando? — Ele ri suavemente.
— Porque você é minha agora, princesinha. E eu não gosto de ver nada que é meu machucado. — Ele cruza os braços sobre o peito enquanto fala, como se suas palavras fossem a coisa mais óbvia do mundo.
— Sua? Do que você está falando? Você está ficando louco? — Eu me levanto abruptamente e começo a caminhar em direção à porta, mas, antes que eu possa sair, ele já está na minha frente. — Isso é impossível... como?
— Vamos, minha querida, você é mais inteligente que isso. Sabe a resposta para sua própria pergunta — ele se inclina para mais perto, revelando presas afiadas. Seus olhos se tornam de um vermelho carmesim intenso, mas logo voltam ao habitual tom castanho avermelhado. — Não se faça de boba. Eu sou um vampiro, e você sabe disso... ou pelo menos deveria. Afinal, quem, em sã consciência, entra no meu castelo, no meio de uma floresta isolada, e espera que nada aconteça? Por favor, não me diga que você é tão inocente assim.
— Vampiro? Não... isso não é possível— tento me virar para correr, mas, antes que eu possa fazer qualquer movimento, sinto suas mãos sobre mim e, então, tudo fica preto...
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TRANSILVÂNIA
VampiroEm um mundo de Vampiros e caçadores, bruxas e monstros, podia o rei dos vampiros se apaixonar? e se sim...seria uma boa ideia? ninguém sabe, segredos e conflitos sem ocorrem, resta saber se tudo acabará bem,ou em desastre