capítulo 1

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- Dois buquês de margaridas e um de girassóis 

Corto uma tira da fita e a enrolo em volta dos caules do maravilhoso buque de girassóis  formando um laço , me afasto e admiro o trabalho , aquele buquê concerteza combina com a noiva sorridente e radiante que veio hoje de manhã o encomendar . Ela me disse que iria fazer um pequeno casamento no fundo de sua casa para seus pais e os pais do noivo .

 Eu amo meu trabalho

Uma das coisas que mais invejo dos nossos clientes é a felicidade , aquele sentimento de se sentir especial e importante . As flores murcham mas o sentimento continua, eu me pergunto se algum dia vou sentir a felicidade genuína novamente. O dia passa lento, começando a nevar, uma floricultura não tem tantos clientes a não ser em encomendas para casamentos o que nâo acontece com frequência por aqui .

- No que esta pensando tanto?

Olho pro lado e vejo Izy descansando o rosto bem maquiado na palma da mão, me olhando do balcão.

- Estou pensando no porque de você estar maquiada as seis da tarde 

Ela ergue uma sombrancelha bem feita e nâo se dá ao trabalho de responder apenas empurrando um pratinho em minha direção com docinhos. Estendo a mão e  pego um punhadinho de doces , me sento em um banquinho no lado do caixa colocando um docinho na boca.

uau

- Caramba, a onde você comprou esses doces?

- Bons , né? - ela folheia uma revista - o Alex gosta então eu compro as vezes, e bem perto daqui , acho que uns quatro quarteirões daqui......

- E como o Alex está?

Alex é o filho da Izy , ele tem 5 aninhos , ele já veio aqui umas três vezes e eu e ele nos tornamos praticamente melhores amigos ele até me chama de tia. 

- só uma gripezinha ......

Olhamos pro topo da escada simultaneamente a tempo de ver Marnie descer as escadas . Indireito a coluna e finjo analisar um vaso ao mesmo tempo que Izy finje contar o lucro de hoje.

- eu vou sair , alguma de vocês feche a loja.

Nada de boa tarde ou boa noite apenas isso. Assentimos e ela sai da loja deixando o perfume enjoativo dela no ar. 

- Eu ainda aposto na historia da lésbica - diz Izy ligando o condensador de ar.

Marnie é nossa chefe de 55 anos que age como se tivesse vinte, usa roupas coladas e decotadas e salto alto toda vez que sai. Izy fez uma teoria de que ela e uma lésbica não assumida que vai pra boates gays. Eu disse que ela pode apenas ser uma viúva que agora que o marido morreu quer curtir a vida.

Mas devo confessar que espero que a teoria de Izy esteja certa .rio.

- Sei......- Izy verifica o relógio de pulso- pode deixar que eu fecho a loja

- Que?...não eu fecho a lo-

- O Alex tá te esperando vai lá

Ela sorri e se aproxima com os braços abertos.

-Obrigada

Ela me envolve em um abraço de urso e respiro o perfume característico de seus cabelos.

- De nada , diz pro Alex que a tia favorita dele tá com saudade

Ela ri, nos despedimos e me sento no banquinho folheando uma revista . Muitas pessoas acham que floriculturas são paradas a noite mas sempre tem aquele cara que quer comprar um buquê para algum encontro ou noivos para comprar flores para o aniversário de casamento.

Fico na loja por mais umas três horas , vendendo uns três buques e uma sacola com petalas de rosas de ultima hora .Pego minha bolsa e meu casaco , apago as luzes e tranco a loja. suspiro sentindo o alivio tomar conta de mim quando o ar noturno e gelado chega ate mim, a neve caindo. vou ter que ir rápido eu não trouxe luva nem cachecol.

Os risos de crianças me chamam a atenção, olho pro lado e vejo umas crianças construindo um boneco de neve, os pais tirando fotos e sorridentes........Aquilo me traz lembranças , lembranças a muito enterradas e que são dolorosas de lembrar mesmo após 2 anos daquela noite.

Henry........

Isso deve ser fome, é exatamente isso. Como se fosse uma deixa meu estomago ronca. Olho pela rua e vejo o letreiro elegante " hell's paradise" , aperto o casaco em minha volta e desço a rua devagar, agora mais longe da cidade movimentada, as ruas estão silenciosas . Uma van preta desce a rua devagar.

Eu já vi filmes de terror suficientes para saber que  uma van preta não e bom sinal .

Acelero o passo , mas parece que não era preciso porque a van estaciona em frente a confeitaria. Suspiro aliviada, andar com a Izy tá me deixando paranoica .Empurro a porta e entro.

A loja é reconfortante , em tons pastéis e aconchegantes, as cadeiras são estofadas e tem um espaço para guardas bolsas e um lugar pra leitura, e ainda tem o cheirinho de pães doces. Mas o que me chama atenção não é nada disso e sim o cara moreno ,alto e musculoso atrás do caixa que está com o telefone na mão o segurando com tanta força que não sei como ainda não quebrou.

Fico paralisada com sua beleza rústica , até que ele levanta a mão e parece que vai jogar o celular na parede, e melhor eu impedir antes que ele se arrependa.

- hum......com liçença? ainda tem pães doces?

Ele se vira pra mim e...porra, os olhos dele são como folhas , mas me causam um arrepio pela raiva e coisas ocultas que eles contém.....

 eu prometi  a mim mesma que não me envolveria com caras assim de novo.

blooming amid chaosOnde histórias criam vida. Descubra agora