PLAYBOY
[PÁGINA NÚMERO 2]
25/11/2024Abra a porta, você pode abrir a porta?
Sei que você já disse antes que não aguentava mais
Me disseram que era guerra, que me mostraria o que me espera
Espero que não seja definitivo, você pode abrir a porta?Chihiro, Billie Eilish.
Abram as portas.
As portas do inferno, as portas daqueles que caem em desgraça, daqueles que dançam com o diabo e daqueles que, finalmente, aceitaram a maldição que lhes fora designada. Seria uma estupidez acreditar fielmente que, agora, mais do que qualquer pecado seu, ele iria para onde Deus queria que fosse?
Como se tivesse sapatos de chumbo nos pés, ele deslizava em meio às bolhas de água em direção à vastidão das águas. Tudo parecia muito distorcido em sua visão, como se suas raízes, tão fincadas nas terras profundas e escuras que o prenderam sobre a terra firme, estivessem finalmente se partindo em pedaços.
Mas ele não queria que elas se partissem.
Será mesmo que, em um mundo onde habita o sal das águas e o doce dos céus, ele tivesse escolhido logo se afogar no mais profundo oceano? Sim. E agora, ele estava prestes a se sufocar. O fogo que lhe fora permitido eterno acabara de começar a borbulhar, pronto para jorrar o seu sangue e se apagar em meio à vastidão das águas profundas.
E, a cada segundo que passava, ele se questionava para onde estava indo.
À medida que descia, descia e descia, os sussurros começavam a aparecer:
Traição. Eu sou um vagabundo.
E talvez ele realmente fosse. Afinal, uma palavra só faz sentido para alguém quando se atribui um significado. Diante disso, ele teve certeza de que não importava quantas vezes se afogasse, se alguém o enforcasse numa forca, queimasse-o vivo numa fogueira, nenhuma chama jamais o queimaria mais do que sua própria rejeição.
Que porra é essa?
Seus pés continuavam fincados no chão, colados contra a superfície que mais se assemelhava a uma areia movediça em meio a uma névoa profunda. Naquele momento, não havia nada além de pessoas à sua volta dançando de um lado para o outro, e foi nesse momento em que ele percebeu o quanto estava doente por dentro.
Dançando? Não tem felicidade nenhuma aqui, seus filhos da puta.
O que é felicidade para você? É a liberdade? Mas quem te prende: o mundo ou você mesmo? Dói, eu sei que dói, querido, mas você terá que aceitar antes que as bolhas de água embacem sua visão mais do que a própria névoa. Antes que o seu vazio te afunde mais do que as suas raizes te prenderam por tanto tempo, mesmo em solo firme.
A cada segundo que se passava, ele podia jurar que estava conhecendo o inferno.
Alguns acreditam fielmente que ele é quente, denso, encapuzado em fogo e lava, um lugar onde você permanece trancafiado. Dizem que o belo só pode ser visto num reflexo ilusório de sua alma projetado nas nuvens, mas que, dependendo, se forem avermelhadas, repartirão contigo a mesma cor do sangue da sua morte.
E diabo havia o matando da pior maneira possível.
O chumbo havia se aderido à areia densa e grossa onde ele havia caído. Dessa vez, sua dor não vinha dos músculos ou da sombra de alguma ferida, mas da vulnerabilidade silenciosa que murmurava barbaridades em sua alma.
Demoramos a nos lembrar que temos uma. Demoramos a descobrir que, além do desejo carnal do prazer, também temos uma faceta que não podemos ver, nem tocar e, consequentemente, não podemos alterar.
Alma?
Ser o homem escolhido para a pior maldição que poderia existir era como se questionar: o que fiz em minhas vidas passadas?
Aquele vagabundo o fizera acreditar em espíritos, em carmas, em pecados e em toda a putaria que ele costumava dizer que era uma piada. Nunca havia perdido sequer um segundo de seu tempo pensando em palhaçadas tão esdrúxulas como aquelas. E agora, enquanto se dirigia ao seu abismo, conforme ele se aproximava, Jungkook preferia acreditar que seu amado era um espírito.
Mas... se eu não puder mais tocá-lo... é desesperador.
Mais do que desesperador, era estranho. Esquisito. Era bizarro, poderia dizer. Jungkook não queria tocá-lo e, de forma honesta, ousaria dizer que até sentia nojo daquilo.
Mas... ele queria tê-lo para si.
Aquela coisa no homem que caminhava em sua direção, aquilo que ele não conseguia entender, e talvez nunca entendesse, refletia uma parte de si. Era como um espelho estilhaçado que o seguia, e ele não podia negar, correr, não podia fazer desaparecer.
Não conseguia identificar. Talvez fosse um granito caindo dolorosamente sobre sua cabeça. Ou então uma chuva negra. Mas era nojento, era repulsivo.
Mas...
Sempre tem um "mas", não é mesmo? Mas, a partir daquele momento, ele decidira que não haveria mais "mas". Precisava confessar e admitir: era isso. Ele era muito esquisito e nojento.
Contudo, aquele homem era o tipo de nuvem de sangue que se transforma em um furacão destruidor de lares e causa massacres. Agora, ele havia assassinado o último resquício de esperança que Jungkook ainda tinha.
A ponta da agulha que destrancava a fechadura da gaiola de sua alma tocou suavemente sua pele, como se fosse um milhão de espetos macios por fora, mas pinicantes por dentro. As mãos dele eram tão macias. Seu coração prometeu parar por um milésimo de segundo, como se quisesse se enterrar em sua traqueia, descer por seu corpo, e, então, por um segundo, não havia nada dentro de si além da escuridão. Absolutamente nada.
E Jeon nunca havia parado para perceber aquilo.
Mesmo assim, o diabo havia sido maldoso o suficiente para deixá-lo vivo, mostrando que ainda havia um abismo entre sua mente e sua alma. Será que aquele desgraçado ainda tinha algo a destruir dentro de si, além de seu espírito?
Corra, algo dentro dele gritou.
E foi o que ele fez, pela primeira vez na sua vida.
Pois, mesmo que a porta da gaiola esteja aberta, talvez você não queira sair.
#PLAYBOY #coelhinhosedutor
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FanficJeon Jungkook era a encarnação da popularidade desmedida, um jovem imprudente que gastava seus dias entre festas e excessos, extorquindo cada oportunidade que o acaso lhe concedia. Entre multidões e baladas lotadas, apenas um rosto o irritava profun...