A curiosidade.

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Mais uma vez, se questionava se a decisão que havia tomado fora carregada da mais pura e
ingênua tolice. Era mais do que óbvio que iria torrar cada resquício de paciência que lhe sobrava, visto que havia acompanhado cada fase de sua vida como um mentor, mas nem no inferno havia passado por uma tortura tão grande. A teimosia já não era mais infantil, visto que possuía agora seus dezessete anos e um longo e cacheado cabelo dourado que mais disfarçava a peste que havia se tornado.

Realmente, aquela birra toda não fazia parte de sua personalidade. Já a curiosidade... ah... ela sim carregava suas ações. Suas travessuras impulsivas que, na maioria das vezes, a colocavam em apuros com seu pai e madrasta. Mas quem disse que ela se importava? Não dava a mínima para as repreensões quando praticamente voava por aí, saltitando como um canguru. Isso quando as fadas não simpatizavam e decidiram que dar aulas de decolagem pelo jardim. Era um saco ter que escalar aquelas árvores enormes quando ela se agarrava aos galhos como se fosse um maldito esquilo. Era um saco ter que voar atrás dela e prendê-la em seus braços quando seus poderes saíam do controle.

Desejava deixá-la naquela altura, para que aprendesse uma lição. Para que não se enfiasse no que não sabia lidar. Se ele conseguisse dizer não, até que era uma ótima ideia, se a carinha assustada e mais semelhante a um cachorrinho que caiu da mudança não possuísse efeito sobre o endiabrado.

"Por que você não nos deixa interferir?" Eram as questões que soavam como um mosquitinho chato em sua cabeça. Mal sabiam fazer os próprios deveres sem perder a cabeça. Há! Tal como uma piada ruim, sua resposta nunca mudaria. "Porque eu sei o que estou fazendo. E se confiasse tão bem em sua habilidade, não me chamaria para fazer o seu trabalho, certo?" E então eles se calavam.

Não era como se a educação dela fosse algo terrível. Ela era bem sociável, até. Corria risco de ser sequestrada, por não ver maldade em seres horrendos ou até humanos comuns, que eram os piores. Estava para nascer alguém mais humilde do que ela. O problema era que não conseguia aceitar as novas regras que vinham junto com as responsabilidades de ser uma princesa. Ainda que, desde nova, tenha que conviver com as ideias bárbaras dos duques e da realeza, em que assim que fosse um pouco mais velha, se tornaria apenas mais um peão para aqueles jogos sádicos de casamento.

Era bem claro que tudo não se passava de uma lavagem cerebral. Todas aquelas moças, que desejavam apenas uma vida na realeza, não sabiam da metade das leis e das mil regras que seriam obrigadas a seguir. O tal "principe encantado", na maioria das vezes não passava de um velho gordo ou tarado, com opiniões mais antigas do que a própria época. Lembrava bem de suas primas, infelizes, que nunca mais viu pós um noivado assustador de tão miserável, que foram entregues a uma promessa interesseira. Seria capaz de concordar com algo assim e formar, mais uma vez, uma história deprimente que mal formaria uma única linha no livro da vida?

Era egoísta sentir uma vontade avassaladora de voar para longe, tal como os anjos, livres pelas núvens e desejar nunca mais voltar para aquele lugar sombrio?

Essa adolescência, jamais desejaria para ninguém.

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⏰ Última atualização: Nov 06 ⏰

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