SEGUNDO MOMENTO

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Em casa. Até que enfim. Suspirei colocando a mochila na cadeira próximo a porta e me tranquei no dormitório, já pulando pro banheiro para tomar uma ducha.

E como sempre, tinha que acontecer algo.

Puxei o box pra fechar e percebi estar imperrado, respirei fundo e puxei de novo mas sem efeito. Fechei os olhos e contei até três, puxa vida! Só queria tomar um banho e atualizar meu amigo das novidades.

No último puxão, escorreguei e meu corpo foi pra frente, batendo de cara contra a pia. Num rompante levantei, com as mãos contra a testa.

"Não, não, não, não!"

Olhei assustada pro espelho vendo a região vermelha e choraminguei sofrida, nem pela dor e nem pelo susto, mas sim pelo galo enorme que tomava conta da minha testa. Amarrei os fios ruivos pra ver melhor e quis me enfiar em um buraco. Céus, como vou sair pra fora assim? Não, como vou pra festa assim?!

Arregalei os olhos e choraminguei mais. Precisava fazer alguma coisa.

Tentando me acalmar, entrei no box afim de banhar e após sair já vestida, toquei na testa.

Estava enorme, inchado e dolorido.

— Argh, que merda!

Peguei o celular e entrei no grupo que tinha com Lucas e Gabriele, iniciando uma ligação de vídeo.

— Taquipariu, o que aconteceu com tua testa, mano?

Foi a primeira coisa que ouvi de Lucas ao que sua risada soou forte no meu quarto.

— Hahaha, muito engraçado. — Logo Gabriele entrou também e assim como o garoto, começou a rir.

— O que houve com você, Eliza?

— Cai no maldito banheiro! É sério? Eu apenas queria tomar um banho! Um banho! Agora tô com esse gondó enorme na testa! — Apontei pro local e bufei, apoiando o celular em algum produto na penteadeira. — Como vou pra festa assim? Nem maquiagem cobre isso aqui.

— Calma Eliza, a gente dá um jeito — Gabi tentou, contendo mais o riso.

— Talvez nem o banheiro suporte você.

— Cala a boca, Lucas. — Suspirei emburrada. — Quer saber, tchau.

Sem paciência, desliguei e joguei o celular longe, abrindo a gaveta e pegando o caderno rosa, trancado à sete chaves.

Quer dizer, só a uma chave mesmo.

Abri com cuidado e peguei uma das várias canetas coloridas dispostas sobre a mesa, num potinho fofo da Hello Kitty. Passei várias páginas já cheias de textos e parei ao encontrar uma folha branca, procurei uma posição mais confortável pra escrever.

"Oi, diário.

O que posso começar falando? Sobre a festa que tenho amanhã ou sobre o galo que ganhei e tá tomando conta de toda a minha testa?

Bom, acho que vou começar pela carta que recebi semana passada. Desculpe, já faz um tempo que não venho aqui então você está desinformado sobre algumas coisas.

Então, eu ganhei uma carta de um admirador secreto e não sei como reagir a isso. É novo? Sim, é a primeira vez que ganho uma carta romântica.

Não faço ideia de quem tenha sido, só sei que a pessoa foi super fofa e educada.

Eu até senti meu coração palpitando forte, mas passou, já passou.

E durante a semana passado, trabalhamos aulas práticas no ateliê e fiz vários quadros com Gabriele, que estão expostos na sala de arte, me sinto orgulhosa da gente.

E não posso deixar de comentar também sobre esse enfeite na minha testa, oh céus, está enorme.

Sério, como alguém vai tomar banho e sai com um galo desse tamanho?

Eu.

E pra piorar, tenho uma festa amanhã pra ir.

Espero que dê tudo certo, senão, a opção de migrar pra outro país não me parece tão ruim.

Não são muitas novidades, aliás, o que uma universitária como eu teria tempo pra fazer senão estudar, estudar e estudar?

Bom, é isso, até mais."

Suspirei cansada e fechei o caderno, pondo a caneta no lugar junto ao diário.

Eram exatamente 19:54 quando uma notificação caiu.

Ué? Quem seria? Aliás, só me mandam mensagem quando a situação está próximo a óbito.

Sentei na cama pescando o celular e olhando as notificações no ecrã. Minha mãe.

Desbloqueei e entrei no chat, vendo algumas — várias — mensagens preocupadas.

Mamãe🩷
Eliza?
Como você tá? Sua testa tá bem?
Tá sangrando muito?

Hãn? Sangrando? Minha testa? Como ela sabe da minha testa? Rapidamente, comecei a digitar uma resposta.

      [Eu]
Mãe, estou bem
Como soube da minha testa?

Mamãe🩷
Lucas me ligou e disse que você tinha quebrado a testa

Só podia ser, quem mais além de Lucas e seu dom de aumentar as coisas? Ah, se eu pego aquele... ah!

[Eu]
Não se preocupe mãezinha, não quebrei nada e estou inteirinha da Silva!
Te amo❤️

Cansada e sem coragem nenhuma de descer pro refeitório pra comer, não pensei duas vezes em deitar-me depois de colocar o celular e o tablet pra carregar. 

Fechei os olhos. O barulho do ar-condicionado me incomodava, porém, não mais que meus pensamentos acelerados.

"Fechei a porta direitinho? Quanto tempo falta pro Natal? Fiz o trabalho de amanhã? Coloquei ração pro meu gato? Puxa, não tenho gato"

Apertei os olhos, tentando afastar os pensamentos inúteis e iniciando a contagem de carneirinhos.

Cinco minutos depois, consegui pegar no sono e sonhei que eu era um bendito carneiro.

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