Capítulo I

5 1 0
                                    

Para aqueles que dizem que o verdadeiro amor não existe, meus mais sinceros pêsames, porque eu, Sakura Haruno, encontrei o grande amor da minha vida.

Não é todo dia que você entra em um metrô - lotado, diga-se de passagem - e se depara com uma criancinha linda sorrindo para você. 

Ele tinha o sorriso mais banguela que já havia visto, com uma covinha no canto esquerdo da boquinha e marquinhas fofinhas no rosto. Era tão lindo que me vi hipnotizada por aquele brilho de inocência. Os cabelinhos negros e lisos, os olhos igualmente da mesma cor e as bochechinhas gordinhas e rosadas. E eu, claro, uma adoradora de crianças, precisava brincar com ele. 

Claro!  

O bebê encarou meus cabelos cor de rosa, daquele jeitinho fofo, e inclinou a cabecinha para o lado - tipo o Tarzan quando vê a Carla pela primeira vez - aquilo foi o bastante para mim. 

Meu lado xuxa falou mais alto e lá estava eu fazendo caretas, no meio do metrô, com várias pessoas me encarando como se eu fosse um ET. Mas o mais importante, eu estava ganhando gargalhadas fofinhas do pequeno.

Óbvio que o moço que segurava a criança nos braços, e que estava de costas para a minha pessoa, estranhou aquele festival de risadas e procurou pelo palhaço, que no caso era eu.

Olhos tão negros quanto os do bebê me analisaram, e era como se eu estivesse desprovida de qualquer vestimenta. Minha espinha arrepiou e pude sentir o suor de nervosismo se juntando na minha testa.

As sobrancelhas se ergueram e o homem fez uma careta de interrogação. Tipo: "quem é você, estranha?". 

Minhas bochechas sempre tiveram o dom de ficar vermelhas. É ridículo, eu sei, e naquele momento eu senti meu rosto pegar fogo e podia jurar que estava mais vermelha que um tomate.

- Eu... É que.. - gagueja aqui - É que ele.. - e gagueja ali.. - Moço-o - e vamos gaguejar mais um pouquinho. – Desculpe! - Soltei de uma vez.

Oras, eu estava nervosa, e isso é normal quando somos pegos em um de nossos momentos particulares de pura sonsice.
O que eu poderia dizer?

"- Olha, moço, seu irmãozinho é o culpado. Eu entrei no metrô toda séria me concentrando na maldita prova que vou ter hoje, e que por acaso não estudei nada, e ele, de repente assim do nada, começou a sorrir para mim. Você deveria castigá-lo por ser tão abusadamente fofo. É crime, sabia? Como eu poderia resistir? Posso levá-lo para minha casa? Prometo ser uma boa mãe.”

É claro que ele iria pensar que sou uma louca sequestradora de bebês do mesmo escalão baixo que a Nazaré Tedesco.

- Foi mau. Não resisti, ele é uma gracinha. 

O moço estranho deu de ombros e virou o rosto encarando o painel que indicava a estação em que estávamos. Levantou, trazendo junto de si uma bolsa azul de bebê e outra preta mais esportiva.

As portas automáticas abriram e lá se foi o homem - ou quase homem - da minha vida.

*8*

Assim que cheguei na faculdade, suada e toda descabelada porque, vejam só, eu me perdi no meio de uma música que escutava no fone de ouvido, e quando voltei para minha triste realidade já havia passado da estação que deveria ter descido. Saí correndo batendo nas pessoas e sendo carinhosamente xingada.

Me joguei na última carteira da sala imensa e suspirei.

- Queria estar morta!

- Aparência de um defunto você já tem, querida. - Ino, sempre tão amável, sussurra ao meu lado inclinando aquele corpo gordo para me encarar.

Nojenta.

- Não sei o que seria de mim sem os seus elogios, porca. Muito obrigada. 

A sala estava cheia. Algumas pessoas conversavam, outras dormiam, digitavam algo no celular ou estudavam. 

- Cadê a Shizune? 

- Se atracando com o Iruka na salinha da limpeza.

- E como sabe disso?

- Sakura, todo mundo sabe que a Shizune virou uma maníaca depois que assumiu o namoro com o professor. Acho que está tirando o atraso de tantos anos que ficou sem uma transa.

Em falar em transa...

- Acho que preciso tirar minhas teias.

- Também acho. Quando foi a última vez que grudou o frango?

- Não sei...

Espera aí...

Grudar o frango?

Oi?

- Grudar o frango?... Mas que porra é essa de grudar o Frango?

- Transar. Dar a pepeka. Deixar a cobra entrar na toca... Essas coisas, querida. - E ela responde lixando as unhas, assim como se usar aquele termo horrivelmente pornográfico fosse à coisa mais natural do mundo.

- Você é esquisita.

- Quem tem o cabelo rosa não sou eu, meu bem.

Ino sempre fora uma pessoa baixa, e não estou me referindo à altura. Ela tinha que tocar na minha ferida.

O que eu estou dizendo...

Ela não tocou. Não! Ela tirou o bandaid e cutucou a ferida com uma faca super afiada.

O fato é que eu nunca aceitei o fato de ter nascido com o cabelo cor de rosa. 

Que ser nessa terra tem os cabelos cor de rosa? Eu! Porque tudo de mais bizarro que existe nesse mundinho só acontece comigo. Lindo, não é?

Quando eu era apenas uma menininha, pequenininha, lindinha e com belas Marias chiquinhas perguntava diversas vezes para os meus pais por que raios eu tinha o cabelo rosa. Minha amada mamãe, tão meiga e doce, dizia que era um presente de Deus e eu deveria me sentir maravilhada. Já meu pai...

- "Porque você é adotada, pirralha. Encontramos você boiando, dentro de uma cesta num rio, e ficamos com dó. Você era feia igual a peste, com esse cabelo esquisito ai".

Claro que eu corria para o colo da minha mãe e chorava a tarde toda. Kizashi Haruno sempre foi um homem bem humorado. 

Humorado até demais para o meu gosto.

- Bom dia, alunos. - A voz de uma Shizune completamente amassada me tirou de meus pensamentos.

- Ótimo dia, né professora. - Claro que o comentário idiota veio da loira idiota.

Admito que não prestei atenção no que Shizune falava durante toda a aula tediosa. Eu estava mais interessada em visualizar em minha mente aqueles olhinhos fofinhos brilhando e sorrindo.

Dizem que amor à primeira vista não existe. Bom, eu discordo. Amor à primeira vista existe sim! E eu estava completamente, inteiramente, perdidamente, apaixonada por aquele bebê que nem sabia o nome, e sonhando acordada com um universo paralelo em que ele era o meu filho precioso.

Porque, claro, esse tipo de coisa só acontece comigo. 

Claro!
.
.
.
.
.
.
.
.

Simplesmente acontece Onde histórias criam vida. Descubra agora