— DAZAI OSAMU
Como essas vestes podem ser tão desconfortáveis? E ainda sou obrigado a dançar mais uma vez com aquelas princesas pomposas.
Suspirei resignado e observei a porta da carruagem ser aberta por um dos meus guardas. Meus pais já haviam saído, avançando em passos elegantes e ensaiados à frente. Passei em silêncio pelo grande portal, com suas estruturas rígidas e delicadas.
— Vossa alteza? — ouvi uma voz familiar que se aproximava, erguendo o olhar. Era a velha que costumava ser apenas uma intrometida em minha vida.
— Sim? — respondi, forçando um sorriso falso.
— Não pensei que você seria autorizado a vir. O príncipe estava prestes a mencionar um nome que eu detestava, então interrompi.
— Eu sei. O príncipe não iria me convidar — declarei, com uma indiferença que disfarçava meu desinteresse.
Como se eu quisesse estar presente nesse baile ridículo.A festividade revelou-se entediante, repleta de risos artificiais e conversas superficiais, cercado por um desfile interminável de vestidos brilhantes e sorrisos ensaiados. A música, embora suave e melodiosa, soava como um eco distante, mal conseguindo penetrar a névoa do meu tédio.
As princesas, essas criaturas pomposas, rodopiavam ao meu redor, cada uma tentando ressaltar-se mais do que as outras, exibindo suas joias e sorrisos deslumbrantes. Era como um espetáculo teatral em que eu não tinha interesse em atuar. Sempre um espectador, um príncipe que não desejava ser príncipe.
Quando finalmente me vi compelido a dançar novamente, a parceira que me fora designada era uma das muitas que pareciam se deleitar ao mostrar minha inaptidão. Ela girava como se estivesse em um conto de fadas, enquanto eu contava os minutos até poder me libertar daquele pesadelo social.
Entretanto, no meio de todo esse desconforto, avistei uma silhueta familiar entre a multidão e revirei os olhos. Ele me ofereceu um sorriso irritante, e eu o ignorei, voltando meu foco à princesa diante de mim. Na verdade, não me importava nem um pouco: apenas estava entediado.
Por sorte, consegui escapar alguns minutos depois e agora caminhava pelos vastos corredores em silêncio.
— Fugir não é propriamente recomendado — ouvi uma voz familiar quebrar o silêncio, sentindo seus passos logo atrás de mim. Ao me virar, deparei-me com ele: o perturbável, irritante, desgostoso, insuportável e odioso príncipe Chuuya.
— Você sabe o que acontece se o pegarem aqui nos corredores — ele afirmou, com um ar completamente hipócrita, ao que soltei uma risada desdenhosa.
-— Não fale como se se importasse com as regras, Chuuya — repliquei, enquanto ele encolhia os ombros, com uma indiferença que afligia meu espírito.
— O que está fazendo aqui, aliás? — perguntei, e ele continuou a me seguir.
— Apenas me certificando de que você não vá fazer nada contra as normas — disse ele num tom zombeteiro, e eu sorri.
— Então, está preocupado? — retruquei num tom provocativo, e ele fingiu desdém.
— Claro que não — respondeu o ruivo, na defensiva, enquanto eu relaxava os ombros e seguia em frente.
Chegamos à biblioteca, como costumávamos fazer, e ele retirou um cigarro da roupa, acendendo-o e permitindo que a fumaça se dissipasse no ar.
Por mais que eu o detestasse, ele era o único com quem podia ser eu mesmo. Embora ele julgasse, não precisava me preocupar com sua opinião - ela não me abalava como a de todos os outros, o que era, no mínimo, reconfortante.
— Então, você realmente ia ser expulso do palácio? É de se esperar, considerando que você arrumou briga com metade da corte — ele comentou. Soltei uma leve zombaria.
— Não seria a primeira vez que tentam me excluir dos bailes — respondi, percebendo um sorriso se formar no rosto dele.
— Talvez você devesse apenas parar de se meter em confusões indesejadas — Chuuya retrucou, como sempre a me lembrar das consequências de minha rebeldia e a esfregar em minha cara o que deveria ou não fazer. Era um hábito que ele sempre mantivera.
— Mas e então? É verdade os rumores de que você vai se casar? — perguntou ele. Fiquei em silêncio por um instante; ele fumou mais uma vez, deixando a fumaça dançar entre nós e misturar-se com o aroma da madeira antiga ao nosso redor.
— Talvez. Você sabe como meus pais são; um casamento arranjado não seria novidade — respondi, e ele soltou um suspiro.
— Sim, eu sei. Meus pais querem o mesmo — ele confirmou, e eu soltei uma risadinha, o que fez com que ele revirasse os olhos.
— O que há de engraçado nisso? — indagou, indignado. Um leve sorriso se formou em meus lábios.
— É que não imagino você se casando, herdando o reino ou tendo filhos, ou lidando com essas tradições que seguimos. Você está sempre quebrando as regras — respondi. Ele encolheu os ombros, sem refutar.
— É verdade que não pretendo me casar, e se for forçado, fugirei do casamento antes mesmo de beijar a dama que me foi proposta — ele zombou, divertindo-se com a ideia.
—Que tal fazermos um acordo? Quem se casar primeiro perde —sugeri, com um sorriso malicioso. Chuuya cruzou os braços e desviou o olhar, fingindo refletir, o cigarro entre seus dedos, e a fumaça ainda pairando ao nosso redor.
— Combinado, mas se você perder, terá que dançar com alguém que odeia, como aquelas nobres chatas e superficiais das quais você reclama toda semana — ele afirmou, adicionando uma punição à minha perda.
— Proposta aceita. Mas se você perder, terá que dançar comigo — retruquei, e ele fez uma leve careta de desgosto.
— Por que a minha punição é pior? — ele questionou, zombeteiro. Eu revirei os olhos, sentindo-me, por algum motivo, mais aliviado por não estar sozinho nessa situação infeliz.
Nada disso me agradava, e recostei-me na estante empoeirada, encolhendo os ombros e fingindo desinteresse. Chuuya apagou o cigarro, pisando em cima, enquanto eu observava em silêncio. Apesar do silêncio, a tensão no ar não era pesada nem desconfortável; talvez porque o conhecesse desde pequeno, já que nossas famílias se conheciam há anos, ou talvez porque ele fosse, de modo irritante, fácil de conversar.
Entre nós, sempre houve diálogos disparatados e competições insensatas, mesmo quando este assunto diz respeito a um futuro que parece sério, não consigo, de modo algum, levar isso a sério.
— Nota do autor:
Espero que aproveitem a leitura, esse capítulo foi curto, mostrando um pouco da relação dos dois em relação aos bailes, etc. Os próximos eu planejo fazer maiores, e mais bem desenvolvidos, expandindo a relação entre os dois e criando o 'relacionamento' entre eles, mas por enquanto é isso. Obrigado a você, leitor, por ler até aqui e continuar nos próximos capítulos...