Com os olhos cheios d'água, Ángel encarou o setor visitante daquele estádio cheio. A maré alvinegra permanecia os apoiando mesmo após o mau desfecho daquela partida, devotos ao time como a uma religião.
O resultado patético pesava em suas costas como nunca, mentalmente se culpava por cada erro cometido. Cada dividida que perdeu, cada vez que a bola escapou de seus pés, cada cruzamento desperdiçado.
Aquela gente apaixonada não merecia o amargor desgostoso da derrota.
A equipe corinthiana praticamente se arrastou até o vestiário, escutando os gritos vitoriosos do time da casa — gritos esses que já estavam irritantes e angustiantes ao ver dos visitantes.
Romero se sentou no banco do vestiário, encarando o nada com a visão desfocada pelas poucas lágrimas salgadas que seguiam presas nos cantos de seus olhos. O paraguaio ansiava por chorar de vez e desafogar o nó sufocante em sua garganta, mas não conseguia.
Não conseguia pela rigidez que foi ensinado a ter desde criança, principalmente naqueles momentos delicados. Ele abaixou a cabeça e encarou as chuteiras sujas em seus pés, para em seguida pôr-se a desatar os cadarços.
Uma presença muito bem conhecida surgiu ao lado do veterano. Garro encostou a cabeça no ombro de Romero, totalmente desajeitado, aparentando estar tão baqueado quanto ele.
Ou talvez, até um pouco mais, afinal, Rodrigo quem desperdiçou a chance clara de gol. A cena da bola carimbando o goleiro passava pela mente dele repetidas vezes, de jeito obsessivo e torturante.
Porra, ele poderia ter matado o jogo naquele instante. Desejou tantas vezes ter tomado outra decisão, como tocar para Yuri, que surgiu na área sem marcação alguma, — ou até ter erguido a cabeça e tentado um drible — pensou em inúmeras alternativas, que mudariam o desfecho daquela noite trágica.
Irritado consigo mesmo, o argentino rangeu os dentes, para em seguida rodear o braço no de Romero com força.
As vezes o camisa dez parecia não ter noção alguma de espaço pessoal — característica essa que constantemente divertia o capitão da equipe. Ele deixou de observar o chão e focou no companheiro ao seu lado.
O olhar de Romero quase que imediatamente desceu até a mão forte do argentino, agarrada em seu antebraço. O brilho reluzente emitido da aliança dele o lembrou de algo. Algo que embora difícil, ele fingia não notar. Algo que ele almejava que fosse mentira.
Um suspiro triste escapou dos lábios carnudos do camisa onze. Garro discretamente deslizou e enlaçou os dedos nos dele, como se silenciosamente buscasse por conforto após a eliminação do clube.
"Rodrigo..." a voz hesitante do paraguaio soou mais rouca do que o habitual, como se algo estivesse entalado em sua farínge. Ele tossiu e seguiu "...No me hagas esto" sussurrou, desviando o foco de seu olhar para a própria aliança.
Há meses o argentino bagunçava seus sentimentos com aquele jeitinho carinhoso de ser. Fazia de tudo e mais um pouco para enxergar os toques oportunos de Garro no sentido platônico da coisa. A essa altura do campeonato, uma missão praticamente impossível.
O meio-campista deixou que um risinho escapasse da boca. Não um riso genuíno, mas sim um riso mascarado, que denotava tristeza, seguido de um respirar angustiante e sufocante.
"Quédate a mi lado un poco más, te necesito" ele segredou baixinho, fazendo questão de esfregar a bochecha contra os ombros de Ángel "Necesito tener un buen amigo cerca..."
E foi naquele momento que o aperto no peito de Romero se intensificou, de jeito quase que insuportável e doloroso.
Seus olhos brilharam com as lágrimas que rolaram por seu rosto e logo em seguida pingaram em sua camisa suada. Como se acabasse de perceber — mais uma vez — que jamais poderia ter algo além de amizade com o argentino.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dúvida - Garro x Romero
FanficHá meses o argentino bagunçava seus sentimentos com aquele jeitinho carinhoso de ser. Fazia de tudo e mais um pouco para enxergar os toques oportunos de Garro no sentido platônico da coisa. A essa altura do campeonato, uma missão praticamente imposs...