O Dragão Das Estrelas

Capítulo 2: Conexões...

Com todo o respeito e autoridade de uma Imperatriz, Mirella Light fitava a imponente porta da biblioteca imperial, mas a coragem parecia querer fugir ao ver aquela entrada silenciosa e fechada. Sentia o peso de ser mãe.

A responsabilidade natural de querer estar presente na vida de Shin, mesmo sabendo que o garoto, com sua natureza e mistérios, mantinha uma distância discreta dela, mais perceptível nos últimos tempos. Afinal, não era qualquer ocasião; sua coroação estava próxima, e pela primeira vez, Shin se apresentaria aos reinos como o príncipe herdeiro, o filho dela, a figura em que muitos depositavam suas expectativas.

Mirella questionava o isolamento dele. Seria ele tímido diante dos humanos? Ou era algo mais profundo, alguma relutância em ver-se rodeado por uma humanidade que ele não compreendia ou à qual não pertencia inteiramente? Esse pensamento trazia um aperto no coração dela, um lembrete doloroso de sua dificuldade em entender verdadeiramente os dragões e o poder incomensurável que residia no filho. Por mais que fosse a Imperatriz, era, no final, uma mãe tentando penetrar na barreira entre ela e a criatura mística que chamava de filho.

Respirando fundo e engolindo a hesitação, Mirella forçou a si mesma a dar o próximo passo. - Ele é belo e forte, e o que tem de inteligência não lhe falta em coragem. Não vai se acovardar só por alguns olhares. - Com esse incentivo interno, girou a maçaneta, abrindo a porta e adentrando o vasto e escuro salão.

O ranger suave da porta ecoou, interrompendo o silêncio denso da biblioteca, um lugar que agora mais parecia um templo, cheio de sombras e mistérios. Somente o som dos saltos de Mirella quebrava aquele mar de quietude conforme ela avançava. Ao redor, os livros repousavam nas estantes majestosas, quase respirando ao seu lado, como se guardasse segredos dos séculos.

Cada tomo, cada encadernação sussurrava histórias que Shin estudara diligentemente, fossem sobre magia, política, ou mesmo as guerras que assombravam o Império das Rosas Brancas, o qual vivia em constante tensão contra o Império Carmesim. Conhecia as histórias das lutas e os mitos das terras dos dragões, principalmente da montanha onde, há dezesseis anos, sua própria mãe, o lendário Dragão das Estrelas encontrou seu fim.

A montanha, agora um terreno proibido, era assombrada por tempestades eternas e monstros que, segundo rumores, nasceram do poder residual da criatura que ali tombou. Viajantes diziam que os ventos cortavam como garras e que trovões vermelhos iluminavam o céu noturno como a própria fúria do dragão morto, um terror que ecoava mesmo em seu descanso eterno. Mirella, no entanto, sempre enxerga isso como um exagero. Para ela, as lendas não passavam de tramas inventadas para atrair curiosos e supersticiosos para a região.

Esses pensamentos cruzavam sua mente enquanto seus olhos se ajustavam à penumbra da biblioteca. A grandiosidade do espaço estendia-se acima e ao seu redor, com estantes mágicas que dispensavam mãos humanas para organizar o conhecimento.

Quando alguém pegava um livro, a magia sutil do lugar já preparava o espaço para seu retorno, e qualquer tentativa de roubo terminava em vão, a obra sumia das mãos do larápio e reaparecia exatamente no ponto de onde fora retirada, uma medida antiga e sábia do Palácio.

Ela esboçou um sorriso quase imperceptível ao lembrar da frustração daqueles que já tentaram burlar o sistema e o consideravam inútil, incapazes de entender as complexidades mágicas do reino imperial. Chamava-os, em sua mente, de "ignorantes" e "curiosos patéticos". Afinal, essa biblioteca era mais do que um simples lugar de leitura.

Ali, história e poder mágico se entrelaçam, formando um santuário onde apenas o merecedor e Shin, com seu sangue e herança talvez pudesse entender a profundidade de cada palavra e cada conjuração.

Parando próxima à seção de magia avançada, ela lançou um olhar perspicaz à sua volta, tentando sentir a presença de Shin. Por um momento, a solidão daquele espaço quase, a convenceu de que ele não estava ali.

Mirella observava em volta, com os olhos fixos nas sombras da biblioteca, o peso da incerteza apertando seu peito. Estaria realmente Shin ali? A dúvida se espalhava por sua mente enquanto ela hesitava, prestes a voltar atrás. Um suspiro suave escapou de seus lábios, quase como se fosse um sinal de derrota, uma sensação de que, mais uma vez, estava sozinha na tentativa de alcançá-lo. Mas então, algo aconteceu.

Um pequeno brilho, como uma estrela distante, surgiu repentinamente diante de seus olhos, interrompendo seus pensamentos. Mirella ficou parada, fascinada. O brilho se movia graciosamente diante dela, como se dançasse ao ritmo de uma melodia invisível. Seu espírito, tão pesado de preocupações, foi, por um instante, tocado pela leveza daquela visão. O brilho rodopiava e saltava no ar, quase como se convidasse a Imperatriz a se perder naquele espetáculo efêmero.

E então, em um flash de luz suave, o brilho disparou para o topo da biblioteca. O teto, antes escuro e opaco, se transformou diante de seus olhos. Foi como se o cosmos inteiro tivesse se derramado ali, estrelas, planetas, meteoritos e nebulosas formavam um cenário espetacular, como se ela estivesse em pleno espaço sideral. Mirella ficou encantada, sem palavras, seus olhos fixos naquele panorama que nunca sequer imaginara ser possível.

Um suspiro de admiração escapou de seus lábios, e ela ficou ali, absorvendo cada detalhe, admirando a beleza única diante dela, algo que jamais poderia ter concebido em sua vida.

Mas, antes que pudesse processar completamente aquela visão, algo mais aconteceu. De repente, ela sentiu uma presença atrás de si. Antes que pudesse reagir, algo a envolveu em um abraço suave, e uma voz familiar falou suavemente em seu ouvido.

- Feliz aniversário, mãe!

Mirella ficou surpresa, seus olhos se arregalaram ao reconhecer a voz. Quando se virou, viu Shin, o jovem de 16 anos, com um sorriso leve e cheio de ternura. Ele era belo, como ela sempre imaginara. Seus cabelos, de um branco acinzentado, refletiam a mesma cor que os de Mirella, e seus olhos, de um azul profundo e com toques de magenta, pareciam carregar as estrelas que brilhavam no céu acima. Ele estava vestido de maneira elegante, como um príncipe, preparado para a grande cerimônia.

A Imperatriz, ainda um pouco atordoada pela surpresa, riu suavemente ao perceber o que estava acontecendo. - Ah, você! Agatha ajudou você a armar isso contra mim, não foi? - disse ela, com um tom afetuoso, mas um tanto exasperada, antes de abrir os braços e abraçar Shin com carinho.

Shin, sorrindo ainda mais, confirmou com um leve aceno. - Você acertou. Perguntei a Agatha o que você mais gostava, e ela me disse que adorava ver as estrelas, mas que nunca tinha tempo para isso, devido a todas as suas responsabilidades como princesa e agora como Imperatriz.

Ele olhou para o teto, seu olhar cheio de concentração. - Então, eu usei meu poder para trazer as estrelas até você, mãe. Agora, você pode vê-las quando quiser. - Ele olhou-a com um brilho de expectativa. - Você gostou do presente?

Mirella, com o coração aquecido pela surpresa, o abraçou com mais força, como se quisesse se perder naquele momento de afeto e gratidão. - Foi o presente mais precioso e belo que alguém poderia me oferecer - disse ela, sua voz embargada pela emoção.

Mas, no fundo, um pensamento persistia em sua mente. Por um momento, ela temera que Shin a estivesse evitando, que sua natureza como dragão fosse a afastar dele, que ele a desprezasse de alguma forma. Ela odiava ter pensado assim, odiava a ideia de que ele pudesse não a ver como sua mãe verdadeira.

Mas naquele momento, enquanto o abraçava, tudo aquilo parecia se dissipar. Shin não estava apenas ali. Ele estava oferecendo a ela algo mais profundo, algo que ela jamais imaginara: uma conexão verdadeira entre mãe e filho, transcendendo a complexidade de sua origem e de sua natureza. Ele era, sem dúvida, seu filho, e ela o amava com tudo o que tinha.

Continua...

Shin Light.